Beleza não é algo relativo. Quem ama o feio, interessante lhe parece. Bonito, não. As rédeas da mente podem levar as raízes do gosto para lugares excêntricos, mas jamais alguém negará o espanto e encantamento de uma estrela-cadente fugindo no céu da madrugada, porque a substância básica da beleza é a raridade.
Portanto não me contenho em dizer que a poesia de Ryana é a beleza espelhada e cria em si o vôo dos pavões. Ryana é raridade abarcando grandezas delicadas, iras benevolentes em suas estrofes. Nem que um poema seu seja lido numa remota casa de pano da Mongólia, qualquer pessoa que abra mais do que os olhos pela manhã, entenderá o que sinto.
Portanto “Joio”, meu mais amado poema em “Trêmulo”, é a tradução do que é belo. Nunca alguém falou com tanta perfeição sobre o arrependimento, este cisne que já nasce em cativeiro: no seu deslizar sereno sob as águas, não se observa a convulsão desesperada das patas submersas.
Quando Ryana diz que está na “epístola dos nomes negros” por tantos trocadilhos, mostra os trapos do que outrora foi uma vestimenta, o tecido religioso daqueles que confundem humildade com masoquismo. Está agora com as pernas à mostra, mas não quer ser vitrine. E “Aviso” martela com genialidade todo esse estado de maturidade, em toda a sua extensão.
Aliás, os poemas de Ryana não têm medo de se prolongar. As árias de Mozart também eram longas, mas brilhantes. Ele sabia que cada clave tinha o seu Sol.
Ryana aceita o Sol mas também colhe com a geada, pois a idéia de uma safra maravilhosa nos faz tremer tanto quanto uma má. Nós trememos com a implosão de um prédio e no despertar de um suspiro na medula. Trememos de frio e trememos no gozo. Este livro abre-se justamente no momento do choque, para doar órgãos a sentimentos na sala de espera da comodidade. Sentimentos que preferem muitas vezes não ganhar palavras. Mas Ryana já cansou de aguardar alvoradas mais justas. Se é pra doer, que doe em nós dois, ao mesmo tempo.
Enzo Potel
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