6/20/2008

Fogo

Eu vim correndo
com o rosto
todo borrado
de nao

mas vim trazendo
uma sacola
com uma constelacao de
mascaras
pressupostos

mentiras contadas ao pe do ouvido

tudo para rir
com voce


ontem eu pisei em dezessete
pocas de lama

desarmei as roupas
brancas
e as brandas tambem

vestido vermelho
de demais amor

muito amor

nasceram crisantemos
negros
nesta minha carta

perdao as palavras

o escorregador
de lagrimas
esta embutido

prateleiras
e prateleiras

colecao de lixo
embaixo da cama


E voce vem com um fosforo

no meu peito
que era

cinza de ontem
e brasa
de hoje


queimo
queimo

queimo

6/03/2008

Desmanche


Rosto de madeira
quem está atás de ti?

uma caixa dourada
se abre

sapato de mel
pedrificado
grande perfume do passado

um passo antes
pequenas mãos
de criança
faziam um castelo
na areia

submersas
marinhas
um livro chamado
passado


as folhas chacoalham
chacoalham

rosto de madeira
e feltro

do passado

um desmanche
dentro de mim

rosto de madeira e couro
um dia
me vestiu inteira
de camurça e sêda
hoje
um frio
rosto de madeira e gás
agonia explosiva
conforta esta parede
de vidro
labareda de palavras
e cinzas
rosto de madeira e algodão
você no meu passado

tão berço

tão raio calor
tão meu

"Onde andará Fernando Karl?" texto de 2002-quando o poeta-nuvem evaporou-se.Mas dizem que...



" O pêssego é tão belo de se ver cheirar tocar e ler. Está tão cheio de sílabas afrodisíacas, mas seu caroço é tão apressado que cria raízes na própria fruta, de tanto desejo pela terra" Enzo Potel

Fernando Karl anda ausente como uma andorinha em tempos de frio. Noutrora esteve entre os pilares da Dide Brandão, e em sua imaginação instável como em dia de chuva, segurava um dos pilares com uma das mãos, e na outra, uma sombrinha fechada. Dançava e saltitava no ar. E cantarolava em preto, em branco. E como em dia de trovoada segurava os raios doidivanos, soltos e inconsistentes escritos como o raio: em susto, surto.

Talvez esteja resgatando o vão do " algo" que em candura (belo que deve ser) se dissolve na estrutura eufórica, melódica e lírica das palavras. Ou ainda atirando outras borrachas, mandando embora toda e qualquer correção para o embelezamento sem conexão entre os versos. Onde se busca a essência que, em maior número perde para o universo único de cada palavra. Na Galáxia de Karl cada palavra tem uma função de planeta, cometa, ou estrela. O poeta deve usar de preferência as palavras estrelas que como no céu, parecem cintilar paradas e desorganizadas. Elas como no poema, "são". Elas não querem dizer, não se bastam, não se conjugam, não se exprimem nem condensam e às vezes, nem se tocam.Talvez uma estrela nem conheça a outra.

Seja lá em que constelação Karl vive, ele traz a liberdade ao poeta, a valiosidade de suas letras, a dedicação total a uma casa que muitas vezes ele brilhantemente vive, talvez não no rabo do foguete, mas no comando de tal. A experiência que ele leva nessa jornada galaxial transmite o vento que balbucia o primeiro contato, o primeiro " ver" diferente.

Onde andará Fernando Karl? Em novos mares, num barco em que a poesia começa, se inicia, mas não pedrifica? O sopro Fernando Karl também deve estar com ele. No silvo libertino e gracioso da pequena praia de São Francisco do Sul ou melhor, na procura incessante dos belos nomes dados aos seres do mar, às conchas que cantam ao pé do ouvido. Sem qualquer ordem ou significado, em breve tudo virará poesia, para ele, que como o pêssego (palavra estrela), cria raízes dentro de si.
*Imagem de Joseph Beuys