4/03/2007

Do amor sempre fica um muito -para Drummond



De tudo
tudo mesmo
o que ficou foi o amor

das mandíbulas mordidas
dos sonhos cortados
da sonolência da razão

disso tudo
o que ficou ainda
foi o amor

da perda do tempo
de partir

do latejar incessante
da lembrança riso
das facas quebras
das promessas fracassos
dos sonhos redemoinhos
das tentativas vãs

disso tudo

o que ficou

foi amor


Da aliança trancada
do feitiço sem feiticeiro
do ganho perdido em querer
do banho só
da repetição dos dias

do humor engavetado
no mau humor do café
em xícara de dois
solidão

da perda de tempo
em partir
da parte que se parte
do todo que que se resumiu
em

par te

ida

sem volta


do realinhamento
dos botões

das almofadas
com começos de nome
do casal
impregnadas no encontro
dos gostos
que vem do cheiro


da última lâmpada acesa
do fio da faca
da gana de querer
amarrar
o santo

da cama vazia
divida ao meio

do grito contido
no travesseiro testemunho
da desilusão

da branca espera dos atrasos
dos sapos digeridos
dos sapatos perdidos
e achados
em quatro pés

da respiração ofegante

do rulminar
em fúria
de querer segurar

dos dois olhos
que esperavam
a volta na janela

do sol que se abriu

da nuvem que se apagou

da saia amassada
na rede em rendas
de balanço
paradas no gancho

de toda a certeza vivida
na varanda do verão

de todos os desenhos
rabiscados

todos os calos
todas as vistas
na torre
sólida
de dois íntimos grudados
paralelamente
em direção
além


ainda assim insoluvelmente
insalubremente

triste e parado

ficou

de janelas embaçadas
cacos colados
e uma trégua

só ficou
se revirando na cova

o amor

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