É preciso que a noite esfrie
para que o sol chegue
É preciso que a idade chegue
para que a pressa acabe
É preciso que a pressa acabe
para que as rugas marquem
É preciso que as rugas marquem
para que a sabedoria permaneça
É preciso que a sabedoria permaneça
as rugas marquem
a pressa acabe
e o sol chegue
para a graça ficar de vez
2/27/2007
Penúltima
Quando a forma
da sua presença
se fez suspiro
e ausência
Quando notei
que te pedia
mais um minuto
Quando anoiteci
ao te esperar
com uma travessa
de gestos e formas
-especiarias
Quando querias
e eu não queria
aceitar mais
o nosso não
quando te aboli
do sistema sem nervo
e me atraquei
no esfumaçado
e desesperador
ar
da tua falta
Quando pediste
um dedo e eu
por proósito
e sem rumo
te dei todo o resto
do importuno
ao taciturno
leve e densa
calda de açúcar
vincada em mim
quando me prometi
ser a última vez
que puxavas
o meu vestido
E me " reprometi"
sempre que você fosse
embora
a última vez
da sua presença
se fez suspiro
e ausência
Quando notei
que te pedia
mais um minuto
Quando anoiteci
ao te esperar
com uma travessa
de gestos e formas
-especiarias
Quando querias
e eu não queria
aceitar mais
o nosso não
quando te aboli
do sistema sem nervo
e me atraquei
no esfumaçado
e desesperador
ar
da tua falta
Quando pediste
um dedo e eu
por proósito
e sem rumo
te dei todo o resto
do importuno
ao taciturno
leve e densa
calda de açúcar
vincada em mim
quando me prometi
ser a última vez
que puxavas
o meu vestido
E me " reprometi"
sempre que você fosse
embora
a última vez
2/21/2007
Beira- Para Gaston
Poema para um diploma inútil
Tua vida conquistada
na estante
corroída pelo cupim
Tua sauna
troféus títulos currículos
e diplomas
enquadrados
no esquadro solitário
da sala abandonada
Tudo está no chão
no sfá e no degrau
toda a vida gloriosa
e estagnada no teu desleixo
Tu terias te escolhido ouro
se de fato
teu olho consciente
tivesse recebido e percebido
o mérito
na estante
corroída pelo cupim
Tua sauna
troféus títulos currículos
e diplomas
enquadrados
no esquadro solitário
da sala abandonada
Tudo está no chão
no sfá e no degrau
toda a vida gloriosa
e estagnada no teu desleixo
Tu terias te escolhido ouro
se de fato
teu olho consciente
tivesse recebido e percebido
o mérito
A voz da porta-Para Luciana Chaves
Foto sobre o trabalho de Eduardo Fonseca
Você deixou aquela voz
trancada na porta
Não posso mais abrir
não posso mais sair
a minha garganta fincada
na tua tranca
não posso abrir a porta
você trancou a nossa sala
nossos objetos
delitos
e perdas
marcadas no meu olhar
não posso abrir a tranca
a nossa voz
tantas vezes uma
tantas vezes mais de duas
a nossa voz ficou no vão
de uma passagem
passou pra você também?
a nossa voz
ficou presa na saída
Você deixou aquela voz
trancada na porta
Não posso mais abrir
não posso mais sair
a minha garganta fincada
na tua tranca
não posso abrir a porta
você trancou a nossa sala
nossos objetos
delitos
e perdas
marcadas no meu olhar
não posso abrir a tranca
a nossa voz
tantas vezes uma
tantas vezes mais de duas
a nossa voz ficou no vão
de uma passagem
passou pra você também?
a nossa voz
ficou presa na saída
Atado foto sobre o trabalho de Eduardo Fonseca
Se você abre
os braços
e não aproxima
seu corpo
do meu
não posso acolher sua história
se você pisa um dedo
e logo salta com medo
não posso afagar sua alma
se você estrela
entre minhas entranhas
de noite e prazer
e se salva sem adeus
dos meus
membros-mar
não posso te mostrar minha
constelação
se você caça
e come
se você corre
e arranha
se você se esconde
tão próximo de mim
é porque você quer
me embaralhar
mas você só pode querer
pegar
este mesmo vagão
Se de outro lado
eu troco os bilhetes
escondo as tranças
caibo no chapéu
e a vida nunca erra você de frente
é confronto
é linha
é nó
E você encontra a agulha
mas não costura
a ferida
você deixa o cheiro
mas não acende a vela
você zopila
a medula com beijos
e não abotoa a camisa
é confronto
é linha
é atado
Aguarde
Contra olhos
estes óculos
infelizmente
não podem
me vedar do mundo
você pode fingir que eu
não passei por aqui?
essa mulher que remexe o lixo
cheia de rugas
mesmo que eu tape os olhos
pode ver a dor
pesando na linha
torta
da minha coluna
não posso gritar
não devo fugir
não posso arrancar a página
está tudo aqui
mesmo que queime
mesmo que junte e tente
fazer destes restos
um adubo
mesmo as mãos
que já não podem segurar
os dedos
as roupas mofaram
o sapato furou
o tempo parece
ter acabado
já arranquei os fios
já tapei a peneira
sem sol
entreguei a carapuça
e estou remexendo
o lixo
infelizmente
não podem
me vedar do mundo
você pode fingir que eu
não passei por aqui?
essa mulher que remexe o lixo
cheia de rugas
mesmo que eu tape os olhos
pode ver a dor
pesando na linha
torta
da minha coluna
não posso gritar
não devo fugir
não posso arrancar a página
está tudo aqui
mesmo que queime
mesmo que junte e tente
fazer destes restos
um adubo
mesmo as mãos
que já não podem segurar
os dedos
as roupas mofaram
o sapato furou
o tempo parece
ter acabado
já arranquei os fios
já tapei a peneira
sem sol
entreguei a carapuça
e estou remexendo
o lixo
Aviso
Não sou
esta perna manchada
de sensualidade
Não sou essa mulher
que quer pegar
você
Não sou a mulher que quer
ser consumida
por ninguém
Eu não disse
que um dia seria
Não sou a bandida
que quer roubar
aquilo que veio com você
justamente com você
de outrém
Não sou essa mulher
de batom vermelho
e seios e nádegas
à mostra
não quero nada
que eu não queria com o meu corpo
Não quero que ninguém me queira
por nada
por me comprar
por me pagar
não sou essa mulher
não sei se sou mulher
não sei se escolhi
estar na vitrine
não quero ser
à mostra
não sou esta que coloca
o zíper na garganta
para alguém vir abrir
se eu quero
eu abro
não sou essa mulher
que quer mais
do que quer
eu apenas ponho os pontos nos " is"
é você
quem não leu direito
o meu último contexto
é você quem não entendeu nada
porque não quis entender
é você quem não viu
porque eu estava presente
e eu lá posso ser julgada
se eu escolhi bem aquele
caminho
que você jamais traçaria
sem culpa?
Eu não sou isto
eu sou aquilo que você acha
que não pode acreditar
que sou
e eu falei muitas vezes
e eu assinei muitas vezes
o contrato da verdade
quando errei
eu também confessei
e eu lá tenho culpa
que você tem medo
de eu
ser eu?
esta perna manchada
de sensualidade
Não sou essa mulher
que quer pegar
você
Não sou a mulher que quer
ser consumida
por ninguém
Eu não disse
que um dia seria
Não sou a bandida
que quer roubar
aquilo que veio com você
justamente com você
de outrém
Não sou essa mulher
de batom vermelho
e seios e nádegas
à mostra
não quero nada
que eu não queria com o meu corpo
Não quero que ninguém me queira
por nada
por me comprar
por me pagar
não sou essa mulher
não sei se sou mulher
não sei se escolhi
estar na vitrine
não quero ser
à mostra
não sou esta que coloca
o zíper na garganta
para alguém vir abrir
se eu quero
eu abro
não sou essa mulher
que quer mais
do que quer
eu apenas ponho os pontos nos " is"
é você
quem não leu direito
o meu último contexto
é você quem não entendeu nada
porque não quis entender
é você quem não viu
porque eu estava presente
e eu lá posso ser julgada
se eu escolhi bem aquele
caminho
que você jamais traçaria
sem culpa?
Eu não sou isto
eu sou aquilo que você acha
que não pode acreditar
que sou
e eu falei muitas vezes
e eu assinei muitas vezes
o contrato da verdade
quando errei
eu também confessei
e eu lá tenho culpa
que você tem medo
de eu
ser eu?
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