Ultimamente ando muito atenta aos prefácios dos livros. Não aquelas críticas chatas que se limitam apenas a transcrever um trecho do poema e as reflexões para ele (ninguém merece), e sim a prefácios de pessoas que ficam (aparentemente) muito tempo pensando no que escrever para tal obra. A obra para mim, é uma coisa muito próxima do artista, até mesmo quando ela é oposta ao que o artista é, mas até os contrários são muito próximos,
então estamos todos em uma mesma panela fervente.
O primeiro livro que chegou em minhas mãos este mês foi o do querido amigo Berimba de Jesus, que lançou de maneira oficial com selo, etc, o terceiro livro tão esperado "Encarna"- São Paulo, Annablume,2008. Coleção Dix Editorial.
A beleza e simplicidade dos poemas de Berimba é um assunto quase encerrado e o "quase" permite à ele continuar escrevendo e andando por aí,
para nos encher os olhos com o seu sorriso poético.
O prefácio de "Encarna" foi escrito por Márcio André,
vou colar umas partes aqui, para saborear:
"Se pudéssemos seccionar e isolar tais vertentes, tendêcias e direcionamentos da literatura ou da arte de um modo geral, chegaríamos a apenas duas atitudes diante dela: aquela (grande maioria)
que enxerga no ofício da escrita uma possibilidade de expressão ou afirmação dos valores de quem escreve, deixando entrever aí uma ferramenta ideológica e de consolidação institucional, e aquela onde a escrita é já a própria condição fundamental da vida, de tal forma que o escritor não a concebe possível fora de sua dimensão.Entretanto, é justamente na direção-isto é, aonde levam-que os caminhos se qualificam e o artista se define quanto ao seu papel social e ético.Está em jogo se a obra de arte será sujeita ao indivíduo ou se é o próprio indivíduo que se conformará em corresponder os apelos da própria arte."
"Então, se há neste livro um mérito-e há muitos-, certamente está na busca por um caminho onde a vida e a poesiasejam o mesmo- "vida maior"-, de tal forma que já não seria um autor a escrever o poema, mas o poema a escrevê-lo. A busca por essa correspondência fez Berimba- neste caso, o poeta- concretizar, através do auto-aperfeiçoamento e autocrítica, um terceiro livro maduro
, a um só tempo cru e sensível, verdadeiro, direto e sem firulas, como deve ser o olho e a boca daquele que tem a poesia na veia e diariamente mata um leão com as mãos.
Num mundo e numa cidade onde a poesia pegou sólidos vícios de mão única, consolidando técnicas paradigmáticas de polarização e autocanonização,
a mensagem subliminar ecoando ao fim deste livro talvez seja: vocês terão que engolir a minha poesia, esta que encarna em todas as coisas. E um livro onde a vida é risco, onde a poesia é risco.Uma poesia viva e da vida e fala por si só.Agora, três poemas e o link para o blog do poeta:
"anseio
pelo tombamento
das flores de aço
e que de novo se mate
as flores por amor""chega a hora de pôr fogo
em tudo
falta você
vir comigo
e olhar nos meus.
disse não?
te ateio fogo também""abraço um peito cheio de nóso amo.normalmente restaria
um só trocando confidências por estórias possíveisno caso praguejo
sobre a falta que me faz
o que não tenho.
tropeço mantendo
a suposição do futuro."O livro conta com o projeto gráfico e lindos desenhos de linha de Marcus Binns.
www.berimbadejesus.blogspot.com