7/31/2007

A caixinha preta




Coloquei voce numa caixinha preta. Você fica pulando, querendo abrir a tampa.Eu tapo os olhos de quem quer ver a caixinha, mostro sua foto, estampada na tampa. Mas não abro, porque de repente você fica grande e toma o espaço do meu corpo. Pulsa inteiro. Tranco você.As vezes você dorme e tudo parece música em mim.Você vibra, mesmo quando dorme, mostra que está vivo. As vezes faz ganidos, e eu sei que você fica assim porque tem muitos quereres amputados.As vezes você sai e quer mudar de vida,tenta pular entre a boca do meu estômago e dançar no meio do peito, e o seu riso é tão solto e com tanta vontade do mundo, que eu tenho vontade de te tranferir para outro lugar. Mas a sua ternura escondida e o calor que faz a caixinha em mim, não me deixa alargar a base, você só pode sair quando eu deixo. Mas as vezes você grita e apronta uma peça, eu acabo dando corda na caixinha e você fica rodopiando livre. A sua liberdade me seduz.Fico feliz alguns dias quando você desliza até a garganta e se mostra vivo em mim. A minha fala tem o desenho da sua voz .As vezes você apaga a luz.Um comando aí de dentro que só você sabe.Eu aceito, também gosto do escuro, fico tentando te achar pelo cheiro.Abro a caixinha, e penso que você saiu para passear, mas você volta atado em um cavalo galopando com força, arrancando as fitas e abrindo a caixa,virando a placa, que sempre teve o seu nome escrito em um registro.

O homem que te contém


Ario as panelas. Removo toda a crosta de gordura. Lavo as mãos nessa pia fria, a água pedrifica gélida, me possui. Entre falas femininas o frio se evapora.O homem que te contém me ama. Mas entre suas angústias e medo, o homem que te contém guarda no íntimo dois travesseiros de penas e pregos, um com o seu nome gravado, outro com a imensidão do tempo que tomou uma forma de dor lembrada toda noite, uma herança de séculos que ninguém sabe direito de onde veio. De um não. De uma facada. Mas o homem que te contém nada me fala. É o silêncio completo de suas noções do mundo, de suas angústias e infirmezas que não me exposto,amedronta.Não quero ver suas andanças livres pelas matas, quero saber se você tem medo do escuro e se quando chora, tem vontade de dormir para sempre. Quero saber se como eu, você chega ao cume da montanha e tem vontade de desistir, só para ter outro objetivo a vista. Só para começar do zero.Só para estar indo atras de alguma coisa. Quero saber se você tem vontade de voltar a primeira vez, e se muitas vezes você queria se conformar com algo só para não ser vítima da ansiedade. Se você camaleoa por dentro, se você absorve o zune das crianças com fome que habitam a Angola.Se você escuta canções de ninar, e tem vontade de ver o mundo com o mesmo espanto que uma criança.O homem que te contém, queria voltar para tentar ser outro. O homem que te contém tem vergonha.O homem que te contém conta as suas peripáceas em sonho.O homem que te contém atravessa as janelas do mundo para me possuir.Me apalpa e me coroa fada de um jardim de tritezas que doram superadas a quatro mãos e quatro pés.O homem que te contém não é você. O homem. o homem me mostra espaços entre o céu.O homem que te contém me abraça.


7/24/2007

Extra!Extra...para a vida, notícia atual e curiosa

Entrar no portal Enzo

http://www.contodefacas.blogspot.com/


Mais uma vez sempre cintilando este artista. Com um pouco de vida e muito de peculiaridade e unicidade.Está tudo ali..a um passo de se ver...

Extra!Extra!

Nesta QUINTA
dia 26/o7
na livraria alternativa Casa Aberta (rua lauro muller, nº83)em Itajaí,
a poetisa Ryana Gabech irá fazer sua performance poética "TRÊMULO: o corpo som do poema"para o encerramento da Oficina da Palavra Cidade-rio.
Contribuição de R$3,oosó pra quem tiver condições.rs..rs....
de brinde de surpresa e presente leva a performance poética de Enzo Potel
"O que nos aconteceu amanhã?"

quem tiver olhos de ver, sentirá.

7/19/2007

Para a parede do seu quarto

E de repente
tudo a sua frente
vai sedimentando
em um enorme espaço negro

e o que se vê
são suas duas mãos
cheias de marcas

marcas de corpos
entre suor e sal
sementes que desejam brotar

duas lembranças
de suspiro e água
o círculo que movimenta
suas falanges e suas vitórias

o círculo que roda
o tempo
a água que invade
a lavagem dos seus sonhos

a paisagem que habita
entre os seus dedos
quando tocam no chão

perante o cais
perante o abismo
perante a camada de ozônio

o desejo de paz

entre suas duas mãos
o buraco negro

o reluzir
o reluzir

de uma estrela
que escolheu o seu íntimo
e as suas mãos
para habitar o mundo

Paraty


Paraty


Um homem imita um gato
uma lesma piedosa
desenha o chão
fica presa nas pedras

janelas com horizontes
de mais janelas

canoas
igrejas e doces
esquinas
grandes aberturas para o ver
azul e amarelo
branco cinza
raspagens
buracos embelezados
e paredes mais firmes que o pilar

portas abertas
palavras manuscritas
que passeiam
silenciosas
entre os objetos

nomes já sabidos
registrados na primeira
e última passagem

balões multicoloridos
crianças
cachorros
trogloditas
umidade

risos soltura
leveza e tropeços

caminhos

uma poça deixada pela
maré
que subiu

duas poças
um espaço
e um banquinho
para sentar
e se deliciar
*foto eu entre as flores que encontrei em Paraty:Lays, Aninha, e a Deise Pacheco que fotografou!Bjos

Já passou

Já passou


e o hálito do seu arrependimento
atordoa
como um sangue de menstruação
velho e fétido
impregnado na calcinha sem troca
Ele parece
um cão
todo sem rumo


e você agonizando
exige
e chuta
o cão
o cão

o cão

Rói o rato

E os ratos da sua casa eram tão gordos que andavam rebolando devagar e sem pressa. Entre já os chumaços de pêlo branco, os vizinhos se perguntavam se era uma rata prenha, um rato velho ou uma raposa bem vivida.

7/07/2007

Seu nome escrito
na porta do quarto

pedras
pedras pedras
até chegar a sua casa
seu quarto
sua cama

sua marca
sem sua presença

barcos presos no cais
a sua alianca brilhante
presa ao dedo

com vontade de romper
na minha direção

seu afago
e o furor do seu corpo
que difuso
ao meu
após
me impediu
de sorrir

você está atadado
o quarto está vazio
mas está cheio de você
pelas paredes

e o seu ar vem assombrando
entre os estrados da cama


me atormentando
me atormentando

você está ancorado
mas não está seguro

você está aliado
mas não tem mais prazer

minha aliança é o barco
já pequeno na lonjura
desancorado

afundou

eu sou um barco
tufão

criei musgos de partidas
que nunca partiram em mim

criei uma crosta de proteção
que no iníco era uma segunda pele
fina e tênue
e levantei o rosto
fingindo ser de louça pálida


mas a a verdade é que seu barco no cais
arranhou as jangadas
e a paisagem livre

que eu dançava solta

você me puxou pro mar

e o verde se alastrou em vermelho
um vermelho que me cegou
me fez perder os passos
confundir os pés

não estou olhando para cima hoje
não, não vou ver lua

só vejo esta crosta
em brancos sujos
se derretendo

me deixando mais uma vez
nua e com frio


só vejo o cais
e o seu barco
preso na âncora

me corroendo de vontade

longe de mim