Ela carrega uma incerteza no olhar. Uma vontade insistida de não se sentir indignada, febril, prestes a...Como aquilo poderia lhe acontecer?Ela estava arrependida de se ser.Como ela poderia ter errado o comando? Qual controle tinha lhe fugido a autonomia?Ela preferia não ter que vê-lo. Ela preferia não ter precisar fingir. Ela precisava se esconder daquilo?Mas como?Se a vontade forte era de acabar com a existência d‘ele e daquela mísera dor que arranhava como um garfo em louça o seu meio do peito. Ela jurava nunca mais ter de passar por aquilo, nunca mais iria se permitir sorrir, beijar, e falar docemente. Se pudesse, ela arrebentava as flores e os motéis, as praças e os sorvetes de creme, e as maçãs do amor. Ela poderia fazer aquilo, mas não bastaria.Ainda precisava de um motivo para continuar. Não se permitia nem sequer uma segunda chance. Seria uma pedra, daqui por diante. Talvez respirar fundo e mudar o cabelo. Ela estava no fim do fim do fim do travesseiro. Não podia se absolver. Como poderia cair em tão fina e cautelosa armadilha? Foi o ponto fraco que a engasgou.Antes de sair, conheceu fielmente as penas amassadas na explosão batida do fofo e do soco. Ela nunca havia tomado um murro, em seu belo salto, não conhecera de perto a violência física. Mas conheceu a surra moral. Ela precisava, naquele momento não doer. Mesmo que tivesse se perdido, ela ainda era parte daquilo.E essa a pior parte.Como poderia não ser mais o lixo, se outrora cativou o bueiro e acariciou o esgoto? Como não seria mais a metade-suja se outrora era e sentia-se metade-mor, metade-privilégio?Mesmo a sujeira estando debaixo do tapete.Ela precisava ir. Ao encontro do muro do estouro e do furo.
10/04/2006
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