3/27/2008

joaninhas em silêncio


Eu podia só ficar
guardando os seus olhos
no entanto venho colecionando
faíscas da sua fala
e ainda guardo
sua roupa
com esperança
no porão
e tudo começou
em uma conversa
oferendas
e girassol
hoje você
me bate
e arranha meu rosto
você fica se batendo
por mim
nossos restos
em um carrinho
de construção

nossas cinzas
nossos cimentos
de distância
agora
são arremessos
e facas
voando entre nós
estranho
quando outrora
catando joaninhas
em silêncio
no vôo de nós
um sorria
dentro
do outro



3/17/2008

Carta dos pingos.



Sobraram muitas boas lembranças dentro do pote na estante do porão. As vezes eu olho o vidro de perfume que acabou. tenho vontade de discar os números e ficar invisível falando com você através dos sinais. quando chove, pode olhar a janela e ter certeza de que eu estou escorrendo em algum lugar. muitas partes de mim estao sem vontade de continuar. as palavras ficam diluindo enquanto durmo, depois elas viram uma poça. quase sempre eu acerto a lama.ando com um medo do mundo que..mesmo se você me desse a mão eu pensaria que é tarde demais. os olhares me medem por todos os lados.as pessoas choram porque não são a poesia que eu escolhi. mas não sou eu quem escolho o poema.ele é quem vem me caçando entre tábuas e sopros de dor.eu só escrevo sobre a dor. a dor que as vezes fica cintilante de tão carregada.ás vezes eu preferiria ir embora. pra sempre.porque parece que a minha voz sai entre o mundo, e o mundo tem um tampão grande no ouvido. sou lesma.uma lesma frágil e feia que fica esperando enquanto anda devagar.as vezes o mundo me pede água. e nem de gelo nem de água minhas retinas se enchem. eu nao tenho mais nada para dar.quem vai ficar comigo?por que essa lâmpada da madrugada se quebrou.e parece que a luz é frágil. parece que uns gaviões estao com facas querendo me pegar.eu tenho muito medo de mim. do que não posso fazer.do que pareço para o outro, mas não sou. de verdade. não sou.tenho medo do que ainda nao consigo.ás vezes quando tudo voa espaço a fora eu lembro de nós em cima daquele telhado. o telhado tinha um monstro feio. e nós ríamos do feio. hoje temos medo dos monstros, de sermos nós o monstro mais feio. nós ríamos entre os corredores de um sonho que até então era nitidamente possível. só a neblina e os chocolates nos inspiravam.era tão bom inventar de chorar sem motivo.embora você sempre tivesse no escuro, sempre foi você a minha luz maior.não importa agora se você me vê como uma nódoa.eu sou um resto de pó. que sobrou em cima do seu lençol.eu quis ficar ali, para ningém me ver. se soprar, deixe que eu tome a dimensão do seu quarto e do seu pesar.eu não tenho mais nada o que prender.pesar.perder.


3/10/2008

Em mim *foto: Raquel Stolf




o fantasma de você

assombrando todos os cantos


a fumaça sem você


meus olhos vermelhos no espelho


meses, folhetins

calçada sem branco


calçada sem suas pegadas


onde você anda?


crateras abrem na minha pele


e a sua escama

abre mais feridas


com o tempo

a cicatriz aumenta


com o seu sumiço


o meio de mim fica gritando


mas respiro e suplico


costuro a sangue frio




meus olhos amarelados no espelho


a torneira espalha água


barulho de ninguém em casa



a mesma água que sai de você


o silêncio de você


onde você me guarda em você?




seus copos de sonho



embebedam para infinito escuro


da madrugada



onde pousam suas chaves

mais secretas


eu quero quebrar



onde soa


a miragem de nós dois?








em mim.