2/18/2008

Pandora e a caixa de cordas


Que tudo se aquiete

que se abra o violão
e saia a bailarina
e seus pés de asas

que ruflem na caixa
de música

que a madeira do violão
se abra
e vire um barco
no meio do mar

que a dança das luzes
na água

que a dança das folhas
que as formigas carregam

que a dança da sua voz

tornem taciturno todo o caos
por um instante

que a bailarina Pandora
tire da caixa
de cordas

os desatares
a última
réstia de estrela

que a madeira bailarina
do violão

dance no mar

2/11/2008

A Imperatriz das trevas


Até as palavras desaparecerem. E se não existissem palavras? A sua carapuça ia derreter. E se dependesse do seu corpo, como suporte do que você é , o mundo estaria perdido. Além das palavras existe um sentido, o sentido do resto de pó, que você deixa para alguém limpar. Rainha da sujeira, rainha da roupa suja. Venha lavar a marca de sangue das suas palavras. Suas palavras atiram, cospem. Mas na sua carapuça deslavada, você ainda acha que atrás das palavras, pode ficar parecendo a flor mais graciosa e silenciosa do jardim. Até a Imperatriz, sabe varrer onde sujou. Sabe dizer e agir, falar e dar a mão. Para ser rainha, antes é preciso ser escrava, sim. Você seria capaz de dar um beijo em uma criança com lepra?É claro que não. Você é limpa demais. E quando encontra a verdade de palavras lapidadas, um pensamento que cabe ferir alguém com classe, você não hesita em jogar feijão em quem está muito alegre. A alegria que você se frustra em não conseguir ter. Depois você olha o céu, onde de repente você gostaria de plantar sol. Há quem acredite na sua falsa tentativa de ser feliz. É fácil ser leve como a pluma, quando se coloca um caminhão de lama na frente da porta do vizinho. Quem é mais infeliz que eu? Todos devem ser. A terra não pode obedecer só as palavras, dona rainha da colméia. A terra quer ver seu caminhar, a terra quer ver a sua dor e a sua ira, a sua sombra e o seu cais. Não se pode evitar o ruído para se conseguir o silêncio. Só tem mel, quem faz mel, quem dá a mão, quem age. Por trás da suas palavras eu só vejo terra. E por trás da sua cara, eu vejo fel, fel, fel. O fel que liga sua estranha mania de culpar os outros pela sua desgraça. Até as palavras desaparecem. De que valeriam teclas na sua mão, se você não reverencia seu dom, se você reclama , reclama, reclama de terem levado seus anéis. Enquanto de outros, levaram até os dedos. Eu quero ver a Imperatriz das trevas, chorando e pedindo perdão.

2/07/2008

carrosel de milton


Meu coração descansa milton. um coração respira milton.travesseiro com agruras de milton.arranco minha útlima camada de casco rejeitado. milton suspira na canção, me cheira inteira.milton.toca os pés, dança o corpo que estremesse no sofá. o sono dos insetos que moram na cozinha.milton, um rio silencioso que desenha as matas com uma delicadeza de falta.de folha nova em galhos verdes. milton descansa os passarinhos das gaiolas.abre os postais de paisagens que desenham as janelas de um trem mais manso.milton se deita nu, no sol entre as geleiras.desce da mais alta torre de corais que envolvem música e mar, cadência de água chegando na encosta de areia. carrosséis para o infinito.milton dá a certeza entre os vales que há. milton vem dos vales. vale dos sonhos entre nuvens.carrossel de vozes celestes. milton e a trombeta que escorre o soltar de um espírito, que desemboca no mar,mar. mar que milton não nasceu. mar que milton descobriu entre ar e onda, entre as mais doloridas


montanhas da voz.