4/22/2009

A lanterna do monge




quarto escuro
fresta de luz
no fim da janela

o eremita veste sua roupa
caminha solitariamente pelo sótão

muitos já se foram
e ele deixou muitos
para trás


o eremita encontra os pedaços
de seu corpo de ontem
as fotos dos que morreram
as linhas ainda jovens
de suas mãos

olha fixamente a escuridão
respira fundo
e chora

chora

até que as lágrimas
sorriem
e acenam
a serenidade
no semblante

caminha
com a cicatriz no peito

fervendo de saudades

4/14/2009

Para um amor escondido na casa



Eu te faço voltar
a tuas pegadas marcadas em um tapete
de crochê

nós dois moldando nossos corpos
argila vermelha
marcas de tinta
nas costas

o desenho imaturo dos seus olhos

eu escrevo na terra
as palavras que tua boca vai falar
tateio teu respiro
contenho teu gemido

eu tranço tecidos na noite
com o seu nome

pinto a bailarina pálida
que passeias de mãos dadas
com as minhas mãos


Eu sei todos os segredos
e as ameaças que te retém

Eu sempre te espero
como uma velha rendeira
de lábios molhados
e cama derramada de néctar
desta flor que povoa o jardim


seu nome preso entre os meus cabelos
esta torre entre nós

Há luzes nesta sala
sem o seu riso

É noite
e você se esconde

Há sussuros e cães
a uivar

Sou a mosca da sua sopa
puta de presépio
a ferroar
os seus sonhos


marasmo
cama

e memória




*foto: Estrela Polar

4/05/2009

A Águia do Norte

o relógio vai deitando no tempo
e esses lixos
gases e moedas
tintilando no carbono e no petróleo

um retrato empoeirado na estante
a água enchendo a casa
as paredes e janelas
chorando
uma saudade de um abraço
nunca concebido

no tempo corrido
segundos, vestidos vermelhos
escondidos em gavetas em decomposição

um ar
você vem rasgando todas cortinas
acendendo velas no meu sonho

são espelhos quebrados
pendurados na entrada da sua porta

barulhos no sótao
selvagens animas
de guarda

mas algumas danças entre as mãos
e os braços
o sinuoso gesto do quadril
um sorriso rio


A passagem se abre
qual olhar
eu poderia colher esta manhã?

é um labririnto de fogo
onde a águia
queimou uma asa

E neste sofá azul
esperou para ouvir histórias
e correr os dedos por
entre os meus cabelos

quero abraçar a sua parte
que mais me dói

voar
machucada

Lançamento+ Recital de poesia

Dia 8 de abril (quarta-feira) às 19:30 estarei lançando o Trêmulo nas livrarias Catarinense do Shopping Beiramar- Florianópolis

A noite contará com um recital de poemas conduzido por mim e pelo ator João de Barros

é gratuito!


Venha..Venha!!!