10/31/2006

Para os orangotangos lés

Poste

Foi adiando que eu já
Pesquei
Que era sempre adiante
Que os seus olhos iam

Você sempre pareceu buscar
A pedra do fim do túnuel


Quando você passou
preso na correnteza
Eu tava grudada nos canos

e

há muitos
meus encanamentos
se esgotaram

Você sempre quis
bus car


parecia querer sempre
estar lá
bem alto
bem longe
bem
fo
ra

eu não passei
nem diante
das torneiras do teu castelo

Você se es qui vou
de mim

pulou todas as cercas
afoitou meu desconhecido

onde é que nós estávamos
com as nossas coisas
quando tudo isso
se armou
contra nós?


Na baixa de uma couraça
de palavras dirigida
à platéia

você que me esqueceu no palco
você nem abriu os braços

você me implantou a vontade
de ser um poste
antes mesmo de me chamar
de flor


eu queria era experimentar

ser o bruto, o altivo, o injusto, o delito

um

pos
t
e


pos
t
e

pos
t
e

na tentativa de dar a luz

sem me espalhar.

Ganhando dentes

A vida não é uma competição
Ninguém aqui é trave
Goleiro nem perna de artilheiro

A vida é uma fissura
É uma inovação
Não é tão pouco guerra
Porque quase ninguém toca fogo
De verdade
Por muito tempo
Muito tempo
Mas a vida é quente
fremita

É uma resistência
De variadas
É uma resistência

-Era preciso desistir
Haviam dito.

Mostrar os dentes
Dobrar as canelas
A vida é um empurrão

Pasmem

Não há de que se abrir a porta
A muralha é grande demais para nós
Adentro
À fora
Há avalanches desejo
E calmaria por de cima
Da angústia arrematada
Todo mundo se amarra

Por dentre millhares
De dedos
Buscando o enlace
a vida é uma dobra

que advém da esquina,
ao rosto quando toca
a brisa já
inesperada
da curva?

Corram

Há de se correr de nada
E de além de si
Correr é a bravura
Para quem precisa rasgar
Cair
Descer
Vomitar

Correr é o remédio
Porém não há do que se fugir
Além das próprias pernas

A memória
A causa
E a insistência
Não são motivos para correr

Correr é pulso
A cadencia do caminho
Herda o amarrado redemoinho da ronda
Rondar é a vitória
Mas não há de se competir

Há abismos na procura
Há desencadeadas forças para a curva

Não há coronel na escrita
Nem há de se conseguir medalhas, premios

Ao poeta cabe olhar o muro alto
Cabe olhar a paisagem entre os musgos dos tijolos

Cavalo dado se mostra o dente
Porém,
Rir é o melhor

Há de se mostrar os dentes,
No riso e na febre
Os dentes falam
Mais que a boca

10/11/2006

Pérolas

Nada está claro.
Ou estamos jogando pérolas ao porco
ou nós é quem
estamos no estrume
chiqueiro

ou no apoiamos
no papo do café
pontuando a política
e reverenciando
o caos

Ou nós é quem estamos bagunçados
ou o mundo é muito organizado

ou nós é quem relinchamos
ou os códigos e as armadilhas
nos escolheram

quem está clareando o que?
quem é o sujo?
quem é o limpo?


estamos atrás das
palavras cheias do mundo.

10/08/2006

Feliz Cidade

Por causa da dor, cortou o cabelo. Cavou o buraco, jogou as sementes. Não plantou. Caminhou serenamente por entre os mormaços do fim da noite.Disse " oi". Não disse obrigada. Esqueceu o riso. Gritou dentro de casa. Pediu mais uma chance. Implorou. Queria entender o limite. Onde acabava e começava tudo aquilo. Onde ia parar o latejar. Poderiam ver. Poderiam machucar mais a carne travada. Precisava de um motivo para encher o balão. Precisava de uma colher de prazer. Queria uma injeção contra o sentido. Podia ver viver e apropriar o jarro para o suco. Mas se inquietava com a incerteza sobre o certo e o errado. Serviria sonhar?Imaginar folhas, trens, passagens, encontros?Adiantaria sentir tudo aquilo só?Precisava respirar sem sentir, precisava ficar sistemática. Precisava de um cabresto para emoção. Sabia certamente que era impossível continuar sem limite. Sabia que se explodisse talvez ninguém entendesse porque tremia. Por que gritava. Queria ouvir os canarinhos para aliviar. Mas era quase impossível parar a sua busca. Essa sem limite de passagem e saída. Queria só ser feliz. Mas talvez, se não controlasse a amargura, seria difícil explicar seu ato. Mas era seu limite. Era limitada. Precisava se habitar para desbravar, será que seria mesmo aquela parada?Deveria mesmo fazer força para chegar àquele vagão?Estava deparada com a fronteira. Precisava chegar à Feliz Cidade.

10/04/2006

Rúbia

Ela carrega uma incerteza no olhar. Uma vontade insistida de não se sentir indignada, febril, prestes a...Como aquilo poderia lhe acontecer?Ela estava arrependida de se ser.Como ela poderia ter errado o comando? Qual controle tinha lhe fugido a autonomia?Ela preferia não ter que vê-lo. Ela preferia não ter precisar fingir. Ela precisava se esconder daquilo?Mas como?Se a vontade forte era de acabar com a existência d‘ele e daquela mísera dor que arranhava como um garfo em louça o seu meio do peito. Ela jurava nunca mais ter de passar por aquilo, nunca mais iria se permitir sorrir, beijar, e falar docemente. Se pudesse, ela arrebentava as flores e os motéis, as praças e os sorvetes de creme, e as maçãs do amor. Ela poderia fazer aquilo, mas não bastaria.Ainda precisava de um motivo para continuar. Não se permitia nem sequer uma segunda chance. Seria uma pedra, daqui por diante. Talvez respirar fundo e mudar o cabelo. Ela estava no fim do fim do fim do travesseiro. Não podia se absolver. Como poderia cair em tão fina e cautelosa armadilha? Foi o ponto fraco que a engasgou.Antes de sair, conheceu fielmente as penas amassadas na explosão batida do fofo e do soco. Ela nunca havia tomado um murro, em seu belo salto, não conhecera de perto a violência física. Mas conheceu a surra moral. Ela precisava, naquele momento não doer. Mesmo que tivesse se perdido, ela ainda era parte daquilo.E essa a pior parte.Como poderia não ser mais o lixo, se outrora cativou o bueiro e acariciou o esgoto? Como não seria mais a metade-suja se outrora era e sentia-se metade-mor, metade-privilégio?Mesmo a sujeira estando debaixo do tapete.Ela precisava ir. Ao encontro do muro do estouro e do furo.

Des percebida

Se a ausência alivia, será que posso utilizá-la de mim?Tentarei escrever sobre esse sentimento de querer passar pelo mundo sem ser percebida.Era preciso estar transparente. Não como a clara e tênue camada de transpiração, nem tão pouco como clarividência das águas. Os copos suam com o seu respiro. Era preciso me fazer fora de mim, para melhor ver. Era preciso me desamarrar do corpo, anular-se. As máscaras me substituíram, eu posso ser. Qualquer ser eu pretendo. Porém nada me aniquila a vontade de não me perceber, de me esbarrar sem me ver, de sumir-me sem me achar mal faltante. Era necessáro para aquele momento de suor, não pensar. Era necessário trans perceber, desapropriar a segurança. Desvendar o mistério da não existência viva.Era preciso, sim, era preciso, passar ausentemente, gargalhar ausentemente, era prefirível, era preciso.