Meta rir
Era metade.
Era uma metade
ensandecida de se ser.
Era uma metade ludibriada
mágica
mas vã.
Parecia muitas metades
por vezes
parecia outro
outra
ás vezes era.
Era fúnebre.
Um pé no lodo.
Era cruel.
Mas era uma metade.
Tinha pudores falsos
amarrados num medo
atravancados na minha perna
eu,
que muitas vezes
fui a minha metade
medrosa.
Parecia morta
constante.
Eu nunca soube o botão da luz da metade.
Quando ela recuava e me acusava
e me fazia mesmo
mórbida
eu atirava
e obstruía
a minha parte inteira.
Às vezes parecia sorrir
às vezes parecia gemer
às vezes se costurava
e pendurava no meu ombro
o seu peso
a minha metade.
Era tomada da minha sede
e da minha necessidade
era sempre certa
mas era parada
e a voz que já era baixa
foi ficando muda de palavras
ficou apenas as rasuras
do rosto
um puxão
uma sombra
um desânimo
acompanhado
de um olhar penugento.
Reclamava agora
a metade.
Ficou febril
ficou turva
sem ouvido de riso.
Ficou desistida
ficou plasmática
branca
às vezes
me passava
despercebida.
E me parecia uma metade
tão manca de força,
que me surpreendi
quando a vi
rir feliz
rir com soltura ausente
com leveza
de um peso
que me deixou.
Rir rir e rir
radiantemente
e explicitamente.
Rir e rir
ela,
quando ainda ontem
havia chorado seu enterro.
6/16/2006
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