4/18/2010

********

A chave está debaixo de uma pedra. Não abro o porão.A porta está emperrada a noite toda. As luzes não chegam na escada. Lavo o chão com o sal grosso refinado pelo suor. Esfrego todas as cracas, conchas, caramujos e coelhos pretos. Escondo os arranhões. Ouço uma bateria no corredor. As baquetas fazem o toque de Ossâin. Canjica para Oxalá. Paz para todos os espíritos.Baldes de sapólio, alvejante, desinfetante. Novamente os lençóis saem da caixa.Vivo os cantos decadentes desta casa. A torre está inflamada. Desço ao saguão.Ouço uma risada e uma voz rouca que sai do pátio:

-Nós vivemos o quadro, gosto das cores.Aqui é um bom lugar para música.

Música.

4/07/2010

Memória Revelada



Quanto tempo
essa foto guardada
na gaveta

primeiro dizimaram
o corpo
partículas da águia na noite
lodo e papael
sedimentando na terra

o tempo passa
e um anúncio sobre os desaparecidos
uma recompensa

querem os ossos perdidos
querem achar a carne já pútrida

ontem apagaram você

que falou demais
pensou demais
tirou a faca da bota
por uma nação

hoje querem uma homenagem
o pó político do seu nome
sua honra,
mas ontem
apagaram você

apagara
apag

a

ao som de Elis Regina.