2/19/2009

Eu leio autores vivos!



Ultimamente ando muito atenta aos prefácios dos livros. Não aquelas críticas chatas que se limitam apenas a transcrever um trecho do poema e as reflexões para ele (ninguém merece), e sim a prefácios de pessoas que ficam (aparentemente) muito tempo pensando no que escrever para tal obra. A obra para mim, é uma coisa muito próxima do artista, até mesmo quando ela é oposta ao que o artista é, mas até os contrários são muito próximos,
então estamos todos em uma mesma panela fervente.

O primeiro livro que chegou em minhas mãos este mês foi o do querido amigo Berimba de Jesus, que lançou de maneira oficial com selo, etc, o terceiro livro tão esperado "Encarna"- São Paulo, Annablume,2008. Coleção Dix Editorial.

A beleza e simplicidade dos poemas de Berimba é um assunto quase encerrado e o "quase" permite à ele continuar escrevendo e andando por aí,
para nos encher os olhos com o seu sorriso poético.

O prefácio de "Encarna" foi escrito por Márcio André,
vou colar umas partes aqui, para saborear:

"Se pudéssemos seccionar e isolar tais vertentes, tendêcias e direcionamentos da literatura ou da arte de um modo geral, chegaríamos a apenas duas atitudes diante dela: aquela (grande maioria) que enxerga no ofício da escrita uma possibilidade de expressão ou afirmação dos valores de quem escreve, deixando entrever aí uma ferramenta ideológica e de consolidação institucional, e aquela onde a escrita é já a própria condição fundamental da vida, de tal forma que o escritor não a concebe possível fora de sua dimensão.Entretanto, é justamente na direção-isto é, aonde levam-que os caminhos se qualificam e o artista se define quanto ao seu papel social e ético.Está em jogo se a obra de arte será sujeita ao indivíduo ou se é o próprio indivíduo que se conformará em corresponder os apelos da própria arte."



"Então, se há neste livro um mérito-e há muitos-, certamente está na busca por um caminho onde a vida e a poesiasejam o mesmo- "vida maior"-, de tal forma que já não seria um autor a escrever o poema, mas o poema a escrevê-lo. A busca por essa correspondência fez Berimba- neste caso, o poeta- concretizar, através do auto-aperfeiçoamento e autocrítica, um terceiro livro maduro, a um só tempo cru e sensível, verdadeiro, direto e sem firulas, como deve ser o olho e a boca daquele que tem a poesia na veia e diariamente mata um leão com as mãos.
Num mundo e numa cidade onde a poesia pegou sólidos vícios de mão única, consolidando técnicas paradigmáticas de polarização e autocanonização, a mensagem subliminar ecoando ao fim deste livro talvez seja: vocês terão que engolir a minha poesia, esta que encarna em todas as coisas. E um livro onde a vida é risco, onde a poesia é risco.Uma poesia viva e da vida e fala por si só.


Agora, três poemas e o link para o blog do poeta:

"anseio
pelo tombamento

das flores de aço

e que de novo se mate

as flores por amor"


"chega a hora de pôr fogo
em tudo

falta você
vir comigo

e olhar nos meus.

disse não?
te ateio fogo também"



"abraço um peito cheio de nós

o amo.

normalmente restaria
um só
trocando confidências por estórias possíveis

no caso praguejo
sobre a falta
que me faz
o que não tenho.


tropeço mantendo

a suposição do futuro."



O livro conta com o projeto gráfico e lindos desenhos de linha de Marcus Binns.

www.berimbadejesus.blogspot.com

5 comentários:

Anônimo disse...

Gostei...


... vou visitá-lo..



adoro aqui...

... te vejo mais de perto...

Anônimo disse...

os prefácios que foram feitos para os livros da obra completa de Hilda Hilst pela ed. Globo são horríveis!
Mas uma frase na orelha-prefácio do "Júbilo, memória, noviciado da paixão" diz TUDO:

"Em seguida, esta espera se escuta a si, sereia encantada por seu próprio canto"

!!!!

bjons

Rubens da Cunha disse...

oi grande indicação, também leio poetas vivos :)

olha, diz teu endereço no rubensdacunha@hotmail.com

que eu te mando meu último livro.

beijos

Jana Lauxen disse...

Hey, bacana, vou visitar!

Abração garota, e valeu por acompanher meu blogue!
;)

Anônimo disse...

"Um livro devia ser escrito para ser lido com os olhos fechados"
Fernando Karl.