1/22/2011

Ruptura


Me corrompo sempre. Sou uma bomba-atômica?Um leão selvagem?Ou um rio?Nao sei. Não sei explicar o que vejo. Mas eu...vejo.
Por isso gosto das pessoas monossílabas. As pessoas-ação.
Posso não saber onde vou, mas principalmente quando não vou,sei porque não vou.
Posso explodir para você?
Me extender?
Arriar?
Me arriscar no seu vazio.Sem não te saber.
Eu quero.
Posso cortar amando perdidamente.
Posso dizer não quando quero dizer sim,
e posso rir querendo brutalmente chorar.
Eu posso.
Não te quero porque não sou.
Não te quero porque te quero.Por que não sou tudo ou só isso.
Mas eu sou.
Eu me corrompo em palavras.E se não dissesse, não precisaria cumprir tantos contratros verbais.Não precisaria responder a tantas perguntas.
E não teria que engolir tantos juramentos
que desapareceram na fumaça do diesel
deste caminho
entre os carros.

Plânctons de esperança.
Mudas de terra.Quero mudar.
Mas não mudo.
Nos olhos e no peito tenho uma cerca,
uma catraca.
Pague um pedido de perdão,
passe a roleta das emoções.
Podia fazer um voto de silêncio.
Mas não posso.
Podia me fechar em um casulo de banco único
sem passageiro, caçamba, nem bagagem.
Mas eu tenho malas demais.

Não precisaria me esconder.
Mas eu preciso.
Queimo como água viva.Por causa da transparência.
Tropeço nas minhas costas,
erro o destino nas meias palavras
depois de um abraço.

Acendo as labaredas.
Coloco fogo no coração.

E gostaria de finalmente
fugir.
Romper as raízes.
Levitar.

Mas não posso
estou muito presa
ao chão
livre para caminhar
e solitária demais
para voar.

1/19/2011

Abismal


Seu corpo na fumaça do cachimbo do pagé
Seu corpo desaparecendo
na cachoeira

essas últimas palavras mortas
meu coração parou

É um ácido
aço
duro
e mudo

difícil de transpor
nada fere
e tudo ferve

nada deseja e tudo expõe
abraça, finca
cura
uiva!

Meu coração vago
nada
como um peixe

dançando solitário
num deserto
de felpo
e calor

abismal

1/10/2011

Prateleira

A gente vai substituindo tudo.
Afetos.
Pais.
Amigos.
Não possuo nada.
Mas posso servir alguém?
Sempre.
A boa mesa tudo se deve continuar.Comer.Degustar.A vida vai atrelando suas amarras, novos fios sintéticos.Sementes de girassol atropeladas pelo petróleo.Novas máquinas motoras, corredeiras de plástico.Muita luz. Muito branco, pouca pureza.As mesmas paixões, as mesmas lanças no meu olhar.Estou na estação de trem, servindo de informante sobre as novas cidades e personagens perdidos no colorido do tempo. Desbotados. Brilhosos. Estou próxima de chegar a nenhuma conclusão. Os preços.As contas.
A caixa de fósforo.
As mesmas essências.Excessos.O cheiro de podre da atualidade.
Lavanda,jasmim e cheirinho de bebê.

O esgoto e o ralo.Transbordando.

O resto é reciclável.Reciclado.

Lavou, tá novo.

Reponho.