6/06/2006

Adquira-me

Adquira-me em paredes
Em partes dissonantes
Todos os poemas.

Adquira-me em silabas
Letra a letra
Que passar rente a mesa
Das tuas palavras
Embaladas de noite e soltura.

Adquira essa minha inconstância ao andar
Esses acasos vivos em mim
Como um cão acariciado por um desconhecido
Permita-me um carinho alheio
Ao que ofereço no poema

Não quero te prender
Na linha estreita e apertada da forma
Não quero te ditar uma rima
Nem tão pouco que entendas a poesia
Como um sopro que desejas imensamente
Ou simplesmente
Perceber.
Não quero te encher dessas palavras
Repetidas.
Ao poeta não cabe a palavra
Cansada e óbvia
Ditada e redita a toda hora
Nessa confusão barata
Do mundo-boca.

Que queiras conhecer outra palavra alva
Outra palavra branca ou negra
Escondida nesse caderno espaçoso
Sem linhas de excesso
Limpo, liso e preciso.

Aquele verso volto e revolto
Consultado diariamente
Recitado pra si,
Aquela palavra inversa
Que te cerceia
E não sabes
Lembrar o nome.
Aquele sentimento poema
Que te engalfinhas para achar
O sentido

Mas só diz a palavra
Mas a palavra só diz
Mas só a palavra diz

Se eu permitir um espaço
Entre o livro e essa instancia em escrever
Se no visgo da minha passagem
Lado a lado
Vizinho a essa remessa de verso
Solveres
Saliva a saliva
Minúcia a minúcia
Gole a gole
A poesia distante que rápido me evapora
Adquira-me logo.

Há de passar em mim e perante a esses corpos
O poema-labirito
Que negado a adquirir-nos
Pode se enterrar
Em qualquer outra garganta seca .

E pode estar lá morto
Nosso viço-poema
Que quase nada quis
Dilacerado numa parte-página
Em branco.

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