3/28/2007

Revoa




Pra tudo
tem uma segunda chance

você me bateu
eu te arranhei

você rasgou
minha coleção
de folhas secas

você arrancou o único botão
da minha blusa

você me jogou no chão
e eu te bati

você puxou meu tapete
e eu puxei sei cabelo

você gritou comigo
e eu murmurei
com raiva

você me assustou
eu te denegri

você bebeu o meu veneno
e eu escondi o antídodo



Mas se
nos esbarramos
intimamente
no silêncio
de nossos sonhos

estivemos perto demais

se dói em mim
dói em você

porque pisamos
na alcova
um do outro

porque dividimos
a mesma asa da borboleta

porque fomos
juntos e unos
muito convictos
do não

porque apontamos
para o mesmo caminho

porque dividimos
o mesmo reflexo
no rosto parado das águas

porque de áspera e ânsia

a vida revoa

até uma folha

e foi tudo muito sentido

para não ser real
a vontade de voltar


vol
ta

nem que para uma segunda
vez

da primeira
*Lygia Pape

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