11/24/2009

Receita Cristã para esquecer alguém em 33 passos.

Para Martha Medeiros

1-Lacrar fotos e objetos-lembrança numa caixa vedada de luz e frescor.
2- Usar óculos escuros ao luar para esconder o inchaço dos olhos e acostumar com a sombra e a escuridão.
3-Ligar para amigos que você nunca pôde convidar para um café, devido ao fluxo de responsabilidades demasiadas durante o casamento e ou namoro.
4- Fingir que é forte.E que nunca mais pretende dedicar seu amor a alguém.
5-Entrar para um coletivo de artistas loucos e afetivos (sim, artistas afetivos adoram a companhia de alguém que está sensível e fazem festa e churrasco aos domingos , segundas e feriados). Amigos artistas também fazem de uma caixa d água velha, a piscina do verão. Se você quiser pode ser a musa teen.
6- Ter uma pessoa confiável para visitar nas madrugadas frias de insônia e solidão.
7-Chorar sempre, principalmente para arrancar abraços fervorosos de desconhecidos.
8- Sair caminhando sem rumo e lembrar que caminhar sozinho é como viver sozinho:você escolhe para onde e porque vai parar e sentir.
9- Aproveitar a liberdade da casa para acender todas as luzes na madrugada de insônia.
10-Não atender o telefone da pessoa ex de maneira alguma.
11-Esquecer jantares a dois, cama quente a noite, conversas silenciosas e gruídos em baixo da mesa de visitas.
12-Chorar escondido.
13-Agradecer a todos que conseguem distraí-lo por alguns instantes e abstrair os pensamentos horríveis, a imensa sensação de rachadura latente na alma.
14-Jogar na privada os óleos eróticos e os essenciais de massagem.
15-Não comprar vinho do Vale dos Vinhedos nem da Argentina.
16- Esconder as revistas em quadrinhos e os desenhos animados ridos a dois.
17-Tampar as panelas, sempre depois de almoçar.
18-Escrever sem destinatário as piores coisas que você sente, guardar em uma gaveta mórbida.
19-Esquecer os escapamentos os acampamentos e os enquadramentos da paisagem vista a quatro olhos.
20- Não voltar a lugares especiais vividos a dois.
21- Tentar viajar para um lugar onde você seja um completo desconhecido.
22- Controlar a compulsão
23- Evitar os destilados, para que, por outro lado o sentimento não se derrame e manche a vida e suas novas portas reluzentes.Não dar vexame, nem chorar sobre mesas de bares. Mesas são para dançar.
24- Ter um amigo que se possa beijar na boca.
25-Esbranquiçar o rosto e a cor da pele um dia amada da memória.
26- Enterrar as flores mortas.
27-Galopar sobre as cinzas
28-Escrever para desaguar a dor, principalmente se as pessoas não o agüentarem mais falar.
29-Deletar as fotos.
30- Desligar as músicas que ficaram no HD.
31-Ensaiar o Adeus no espelho
32-Nunca mais olhar para trás.
33-Não chorar quando chegar ao fim deste texto.

4 Poetas HOJE!

Nesta terça feira, 24 de novembro, 20 horas, faremos mais encontro de poetas.
Acontecerá no impório mineiro - shopping da lagoa.
Estarão presentes para declamar poesias:
Eu, César Félix, Ryana Gabech, Aline Maciel e Yarssan Dambrós
Não paga nada
e serão todos bem vindos.

11/18/2009

Dias poéticos na 55a Feira do Livro de Porto Alegre!












Fotos de Dennis Radünz, Telma Scherer, Luciana Chaves,Ryana Gabech.

Todos os elementos acima pertencem à poesia, ao devaneio e as cores psicodélicas da mente pertubada e louca mas feliz.

rs..rs..

Poetas no Singular





www.poetasnosingular.blogspot.com

www.poetasnosingular.com.br

11/15/2009

de Viviane Mosé

Prosa Patética

Nunca fui de ter inveja, mas de uns tempos pra cá tenho tido.

As mãos dadas dos amantes tem me tirado o sono.

Ontem, desejei com toda força ser a moça do supermercado.

Aquela que fala do namorado com tanta ternura.

Mesmo das brigas ando tendo inveja.

Meu vizinho gritando com a mulher, na casa cheia de crianças,

sempre querendo, querendo.

Me disseram que solidão é sina e é pra sempre.

Confesso que gosto do espaço que é ser sozinho.

Essa extensão, largura, páramo, planura, planície, região.

No entanto, a soma das horas acorda sempre a lembrança

do hálito quente do outro. A voz, o viço.

Hoje andei como louca, quis gritar com a solidão,

expulsar de mim essa Nossa senhora ciumenta.

Madona sedenta de versos. Mas tive medo.

Medo de que ao sair levasse a imensidão onde me deito.

Ausência de espelhos que dissolve a falta, a fraqueza, a preguiça.

E me faz vento, pedra, desembocadura, abotoadura e silêncio.

Tive medo de perder o estado de verso e vácuo,

onde tudo é grave e único. E me mantive quieta e muda.

E mais do que nunca tive inveja.

Invejei quem tem vida reta, quem não é poeta

nem pensa essas coisas. Quem simplesmente ama e é amado.

E lê jornal domingo. Come pudim de leite e doce de abóbora.

A mulher que engravida porque gosta de criança.

Pra mim tudo encerra a gravidade prolixa das palavras: madrugada, mãe, ônibus, olhos, desabrocham em camadas de sentido,

e ressoam como gongos ou sinos de igreja em meus ouvidos.

Escorro entre palavras, como quem navega um barco sem remo.

Um fluxo de líquidos. Um côncavo silêncio.

Clarice diz, que sua função é cuidar do mundo.

E eu, que não sou Clarice nem nada, fui mal forjada,

não tenho bons modos nem berço.

Que escrevo num tempo onde tudo já foi falado, cantado, escrito.

O que o silêncio pode me dizer que já não tenha sido dito?

Eu, cuja única função é lavar palavra suja,

nesse fim de século sem certeza?

Eu quero que a solidão me esqueça.

11/04/2009

Poema sobre Muro

Fazia muito tempo que o Coletivo LAAVA (coletivo de artistas do qual participo ativamente desde jan/2009) combinava a plataforma de desejos do grupo. Minha vontade era de fazer um poema em um muro alto, grande, expansivo. Como a idéia da plataforma de desejos é um ajudar o outro a concretizar o seu sonho, muita gente me ajudou, filmou, rimos a toa, brigamos, discutimos, suamos, mas o resultado ficou ótimo.Como todo o sonho, nem sempre é viável fazer as coisas exatamente do jeito que a gente sonhou.Eu consegui escrever um poema em uma parede de quase 4 metros,mas o sonho era de escrever um em uma parede de 10 metros... Foi cansativo, foi exaustante, mas muito, muito gratificante.Muito obrigada em especial à Paula Maba, Vicente Corrêa, Rafael Palilo, Kássio e Francis.
Percebi lá no alto, pintando letrinha por letrinha, que a palavra desenhada ao ar livre e no alto de um muro, pode transformar quem escreve, por que escreve, da onde vem as letras??Da onde vem os sonhos??
O que escrever num muro?
Algo muito verdadeiro para você, eis o processo:














11/03/2009

Dai-me a Grande Mãe



Eu
aqui no berço da estrela
segurando o céu com os seios
alimentando de leite
a terra

caminho vagarosamente
pela superfície da mata
ressurjo da lama
me deparo com as rugas
que desenham o espelho
um sorriso cheio de sábias dobras
e amores
cruzando a madrugada
só a floresta
me salva

na corda fixa
do infinito
me deleito
curo as feridas
com areia
e água

pedras do riacho
quebrado

dentro de mim
anos
e anos passando

nas duas vidas de cristo
me entreguei
é seu meu barco
minha espada
e meu coração

toma para ti
dai-me a salvação
eu te amo e entrego
minha lua ao universo
belo
calo
só a floresta me salva

no silêncio espero
a vida abrir
outra porta

e que dizime da memória

a dor
da que se fechou

Terra



A terra é feminina
e por isso escorre
água de todos os cantos
por isso as flores

estão para os cabelos

e o mel jorra num vestido
de renda longo

por isso a maçã
é doce e vermelha

e as raposas se escondem
atrás do olhar

as aranhas tecem sutilmente
a teia da vida
e as senhoras costuram
os rasgos
na roda do destino

a terra mestrua
todos os dias

balança para se embalar

as águas
o gás
e os ventos

a terra gira
porque quer
dançar.