11/25/2010

Zunido de Poema

4 e 5 de dezembro
17 Horas
Casa das Máquinas




Zunido de Poema é uma performance poético-musical criada a partir do livro de poemas Álbum Vermelho, de autoria da poeta Ryana Gabech. Ao som da bateria e do teclado, os poemas ganham cor, cheiros e gostos. A poesia e a música saltam juntas em um contexto lírico e ritmado, levando ao público as preciosidades rebuscadas das composições da poetisa Ryana e a genialidade excêntrica e virtuose do músico Toucinho Batera. Transitando entre as notas irrequietas e a tradição oral de se dizer poesia, a parceria entre músico e poetisa passeia entre temas sobre o feminino, a transformação, a delicadeza e o sonho. A dimensão sonora da imagem sugerida pela palavra, transposta às notas, teclas e batidas, levam o espectador a lugares e primaveras que só a música e a poesia conseguem compor.

É assim que a poetisa Ryana Gabech e o músico Toucinho Batera apresentam o espetáculo Zunido de Poema.

Ryana Gabech é artista plástica, poeta e performer. Lançou seu primeiro livro aos 15 anos de idade. Publicou quatro livros de poemas: Mar e Avelãs, A data invisível do poema, Trêmulo e Álbum Vermelho. Em 2008 e 2009, realizou turnê por Florianópolis, Itajaí e Parati (RJ) com a performance Trêmulo, criada a partir do livro homônimo, ambos de sua autoria. É integrante do coletivo de artistas LAAVA, pelo qual ministrou oficinas de poesia em Florianópolis, Palhoça e Rio de Janeiro.

Toucinho Batera atua na cena musical nacional há mais de 40 anos. Ao longo dessa trajetória acompanhou artistas renomados como Fafá de Belém, Originais do Samba, Pery Ribeiro, Eduardo Araújo e César Camargo Mariano. Foi homenageado pelos cineastas Alan Langdon e Guilherme Ledoux, que produziram o documentário Sistema de Animação, sobre sua vida e arte, lançado em 2008 e contemplado com diversos prêmios em mostras e festivais de cinema nacionais.

Ficha técnica:

Ryana Gabech – concepção, textos e performance

Toucinho Batera – direção musical, arranjos sonoros, bateria, teclado e performance

Lendro Fortes – arranjos musicais

Maria Fernanda Jacob – figurino

Marina Borck – fotografia

Sarah Ferreira – filmagem e makin of

Luiz Henrique dos Santos – arte gráfica

Cleiton Moreira e Juliana Sussel – direção cênica

Andrea Rosas – produção executiva


Contato:
(48) 3365-0532 / 84773551
poraodepedra@poraodepedra.com.br
ryanagabecholiveira.blogspot.com

11/08/2010

Turnê Poético-Musical Zunido de Poema!21 de Novembro as 19 Horas!






Zunido de Poema-
Toda performance poético-musical, criada a partir do livro Álbum Vermelho, é transmitida a partir de poesia, música e sonoridades experimentais. É assim que a poetisa Ryana Gabech e o músico Toucinho Batera apresentam o espetáculo Zunido de Poema.
Na estreia, também sobem ao palco os músicos Leandro Fortes, Alegre Corrêa, Bárbara Damásio e Giann Thomasis interpretando canções de autoria de Ryana Gabech.

Local: Teatro da Ufsc - Rua Vitor Lima - em frente à Praça Santos Dumond - Trindade.
Horário: 19h.Ingresso: gratuito. Retirar no ponto de venda.

Ponto de Venda: Empório Mineiro - Rua Henrique Veras do Nascimento, 240 - Lagoa da Conceição.
Informações: (48) 3028-4221.

Realização: FUNCULTURAL E PORÃO DE PEDRA PRODUÇÕES

10/28/2010

Transol*

Me sinto uma pulga
passando na catraca
dizendo "Oi"
para o cobrador

sendo loucomovido
por essa imensa

caixa azul



Ryana Gabech e Filippi DeLucca

Aires,o barco populoso

Tenho apenas um caminhão
mas quero levar todos
meus mais de mil amigos

quero levar todos esses
na caçamba
do meu coração populoso

Faço do mundo
a minha casa
uma cadeira talhada
um barco
que cabem todas
as alegrias
e as biritas

gosto do circo aberto
mesa cheia
festa engraçada
grátis
para todos os convidados

os simpáticos também podem
se aprochegar

pois sou um livro aberto
uma história
escrita na areia do mar
uma caravana de peixes loucos
pela liberdade

eu vejo ao contrário
que é pra poder ver melhor

os meus amores me querem
me pegam, me prendem
mas o que eu quero
é viajar sozinho

desembarcar no colo
das sereias
do caminho

não quero baixaria,
nem resmungo
não quero fogo cruzado
muito menos cadeado!

A porta do mundo
deve sempre estar aberta
para se
desaprender

que a vida é um tropeço
engraçado demais para não
se rir

Nada mais vale
que essa última piada
que eu ouvi.

Levo do mundo
um orocongo pintado
umas cordas desafinadas
e meus tambores

todos são o couro forte
do meu coração

eu queria ter muitos braços
para todos abraçar

como não posso

fico só desejando
rindo
vou dançando
do jeito que a vida

me desalinhar.

10/26/2010

Te carrego nas costas*

Te carrego comigo
mesmo que você me cogite
me carregar contigo

Te carrego e você está pesada!
apesar dessa aparência leve
está pesada porque não está
sozinha

Carrego você e carrego todos os outros
nas minhas costas curvas
carrego comigo seus sonhos,
suas dores, suas alegrias
carrego todas as cores das sua vida

das suas vidas
os cheiros, os sexos, os sapos
que você engoliu

carrego suas jaulas, suas ancas
carrego toda uma América,
todo um mundo, todo um universo
nas minhas costas curvadas

carrego porque não passo de um
carrega-dor

*Caio Cezar Mayer

9/25/2010

O monstro da culpa*


Ele é grande, peludo e eriçado. Visita as consciências no início da madrugada. Oferece vinho, não oferece alimento.
É responsável pelos becos sem saída, fins de túneis e postes apagados inesperadamente.
Carrega consigo carrancas, quartos quebrados e anoiteceres alaranjados.
Ataca corrosivamente os fígados felizes e embriagados, puramente perdidos no êxtase da vida.
Assombra os travesseiros e as esteiras cheia de formigas peçonhentas.
Não acende a luz.
É cheio de tentáculos: onipotente, onipresente, onisciente. Eternamente descontente. Quando ele aparece? Quando desaparece?
É uma água-viva turvamente tonalizada, queima. Dança. Uma dança de escárnio.Pública. Um desaforo sem preço, sem apreço.
Cruel.
Ri um riso desconcertante, uma buzina de tropeço, sinal vermelho no baile mais alegre do ano.
Vestido de debutante manchado de lama.
Palhaço raivoso.
Carro atravessando a estrada vermelha.
Uma bigorna, um abismo, um maremoto.

Nuvem. Tempestade. Acidente. Cela.

Culpa: são correntes invisíveis a serem rompidas.

*Feito a quatro mãos: Ryana Gabech e Caio Cezar Mayer

9/22/2010

Ciclo das transemoções.


Movimentar as cascas do que pareço ser.Remover metades, vestígios e resquícios do corpo astral. Desaparecer com as tensões da coluna e do ombro.Libertar com lágrimas um pássaro de uma gaiola de nuvens.Achar a chave para uma mágoa antiga.Encontrar um segredo no cofre obscuro da memória.Lavar as feridas com sal. Curar-se. Esquecer o que não pode ser. Lamentar e fazer, desfazer-se. Colocar fogo em uma caixa de vespas com um litro de álcool: incendiar o amor.Romper.Aliar. Fechar as portas do sim. Abrir as portas do não.Trocar o parafuso, trocar a lâmpada, trocar o sentir.Arrepender-se.Atirar um par de brincos de esmeralda em uma cachoeira de encanto guardado. Guardar alguma coisa só minha.Só minha.Só minha.Deixar essa coisa na cabeceira, perto da janela. Amanhecer lilás.

9/10/2010

Esquecimento fora do prazo de validade



1-Recolher os copos da noite anterior.

2-Desejar pintar as unhas e os cabelos, mudar a vassoura da porta.

3-Passar lavanda no chão.Cera.Cura.

4-Esconder os porta-retratos.Limpeza.Peça.Vidro.Caco.

5-Tentar passar uma porta estreita.

6-Acostumar com madrugada fria e miojo, a pele seca da solidão.

7- Deixar alguma luz acesa ao deitar.

8-Assistir a filmes esquecidos.

9-Se entregar a alguém desconhecido.

10-Fingir que é autosuficiente.E acreditar nisso por um bom tempo.

11- Deixar uma mensagem dizendo que se atrasou demais,

e quase esqueceu

de ir embora.

8/29/2010

Confissões de uma artista cansada.

Quando as palavras saem de meus tentáculos, galhos, raízes: grito! Saio correndo no sol. Não gosto de reuniões. Não quero discutir o que é bom nas artes, nas literaturas. Eu sinto falta de alguém me mostrar uma foto borrada, uma palavra que tropeçou, um erro de português.Confesso inteiramente que muitas e muitas vezes, prefiro o sorriso e apenas a saudação "oi" do garçom que me atendeu no bar, do que uma peça de teatro contemporâneo...Essa palavra que desliza entre Conter/ Porão/ Oceano...Nado da indecisão suprema que é o devir. Desligo o dever. Apresento minhas poesias entre amigos. Cansei de vender o meu peixe.Para mim tudo se resume a nadar , o fluir incerto e salgado das águas do mar. Eu choro de aflição por não conseguir sair do meu jardim de palavras. Porque tenho que cavar o meu buraco e plantar dinheiro nele. Dinheiro: um pedaço de retrato-folha que nos algema. Sou uma arquiteta dos sentires.Uma gari da zona sul do Rio, recolhendo papéis escritos.Uma funcionária de um salão de estética da imagem. Uma dona de casa que alinha as cores das balas do altar. Eu sou uma artista da vida, e não consigo me criticar, me exemplificar. Eu apenas consigo piada, e rio, pra não chorar porque não sou enquadrada, circulada e nem grifada. Não sei o que sou.E isso me torna cheia e vazia ao mesmo tempo.Prefiro não me saber, confesso. E não estou procurando nada. Não sei o que represento, nem se tenho utilidade.
Eu lavo a louça como quem costura pedaços de vidro com metal. Não tenho espaço para dançar, espremo a fruta,
contato.

7/31/2010

Vozes roucas- Para Amanda Gartner


Nossas vozes
roucas na madrugada

cordas e oboés desafinados
harmônicos
descompassados

vozes cansadas
de um peito ameaçado
fogo cruzado
que era um papo furado
apenas.

Uma risada mais extasiante
com o grupo:
forte como a terra
invencível como os ventos

entre os nós da garganta
cânions

cânions entre cordas
arranhando

um violão baixo
álcool inundando
o piano grave

uma marca sem máscara
acende entre todas as conversas
da sala

um farol fraco
sem linha final

sal e cercas
arame farpado

notas machucadas
manchadas

na passagem do som

7/26/2010

Lua azul (cobalto)



Era a lua mais brilhante

me fez muitas promessas
imensas, românticas
tentadoras

me colocou o brilho nos olhos

mas


a primeira nuvem
mais graciosa
passou

a lua
cobalto ficou
e...

me deixou

7/20/2010

Vermelho


Ficar nua por dentro
vestir vermelho

cuidadosamente amarrar os cabelos
com pedras
conchas e fitas

raspar-se

gueixa querendo pintura
corpo querendo curvas

eu nasci de uma mancha de sangue
púrpura derretida sobre barro

ferro derretido sobre terra

sobrevivo no fogo
latente
batendo

fervendo pelas crostas
passendo no redemoinho

caçando você

maçã do amor

do vulcão.

7/15/2010

Maravilhosa...

http://www.cpflcultura.com.br/video/integra-que-pode-palavra-viviane-mose

7/14/2010

Profundeza

1.

Flores prontas para o funeral.Crinça assistindo tv. Mudas de limão, cravos da índia.Sorriso solto estampado no sorriso da porta. É uma imensidão de sol lhe rever.Carisma sobre o caminho, novas pedras preciosas para a sacola de talismãs.É a névoa que sopra como o caldeirão de neblina, no centro da terra. Um cânion de emoção. Uma neblina a mais. Tenho muito a dizer, mas esbranquiça a visão. Perco a memória. Assopro novas histórias da profundeza da terra.Quem ruge atrás desta colina de solidão: é uma rosa sonora.
E só.

6/20/2010

Poema de saudade

tenho uma certeza
que você volta

deixou
a sua melhor panela
os panos da cozinha
e o ventilador do ano

você volta,
sei que sim

para alimentar os gnomos da prateleira
experimentar as meias de inverno
e pular no meu pescoço
como uma criança

para consertar o que pifou
descolar direito
a camada do passado
o que ainda está plantado
inflamado
hoje

o que a maré já levou

para vestir uma mini-saia
e dançar até doer o pé
sem parar de cantar

você volta para encontrar
a paisagem do íntimo
compor notas
cascatas

desenhos de montanhas
sobre águas

você vem,
fotografar a luz
da mata atlântica

os barcos ancorando com peixes
e fitas

você dá a volta
ata a linha

e sorri,

um presente.

5/19/2010

Banho selvagem


Perdi minha alma na mata. Tomo banho com fantasmas na floresta branca. O musgo úmido desta banheira de lamentações.Esta aliança em chamas.Pouco néctar, muitas contas. Chove sobre minha face janela.Eu quero um lugar entre a neblina. Poder não conviver com gosma de barata morta.Uma lagoa de pétalas secas. A barraca nesta montanha de fé.Muitas palavras cortadas, cobradas, alavancadas simplesmente pela formalidade.Eu tenho um coração na mão cheio de feridas e traças.Um relva de prantos, decepções, sonhos que derretem ao primeiro muro.Estou com o escudo, mas a flecha se perdeu no meu olhar.Lavo todo o cupim do piso, encero a madeira com cravo.Estou na torre movediça.Ora no céu, ora atirada em alto mar.
Eu tenho medo sempre do último passo.
Nunca do primeiro.

*Foto sobre a performance de Janine Antoni

5/12/2010

Do túnel da poesia

Minha primeira entrevista na TVCOM.Em Florianópolis, direto do planeta poema:



Liana Keller

Como fazer poesia com humor?

Não conheço a Liana, mas sou apaixonada pela maneira que ela escreve sobre o cotidiano poético. É síntese, beleza e humor. Sem falar de como ela consegue nos colocar na situação, compartir junto o " it" do momento. Amo!

"brinde"

eu descia a consolação.
foi então que vi uma senhora que vendia cafézinhos e afins junto ao murão do cemitério.
parei,pedi um café puro.
logo,apareceu um morador de rua ao meu lado.
e disse:"-ó,se não quiser dar,não é obrigada...não precisa...maaaas...pode me pagar um cafézinho??"
eu:"-cafézinho?"
ele:"-sim."
eu:"-um café para ele,por favor."
ela serviu-o.
ele ficou contente.
sorriu.poucos dentes na boca.
sorriso sincero,aberto.
sorri em resposta.
foi aí que ele ofereceu um brinde:
"-ao dia do seu casamento!você será muito feliz!"
*

www.lianatrapo.blogspot.com

5/08/2010

Irôko*

IROKO Corri passo ar passo ar passo ar passo ar passo.Ofegantes braços grandes de Irôko. Uma ladeira: limo e chuva. Dois pés, 500 metros até Irôko: a casa da alma. Árvore que fala. Os braços da Figueira para o alto. Machucados. O interior do tronco: desenho sobre raízes que brotam. Ondas de madeira atlântica. Canto úmido dos pássaros desabrigados,esquilos com fome, formigas a enfeitar a entrada da seiva, selva interior.Sobre o rosto de Irôko a terra roxa, a lágrima e a sombra.Galhos altos, pesados. Fincados na ladeira da inclinação.Passeio as mãos nos pés do povo-em-pé.Acaricio a pele da árvore, transpiro.Deixo lá um pouco do meu suor. Choro sobre as raízes-feto de Irôko. O corrimão da escada para o céu é áspero.Lavo o corpo: minha pele é de crocodilo.Ouço o tintilar de um búzio.Desejo escalar Irôko. Morar na sua neblina,na sua passagem de anos, seus galhos calvos, suas rugas-mapas, sua firmeza branca. Que há além do caminho mais alto do último galho?

5/03/2010

Morro do Palácio - Rio de Janeiro







Pior é solidão invertida. Cheiro de barro e cerveja nas calçadas.Crianças acordadas no som da buzina e gargalhadas. Quatro horas da manhã. Não posso olhar a janela. A casa não pode ser rebocada. É necessário não desejar as mulheres.Sobre os homens ninguém falou. Perco a escrita porque é necessário limpar os restos da festa. Completar o mármore do banheiro, concertar a caixa d água. Tapá-la. Os canos escorrem furados e escassos, livremente a pouca água acaba no caminho dos 169 degraus contados até o descanso. Uma semana no morro do Palácio. Praticando a vida da comunidade, partilhando intimidades e desconhecidos.Famintos. De lá pude ver a ponte. De lá, tive vontade de jogar a caneta fora para abraçar o tambor. A negra cor tão necessitada de pérolas, prismas e diamantes.Mas aqui é só futebol e carnaval,
além da bala.
Eu tenho algum sorriso para dar?

Vejo o mundo como a minha casa.

E você?

Fotos: Giorgio Filomeno

4/18/2010

********

A chave está debaixo de uma pedra. Não abro o porão.A porta está emperrada a noite toda. As luzes não chegam na escada. Lavo o chão com o sal grosso refinado pelo suor. Esfrego todas as cracas, conchas, caramujos e coelhos pretos. Escondo os arranhões. Ouço uma bateria no corredor. As baquetas fazem o toque de Ossâin. Canjica para Oxalá. Paz para todos os espíritos.Baldes de sapólio, alvejante, desinfetante. Novamente os lençóis saem da caixa.Vivo os cantos decadentes desta casa. A torre está inflamada. Desço ao saguão.Ouço uma risada e uma voz rouca que sai do pátio:

-Nós vivemos o quadro, gosto das cores.Aqui é um bom lugar para música.

Música.

4/07/2010

Memória Revelada



Quanto tempo
essa foto guardada
na gaveta

primeiro dizimaram
o corpo
partículas da águia na noite
lodo e papael
sedimentando na terra

o tempo passa
e um anúncio sobre os desaparecidos
uma recompensa

querem os ossos perdidos
querem achar a carne já pútrida

ontem apagaram você

que falou demais
pensou demais
tirou a faca da bota
por uma nação

hoje querem uma homenagem
o pó político do seu nome
sua honra,
mas ontem
apagaram você

apagara
apag

a

ao som de Elis Regina.

3/29/2010



NOITE DE POESIA NO COISAS DE MARIA E JOÃO

Presença dos SINGULAR, Rodrigo de Haro e lançamento do novo número da revista Coyote

O que une OS SINGULAR (sic), diferentemente de outros grupos de artistas, é justamente o que o grupo tem de incomum. O que interessa é justamente aproveitar o que cada poeta tem de diferente na sua linguagem e na sua experimentação artística. O que une OS SINGULAR, também, é uma corrente afetiva que perpassa a arte e o estar no mundo. Essas diferenças e a suas riquezas poderão ser conferidas no recital que o grupo de poetas fará no dia 4 de abril, domingo, às 19h, no bar e espaço cultura Coisas de Maria e João. O grupo é composto por dez poetas (Ryana Gabech, Rubens da Cunha, Marco Vasques, Dennis Radünz, Valdemir Klamt, Marcelo Steil, Raquel Stolf, Antonio Carlos Floriano, Cristiano Moreira e Fernando Karl).

O coletivo mantém um blog (www.poetasnosingular.blogspot.com) e um site (www.poestasnosingular.com.br). No blog o leitor pode acompanhar a produção dos poetas, lançamentos de livros, encontros de poesia, crônicas, poemas, acesso a outras revistas e jornais especializados em literatura e arte e acesso a sites e blogs de outros poetas. Já no site há dez poemas de cada poeta, biografia e bibliografia. Na noite de domingo os poetas Ryana Gabech, Dennis Radünz, Cristiano Moreira falarão poemas seus e DOS SINGULAR.

Lançamento da Revista COYOTE com a presença de Rodrigo de Haro, que é o homenageado da edição

VINTE VEZES COYOTE
Dossiê com o poeta e artista plástico catarinense Rodrigo de Haro, poemas do dramaturgo Mário Bortolotto, conto do norte-americano Delmore Schwartz, traduções de Raymond Queneau e Bob Kaufmann, e relatos oníricos da portuguesa Anna Hatherly são alguns destaques do número 20 da revista COYOTE, lançada com duas capas diferentes com fotos de Egberto Nogueira
A noite contará com a intervenção poética do artista Rodrigo de Haro e com o lançamento da revista COYOTE. A revista COYOTE, que é edita pelos poetas paranaenses Rodrigo Garcia Lopes (que também estará no evento), Marcos Losnak e Ademir Assunção traz neste novo número um dossiê sobre Rodrigo de Haro. O dossiê traz fotos, entrevista, desenhos, poemas inéditos e um poema de cada livro já publicado por Rodrigo. Assinam o dossiê Marco Vasques e Rodrigo Garcia Lopes.

"A linguagem da poesia será fatalmente constituída por sucessivo espanto, ou não será nada". (...) "Cada vez mais atolados na “informação”, cada vez menos sabemos". (...) "A condição essencial do poeta é sua fidelidade, sua obediência a esta força superior que o impele, sozinho, a lutar com o Leviatã". Essas são afirmações do poeta e artista plástico catarinense Rodrigo de Haro, no dossiê dedicado à sua obra poética, na nova edição da revista de literatura e arte Coyote, editada em Londrina (PR). O número 20 traz também dois poemas inéditos do livro Um Bom Lugar Pra Morrer, de Mário Bortolotto e quatro fragmentos de "Exercícios de Estilo", obra do francês Raymond Queneau. Maurício Arruda Mendonça apresenta e traduz do japonês os haikais da nipo-londrinense Mityio Sugimoto. A revista apresenta ainda o conto "Nos Sonhos Começam as Responsabilidades", do poeta norte-americano Delmore Schwartz (1913-1966) e, pela primeira vez no Brasil, poemas do beat Bob Kauffman (1925-1986).

Seguindo com o compromisso de revelar novos talentos, a Coyote 20 mostra também uma safra de poemas de Samantha Abreu, Luiz Felipe Leprevost e Ponti Pontedura. Outra novidade da edição são as duas capas diferentes com fotos de Egberto Nogueira.
Em seus sete anos de atividade, Coyote prossegue abrindo espaço para novos autores, resgatando e apresentando nomes importantes das letras e das artes, de épocas e lugares diferentes, instigando a reflexão e a criação literária. A revista é patrocinada pelo PROMIC (Programa Municipal de Incentivo à Cultura) da cidade de Londrina, e não conta com nenhum programa de fomento federal, embora tenha participado de vários editais.

O QUÊ: Lançamento da revista COYOTE
QUANDO: 4/4 às 19h
ONDE: COISAS DE MARIA E JOÃO, geral do Sambaqui, 1192
QUANTO: R$ 10,00

Contatos: losnak@onda.com.b /rgarcialopes@gmail.com / zonabranca@uol.com.br

Fones: (43) 3334-3299 / (11) 3731-3281

O QUÊ: Noite de poesia com OS SINGULAR e Rodrigo de Haro.

QUANDO: 4 de abril às 19h.

ONDE: Coisas de João e Maria

Geral do Sambaqui, 1172

QUANTO: Gratuito

3/20/2010

Manifesto para ocupar com arte o que hoje é depósito!



Tudo começou com uma bateria muda.De sucata e ou lixo, ou ainda como diz um amigo* "matéria-prima de excelente qualidade" foi contruído o instrumento mais polêmico e desestabilizador de humor do CEART. A bateria de sucata foi produzida por um artista das Artes Plásticas: o "Chico". Ficava nos fundos do terreno da UDESC, próxima à sala de Escultura. Muitas vezes entre uma aula e outra nós sentávamos por ali para vê-lo e ouvi-lo tocar ou mesmo os próprios " artistas experimentais" tratavam de degustá-la para o nosso bel prazer marginal ali, próximo às aulas. Aquela "coisa engenhosa" muito bem criada, sonoramente rica e principalmente original e inovadora, dava lugar à imaginação e a curiosidade de todos os passantes até mesmo dos funcionários.

Um dia, a bateria foi presa em um espaço desativado. Não cabe aqui nenhuma discussão sobre este fato ocorrido. Apesar de absolutamente ninguém entender porque dentro de uma Faculdade de Artes um instrumento musical é banido e vetado e não somente " trocado de lugar". O que cabe discutir aqui é a " cela" onde a bateria e outros tantos materiais estão trancafiados. Nossas tardes muitas vezes são regadas de discussões sobre esse assunto: como poderíamos utilizar melhor esse espaço e todos os materiais ali "guardados" para criar : ferros, madeiras em degradação, tanque de roupa, papelão, pó, pó, pó. E mais bichos e bichos atraídos pela umidade e o acúmulo de sujeira. Em tempos remotos, este espaço era da Escultura quando ainda o próprio Krauz ministrava no lugar precário suas aulas.

Depois disso, aquele espacinho lá atrás (onde se encontra a bateria e afins) foi reformado de modo que a porta da salinha - foi fechada. Pronto: aquele lugar era do serviços gerais, ou melhor da Orcalli?Ou melhor...De quem?

O coletivo LAAVA tem como fundamento a Arte Colaborativa, nó trabalhamos efetivamente em projetos que envolvam grupos, plataformas de desejos,dispositivos artítisticos que envolvem pessoas e afetividades, parcerias. Todos os nossos trabalhos vinculam e reestruturam nossas relações pessoais e profissionais. Trabalhamos com base na troca e na aceitação do outro: nós mesmos. Cada dia mais o grupo tem agregado "amigos" para a nossa rede. Nossa história nasceu no CEART. Acontece que o envolvimentos das pessoas nas "causas" agregads tem sido cada vez maior.Sabemos que os alunos já possuem um espaço para o LAAVA, mas este mesmo tem de ser fechado às 20h15 (horário que acabam as aulas no bloco das Artes Plásticas). Os alunos e integrantes do LAAVA gostariam de poder continuar desenvolvendo as atividades além deste horário, pelo menos.

Por isso pensamos em quebrar o cadeado da cela. Ou melhor: sermos convidados a ocupar este espaço tão mal utilizado como depósito. Este manifesto é para que um lugar de arte seja ocupado com arte. Para arte. Por causa da arte.
Nós o queremos sim. E estamos reivindicando. De maneira que prometemos limpa-lo, cuida-lo, reforma-lo. SIM!


Página do Coletivo LAAVA:

http://sites.google.com/site/coletivolaava/home

http://sites.google.com/site/coletivolaava/membros/ryana

3/15/2010

É pela paz que eu não quero seguir



Aquela coletânia “Chiclete com Banana” estava ali na estante há alguns meses, eu havia comprado para poder respirar um pouco entre os textos que teria de ler para meu trabalho de conclusão de curso.
No fim, a imersão nas palavras acadêmicas, acabou me dando espaço somente respirar as visitas e os cafés da tarde que a própria Lagoa da Conceição trata de trazer ao meu recinto.
"Vou levar essa coleção para o Jonatha- pensei;
Tenho que pedir para ele tomar cuidado porque isso é raridade”.
Tenho essa vontade de distribuir tudo que eu acho interessante e torno a possuir: impresso, dvd, filmes em avi, fotos.
Pela manhã do dia 12 desço a escada com as revistas nas mãos:
-Vixe nega! Acho que você não trouxe isso numa hora boa. O Glauco morreu. Foi assassinado esta madrugada.

Hoje (dia 13),a Folha de São Paulo fez uma homenagem muito bonita,conseguiu um suspiro em mim aquela ilustração do Angeli e do Larte: a árvore sem cores, a ligação entre a Terra e algum lugar.
Acho que a tv é claro, como sempre, acaba deturpando tudo.
Estive na Cerimônia do Daime duas vezes. É uma planta de cura, sim. Mas o ritual, a cantoria dos hinos, não difere muito das outras religiões em que se aprende sobre a pacificação, a humildade absoluta, e a não violência. Inclusive, os hinários do fundador Mestre Irineu chegam a “educar” o religioso para que controle o tom da sua voz-“ falar sem me exaltar”- é o que diz o hino.
Falar com humildade. É claro que uma religião fundamentada na cura, vai atrair doentes de todos os tipos. Conheço muitas pessoas que verdadeiramente como o próprio Glauco deixaram a vida não só das drogas, mas da violência física e moral, da auto-piedade, do apego e da luta pela materialidade, na tentativa de um silêncio amoroso e pacificador dentro da doutrina. Essa mesma doutrina e esse mesmo chá curaram infinitamente mais do que prejudicaram alguém, com certeza.
É muito fácil colocar a culpa na religião quando no âmbito da maioria delas (olha que sou uma estudante assídua) o que se procura entre os homens para com uma doutrina é a paz, o apoio e a procura pela saúde física e emocional. No geral há busca tremenda pela fé: a única capaz de lavar toda aflição e dor. Então, não é difícil atrair adeptos em uma sociedade tão perplexa e cruelmente intraduzível.
Estamos falando de pessoas. E pessoas que procuram algo em comum, isso não descarta de maneira alguma, que essas envolvidas dentro de um ideal sólido- o cumpram.
Agora se a religião fala de humildade, simplicade e a tv, os filmes, e os impressos só falam de tragédia, avareza, das mortes brutas e gratuitas entre os humanos. O que predominará entre nós?
Essa morte foi uma explosão de que até um artista, simples, fundador deuma casa de cura, está a perigo deste turbilhão de cegos que querem resolver tudo na base da matança. E o que é pior- da maneira mais covarde e ignorante da qual o homem consegue se vingar: com uma arma de fogo.
Entre os indígenas, até mesmo os tupinambás, a morte de um índio de outra tribo era uma questão primeiramente de honra. Os guerreiros eram iniciados em muitos ritos antes de guerrilhar. Pois guerrilhar é uma condição indígena e humana, remota. Mas o passado sempre se inverte par ao futuro, de modo que continuamos guerrilhando entre nós, no meio dos desmoronamentos e terremotos entre as nações.
Morremos sem honra de nada.. Repetimos e repetimos, e para não mudar, há os estabilizadores de humor. E para não gritar temos a fluoxetina, e para não sentir dor temos os analgésicos. E para aceitar a morte colocamos a culpa em um chá.
Quando um guerreiro índio era morto por um inimigo ele era velado na aldeia do mesmo, com danças e rituais, consagrações. Nossa nação mata seres da própria aldeia, não há inimigo real,e também não há como se atirar no orgulho, não há como se atirar na crueldade, no ciúme, na inveja e na doeça mental. Então atiramos sem motivo conciso, mas arrumamos um: atiramos para nos defenderpara fazer justiça, atiramospara acabar com o crime, para acabar com a vilência.Contráditório não?
Há muitos criminosos evangélicos, budistas, católicos e bruxos. Mas há morte rápida, sem preparação ,e a arma é disparada de uma maneira tão simples, que uma até uma criança o pode fazer.
Se olharmos para a história antes da arma de fogo fica nítido que antes era preciso ser muito corajoso para matar e muito mais muito forte para mudar a situação sem precisar matar. A morte tinha uma relação muito mais filosófica e direta com a vida. Nem tudo era morrer e não era o outro quem dava essa sentença tão facilmente.
É muito mais fácil a tv esculhambar uma doutrina do que assumir o erro social de a arma simbolizar o poder absoluto. Buscar somente o poder pelo poder,ter uma arma. infelizmente o poder devíamos assasinar esse poder leviano com status de 38.
A aywasca é uma planta de poder.Do poder da paz. Isso eu quero admitir.
Mas não quero admitir e nem aceitar essa morte: Glauco VIllas Boas-cartunista, artista brasileiro e seu filho: mortos cruelmente por balas descompassadas, sem motivo aparente.
Eu não aceito essa morte. Se for pra gritar eu grito. Não quero seguir admitindo.

3/01/2010

Linguagem Toiciniana.


1-
Se acordeonou muito rápido. Viou inteira um acordeon. A pele dela, as dobras, bolas, tudo. "Nós somos aquilo que as pessoas fazem de nós"-Foi a minha tia, antiga, que já virou caveira que disse. Eu sou antigo também, uma peça de museu ambulante. Um boneco que fala, sou falante. Minha mãe me pedia o "parafélso" para pregar na parede. Ela dizia-"Filho onde tá o meu parafélso?".Ela não chamava a a conchinha de conchinha. A conchinha ela dizia que era...Ai! Tenho vergonha de falar, né filha?

-Conta, conta, agora conta! Como ela mãe chamava a conchinha?

-Tá...De periquita!


2-
Vou da vassoura ao piano. Sou membro fundador da ceita TUDO. É CeitaTudo. Do movimento GuGu Dadá. Isso de ser puro, voltar a ser criança: GuGu DaDa. Consta-me a lincença do movimento GuguDada. Vamos conseguir muitos financiamentos de empresas como: a "Pompom com Protex".Isso! Vamos desenterrar a "Pompom Protex". Mas não vamos deixar o presidente ver o dinheiro, se não ele foge! Dão um jeito de fugir com ele. Nós somos do Soleil da Lagoa da Conception. Fiz fortuna para uma mulher que me levou tudo. Sou da CeitaTudo. A CeitaTudo me ensinou: a vida do pobre é melhor que a do rico. Só o lazer do rico é mais esbanjador,mas o dia-dia do pobre é o mais legal. Quem lembra é sempre o criador. Quem cria, o lembrador.

2/28/2010

Alice fora da casca.



Alice encontra a Lagarta no terminal de ônibus de Florianópolis:

- Você nunca vai trabalhar, menina?Sempre neste mundo da fantasia, crescendo e encolhendo....Só falta a cestinha de maçãs da bruxa!Ara!

-Mas eu sou uma criança! Estou indo para o Alaska, encontrar o Alce Dourado!

-O que você vai ser quando crescer? A propósito que tecido péssimo para uma garota com a pele tão fina, Alice. Você não tira esse vestido azul ha séculos!

A Lagarta pela a mala antiga, a alça de metal emperra, ela abre a mala, tira o que tem dentro e coloca numa sacola plástica. Joga a mala na rua, caximba e diz:

-Adoro ver os carros desviarem seus cursos.
Caximba três vezes.

-Ás vezes eu queria ser aeromoça ou professora.
Alice fala insegura.

-Vocês jovens sempre com sonhos tão distantes.Porque não pensa em ser uma cabeleleira em Tagaçaba? Ou ainda, a cozinheira predileta de um posto de estrada em São Luís do Maranhão?

-Mas posto de estrada é sujo. E eu odeio cigarro.Eu prefiro trabalhar em...Alice começou a ficar nervosa, pois não conseguia pensar em algo diferente, já que estava condicionada a escolher entre ser professora ou aeromoça..Até que lembrou:

-Em um orfanato...Isso!Eu preferia trabalhar em um orfanato!

-Para quê? O destino é cheio de seres desovados e sem casco.

-Mas eu gosto de ajudar as pessoas. Eu adoraria contar histórias para as crianças abandonadas de...Israel!

-Você diz isso porque é jovem, mas o fogo sempre abranda.Essa mania de pensar tão longe me irrita!

-Como eu devo agir então? Dona Lagarta ofendida?

-A vida é cheia de magia Alice.E eu não estou ofendida, apenas tenho algo que você não têm- casca!

E a Lagarta foi entrando no ônibus lentamente, Todos os passageiros tinham entrado,
o cobrador já estava a bufando.
Alice queria ir embora mas esperou o último degrau, como se soubesse que a Lagarta ia falar mais alguma coisa:

-Não queira muito Alice.Lembre-se de doar alguns caramelos, mas não o último. Dar é feminino de dor, Alice!

-Mas...

-Não queira muito Alice!

E a lagarta foi-se embora deixando um rastro de fumaça.

2/23/2010

Do Túnel do Tempo

Descobri umas fotos de 2007, de uma performance que fiz experimental no evento "Básica 0". A amiga fotógrafa é a talentosa Sarah Ferreira: http://oficinavideodanca.blogspot.com
Viva o azul!





2/12/2010

Bendita Companhia!




Tua Palavra

Ao ouvir tua palavra nua
para lá , para cá - palavracrua
saltando para fora da tua boca
saltitando, quicando como louca
palavra - pala vra palá vra - palavra
como flecha atingindo-me o peito
para lá!
Esta sílaba me feriu de jeito
teu verso me fez tremer
fez o vento soprar mais forte
bandeiras tremular ao norte
fez-me pensar na vida, na morte
fez-me entender o quanto tenho sorte
de te ouvir, de te ver, sorte de crer
crer no amanhã, aceitar o hoje, desvelado
fortalecer o peito amado, ferido,
cicatrizado - tua palavra efeito
me deixou hipnotizado, jogado
meio jogado fora
tendo agora, tua palavra me encotrado.


*Presente Marcoliva, para mim.
http://benditacompanhia.ning.com/

2/05/2010

Coisas de Maria e João!

Mais e mais Coisas de Maria João!! Domingo 7/02 a partir das 19hs, o espaço contará com performance poética de Ryana Gabech acompanhada por Toicinho batera.
Ótima oportunidade para a poetisa autografar seu livro/CD Trêmulo!!!
E mais...entrega formal do violão doado por Carijó Espaço de Arte- Ong crescendo com Arte.
e ainda... bebidas e quitutes, os objetos especiais a venda na casa, boa companhia e um visual de arrasar!
Coisas de Maria João, o seu café com cultura!
Geral do Sambaqui, 1172... na rota do sol poente...

2/01/2010

Música instrumental


As folhas pararam de farfalhar.Não ouço o virar das páginas.Você dormiu. É um suspiro encantado e me invade. O espaço vago entre a água e as notas, as dissonâncias das raízes do violão.Azeite neste arroz de yemanjá.Conchas batendo a campainha das casas. Uma casa na árvore, flores de maracujá prestes a brotar na varanda.As sombras dando espaço para as luzes: uma dança de distâncias, alcances, reverberações trêmulas e Alegres.Paz.Extensões. Grande alma do horizonte em flor. Toma todos os meus membros. Sempre me diz "Sim". Um sim de roda gigante, de céu rosa. Salgado.Todas as estrelas esperam o seu acorde no mais anil do universo .Eu fico no extremo sul cachimbando palavras e cometas na ponta do foguete.Querendo te abraçar.

1/21/2010

Gaivotas


Foto: Eduardo Green

É como se a grande voz lhe tomasse. Porque você é a grande vítima.E assim todas as asas podem lhe proteger. Mas protegida você perde a coragem. Olhe no espelho da sala: sangue nas imagens cheias de carne sob a película da tv. Os monstros não podem lhe deixar dormir. Eu não posso lhe dar a mão. Apenas estarei sempre aqui para lhe lembrar de passar a manteiga no pão. Servir café novo quando alguém chegar. Eu pensava poder escolher, mas não consigo. Eu pensava querer vencer tudo. Mas só agora sei: poder ficar sozinha. Eu precisava vencer tudo. Mas apenas quero ficar sozinha.Olhando as matas de dentro.Alvoroçando as muralhas com a minha fala. Tremendo as estruturas de cimento, dentro.
Um coração em um abraço futuro. Nada aconteceu ainda. A mesma vontade de plantar uma macieira na janela de alguém que não existe, quer dizer, já existiu...

-Você precisa dar um basta nisso!Voltar para o chão!
Disse Iracema com voz de cobrança, querendo fazer Soraya agir.

Ele fora embora com todos os calçados e roupas, exceto as de frio. Temia sobrecarregar-se de peso para ir. Deixou as malas e ela, chorando na mesa da cozinha.
Soraya sobrou. Sobrou porque não pertencia a mais nada, talvez também a nenhuma regra, nenhum corpo. Mudou todas as roupas do guarda-roupa. Tentou mudar o nome, tirar o dela. Ficava sonoro “Soraya Velasques Mendes”. Agora seria “ Soraya Mendes”, era mais curto, forte de falar. Ficou só com o nome dele. Talvez fosse a última coisa a sobrar, o nome dele colado no dela. Como um pulseira antiga de uma bizavó: rompida, ela ganha outra utilidade.
Mas ficou ali, na casa, debruçada sobre os cantos, estudando piano. Ela queria ficar voltando ao sonho, entre as notas e os passos de dedos entre as teclas. Quando chovia parava diante do vidro da janela e esperava as gotas formarem coroas nas poças.

-Oi! Há alguém atrás da porta?Oh! Que bom que vocês estão aí! Cansei de procurar pelos arredores das ruas. Todas as esquinas estão cheias de plumas e paetês. Brilho nas calçadas e luz azul nos postes.Oh! Não, não creio que você ainda está assim! Soraya meu amor, o sonho acabou!Acabou mesmo!

Silenciosamente Paola deitou sobre as almofadas. Respirou fundo. Acendeu um incenso.Ficou mais um tempo em silêncio. Sabia do apego de Lia aos cabelos alinhados, lustre nos sapatos e tranças ao deitar. Não deixaria Soraya aceitar aquele abismo. E porque ela não aceitava, Soraya também não podia aceitar.Era como um feitiço que deforma o caminho por uma herança genética, o testamento do nome, o registro de sangue no papel. Lia falava com tanta precisão, tanto poder diante das palavras e da matéria... Soraya parecia fraca ao obedecer no seu mais íntimo, apenas olhava para o chão, e suspirava.Seguia um fluxo sem rumo deixando desatar-se de vez.Mas desatada ela voava. Voava como uma folha solta no vento, sem direção.Soraya jamais poderia discordar da irmã.Era um terremoto de indagações, apontamentos e justificativas toda vez que ela resolvia atravessar a fronteira. Tinha ganho novas roupas da irmã, novos sapatos, novo visual. E Lia achava que a sua manipulação era imperceptível.

-Perder pode ser ganhar. Disse Paola

Quando todos os olhares se intercruzaram no velho apartamento cor de ocre. Paola levantou e disse:

- Você se humilha porque é mais fácil ser fraco que forte.
Aquela frase reverberou em Soraya.
Rasgou a roupa do corpo. Colocou um vestido curto. Fez uma Fogueira. Queimou todas as sobras de Velasques, as grandes calcinhas antigas, pegou um batom. Se riscou inteira com o nome dele. Borrou o batom sobre o corpo. Ficou vermelha. Foi andando até a praia.Pegou um pedaço de pano e amarrou na boca da irmã.A deixou sozinha, apenas sussurrou no seu ouvido.
-Se você não pode mandar no sol e na chuva, não pode mandar em mim. Eu agradeço. O sol e a chuva odiariam se render a sua vaidade.

1/05/2010

E só poderei entrar, sozinha.



A moça suou a testa, sentada à beira do rio vestiu-se de calor e dor. Contou as palavras que corriam pelas corredeiras lentas. O lugar rodeado de montanhas, cavalos marinhos sorriam através da transparência das águas. Teve vontade de construir ali uma barraca com pilares esculpidos de barro vermelho. A terra mais bonita é a argila. Fica entre o subsolo e a superfície. Começou a escrever na areia imaginando as letras afundarem até o mais remoto interior da terra, onde a terra nina o mar:
Solidão da beleza. Nos dias de suor, caminho ao longo de muitas mãos, mãos de vespas, patas de mosca, nadadeiras de peixes, queria falar a língua das baleias e chamá-las à beira-mar, queria ficar transparente entre os bares, ouvir todas as conversas da mesa, gostaria de poder desenhar você nu. Traçar nanquim entre as pintas das suas costas. Caminhar sobre meus cabelos. Fazer música com as conchas esquecidas no fundo do mar. Descobrir as paisagens que habitam todos os sonhos quando você está em Zimbros. Vagar sem rumo por um sentido. Céu de melodias me abraça, vermelho, pratas. Perfumes do alvorecer. Você está tentando me falar. Mas agora não posso, estou entrando no portal das flores, estou no fim da lua. Nua no jardim. E só poderei entrar, sozinha
.

1/04/2010

Do mar ao rio, uma canoa de livros.


Mar de livros – uma tenda encobre a corrente de palavras entre muitas margens, das docas de Porto Alegre às margens das alas de A a D. No Centro da cidade, a Praça da Alfândega transbordante de rostos que se intercalam na altura do olhar. As meninas dos olhos vagamente se distraem entre carrosséis de livros pendurados. Crianças miram-se no espelho colorido da fantasia.
Quem pode costurar as direções entre os estandes, se surpreende com os eventos simultâneos: leitores procuram e procuram, malabares dançam ao sol do meio dia, o sax se liberta na música instrumental. De minuto a minuto, os autógrafos, as receitas do escrever, o bate-papo com autores. Palavras faladas ao vento soltam-se em mil bocas desconhecidas e é possível ao passante pescar frases ondulantes no percurso.
Nem a chuva ou as pequenas poças que sobraram sobre as pedras intimidam os interessados. Entrevistas ao vivo nas rádios, livros-CD, livros-desenho, livros-parque e, numa poesia extrema, livros são docemente trocados por brigadeiros.
E a Feira se alastra pela antiga Força e Luz, o Centro Cultural Érico Veríssimo, no terraço da Casa Mário Quintana, na Bienal do Mercosul, nos bares da Cidade Baixa, onde se abrem os abraços dos amigos e de tantos desconhecidos que se aproximam. As afinidades se entrelaçam no calor da descoberta e põem abaixo as diferenças culturais.
A linguagem desagua nas nascentes do ler e escrever. Os livros são começos. As palavras, o caminho.