10/22/2012

Caramujo e Girassol

-Qual seu sonho? -Eu sou muito corrompido Ele disse. Como um caramujo que espera estar na areia para andar.Pensei. -E o seu sonho é grande? Perguntei querendo dimensionar o desejo. -Sim. -E o seu? Ele perguntou. Pensei no mundo girando...Pétala por pétala. -Não sei. Respondi. Suspirei em silêncio... É que eu não aprendi a querer direito.

9/23/2012

Amor não correspondido

Saber que é possível viver sem você. Se emocionar com a vida. Com esses doces que povoam os jardins. As crianças com o rosto no sol.As bailarinas de papel. Dançar livre nesta sala vazia. Observar os movimentos do bambuzal lá fora. Alguns muros pichados nas ruas. As cores das figuras na cidade cinza. Monstros de mentira.Monstros de verdade. Ter vontade de atravessar os portais da luz fotográfica na primavera da lha da Magia. Ter saudade de existir em algum lugar. Ter vontade de outros braços, outros pés para me socorrer. Sentir a carapuça se desmanchar com as lágrimas. Saudade que desliza sobre o rosto.Suas mãos suadas que um dia me fizeram dormir. Saber que é possível abrir os armários do passado. Lavar as roupas, estendê-las. Entendê-las.Libertá-las. Querer estar azul. Se estender um pouco mais sobre o gramado.Ouvir. Um dia eu suspirei mais feliz.Porque eram dois. Porque era o seu retrato, você: o belo. Sorrio. Poder amar você. Amar você.Bordar um ponto de luz. A casa dia. Acaso. O que é belo não pode ser meu. O que é belo não se pode conter. O que é belo precisa percorrer todo o universo na ponta do dedo.

8/20/2012

Vidro

Você precisa se desmanchar nas minhas mãos precisa se vestir de branco e caminhar pela mata escolher folhas deitar sobre um rio. Você. Estou riscando seu nome agora. Removo toda sua camada em mim.Absolvo a perda. Te absolvo? As crianças querem um beijo antes do jantar preciso ferver dissolver ser assaltada com um tiro a queima roupa por uma bala de afeto. Pois, desfeiçoada perdi as linhas de partida desse mapa que chamam de amor. Fiquei sem cais e não consigo mais sorrir como deveria sorrir como quem diz: sim. Zerei o estoque de fantasia atraquei de volta à minha terra com a roupa do corpo e um bombom. Quero trocar o vidro espalhar toda água que me contém.

7/22/2012

O que você não disse.

Você poderia ter olhado para trás antes de o motor ligar. Você poderia ter me dito mais, não me deixado esperar tanto.No entanto para onde olhou sempre foi o melhor.Me vestiu de doces. Me escondeu beijos.Assaltou meu coração cinza.Eu hoje poderia viver sem a sua lembrança.Seria tão bom. Mas estou fria.Quem de nós dois engoliu a chave?Qual é a porta? No buraco da minha solidão o seu sorriso. Que eu não quero mais ver, mas vejo. Quando adentro a mata, a minha mata, você está lá.Estas palavras vou deixar no parabrisa da sua vida. Tente remover o que está embaçado. Traga seu guarda-chuva de poemas. Suas cores. Mas coloco os pés no chão. Você:uma imensa praia. Você: que nunca olha para trás.Você: a razão. E na imensidão da sua pintura um querer cheio de balões de festa, fantasias quentes que embelezam a vida. Dono dos pergaminhos do belo. Tudo em ti é linha, graffite 0.1.Me inspira. Estou com o remo na mão.Vou atravessar a correnteza. Mas você quer? Estou com suas coisas aqui. Eu levo? Você me leva? Como vou chegar até aí, até você? Eu tenho certeza que você me ama.Nu. No meio do mar.

7/12/2012

Nave

Vida por favor, pare o carro. A música. Mande arriar os portões. Peça para tocar as trombetas. Deixe um pássaro branco pousar,esteja atento somente a isso. Abra a porta pouse: estou descendo da nave.

6/26/2012

Certeza

Hoje, correndo pelos corredores atirando pérolas aos porcos e dragões causando de boa a péssima impressão a conhecidos e desconhecidos. Me estranho a cada minuto não consigo mentir recebo olhares e chamadas dos normais atravesso atemporal nesta minha época de pedra sobre esta cabeça, certeza: tem sido cada dia mais difícil ser eu.

5/27/2012

Passional x Racional

Meu coração: um barco sem vela.Coração: membro arrebatador do corpo.Sou exagerada com ele, exageradamente passional. Não tenho botão para me desligar.Para parar de sentir. E me perco entre os veios:alguém me diz para não pensar: ser artista e pensar é dar um tiro em si mesmo, "siga teu coração”-diz um ator.Mas os armários estão vazios.Estou indo embora. Estou divida em mil partes. Sem esqueleto, sem bússula, e depois de me despir inteira não sei que roupa vestir. Não sei diante da bifurcação, da concavidade interior, que rota virar.Que esquina parar, para onde olhar. E quando não atinjo, ataco, pirraço, mordo, amorno.E caminho incessantemente mas não me encontro. Mas não te encontro.Emeu imenso vazio: uma cratera que pulsa. Abismo.Cânion. Entre a alma e o corpo:meu peito embaraçado. Minha cabeça pesa sobre esta praça. E a cidade têm tons de cinza. Muitos prédios, nenhum muro. Esta cidade tem mãos espanholas têm mãos extrangeiras e é aí que me findo.Debulho-me em lágrimas porque não estou mais em mim diante de tantos mapas,ruas, tantos tabus. Os cisnes não me encantam mais. As águas são minhas testemunhas. Me sinto pequena denovo nascendo denovo. E se nada em mim é mais o que me sobra é o vão nos meus olhos. É a personagem que fui por último.A protagonista sem raízes. E neste caso fugir não é covardia. Neste caso fugir é um ato de coragem. A mulher por fora é dura. Por dentro:massa de ar densa em ebulição. Eu sou minha melhor amiga. Mas sou minha pior inimiga também. Estou sem matriz. Nada me prende. E tudo que era pilar desmoronou não fora, mas dentro. Um meteorito que não sei o nome, uma explosão sem alarde, uma cruz invisível no brilho da certeza. E o que me resta? São palavras que me povoam apenas e um espírito limpo. Com as mãos sujas. E essa última flecha que mirei agora me segue. E se não sei onde estou indo, quando vou acertar? Me acertar? Crescer dói.Passar dói. Deixar passar dói.

4/17/2012

Navalha vida


E olho para trás. Permaneço em um movimento sem fim.As águas me pegaram pelos pés. O coração me pegou quando ouvi o som do mar. Eu só queria pegar na sua mão. Mas o que a vida traça parece nos aviesar, e estamos em um combate direto: eu, você, o destino. O que eu quero não me quer. O que eu posso não me cabe no momento. Estranha trama onde o desejo não corresponde ao real. Estranha época, em que tudo é possível e me falta fôlego. Entrelinha fina, navalha vida: um cruzeiro sem mapa de chegada, a certeza da cadeira de balanço vazia, uma ruga a mais, um dia perdido no sonho, solidão. Pareço ir atrás de um coelho doce, que foge mais me quer,mas não me quer, mas me quer. E o que resvala são tábuas.Chapéus pendurados na imagem de todas as casas que passei. A coleção de sorrisos que abrigo na memória das teias,panos empoeirados, a certeza em palpitações, postais,frio e cinzas.As sobras de roupas e objetos que contém uma história e todas me contam ao pé do ouvido quando pouso os dedos no nanquin.Queria ter mãos a mais,para poder me escrever,remontar. Eu tenho medo do que vou traçar nesse imenso vazio. E tenho medo de temer quando a coragem se aliar ao fogo. Entro nas labaredas do tempo, do meu tempo:ruína, boboleta, bundas, caracol, abismos, avenidas, computador.
E não posso pegar na sua mão.E não posso escrever essa prosa sozinha.São quilômetros de distância. São prédios que eu tenho que erguer sobre meus pés. E tudo me pára, pára em mim.Não me pertenço. Não pareço pertencer a lugar algum. Respiro fundo em
laço,
me lanço.