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Ele é grande, peludo e eriçado. Visita as consciências no início da madrugada. Oferece vinho, não oferece alimento.
É responsável pelos becos sem saída, fins de túneis e postes apagados inesperadamente.
Carrega consigo carrancas, quartos quebrados e anoiteceres alaranjados.
Ataca corrosivamente os fígados felizes e embriagados, puramente perdidos no êxtase da vida.
Assombra os travesseiros e as esteiras cheia de formigas peçonhentas.
Não acende a luz.
É cheio de tentáculos: onipotente, onipresente, onisciente. Eternamente descontente. Quando ele aparece? Quando desaparece?
É uma água-viva turvamente tonalizada, queima. Dança. Uma dança de escárnio.Pública. Um desaforo sem preço, sem apreço.
Cruel.
Ri um riso desconcertante, uma buzina de tropeço, sinal vermelho no baile mais alegre do ano.
Vestido de debutante manchado de lama.
Palhaço raivoso.
Carro atravessando a estrada vermelha.
Uma bigorna, um abismo, um maremoto.
Nuvem. Tempestade. Acidente. Cela.
Culpa: são correntes invisíveis a serem rompidas.
*Feito a quatro mãos: Ryana Gabech e Caio Cezar Mayer