5/08/2010

Irôko*

IROKO Corri passo ar passo ar passo ar passo ar passo.Ofegantes braços grandes de Irôko. Uma ladeira: limo e chuva. Dois pés, 500 metros até Irôko: a casa da alma. Árvore que fala. Os braços da Figueira para o alto. Machucados. O interior do tronco: desenho sobre raízes que brotam. Ondas de madeira atlântica. Canto úmido dos pássaros desabrigados,esquilos com fome, formigas a enfeitar a entrada da seiva, selva interior.Sobre o rosto de Irôko a terra roxa, a lágrima e a sombra.Galhos altos, pesados. Fincados na ladeira da inclinação.Passeio as mãos nos pés do povo-em-pé.Acaricio a pele da árvore, transpiro.Deixo lá um pouco do meu suor. Choro sobre as raízes-feto de Irôko. O corrimão da escada para o céu é áspero.Lavo o corpo: minha pele é de crocodilo.Ouço o tintilar de um búzio.Desejo escalar Irôko. Morar na sua neblina,na sua passagem de anos, seus galhos calvos, suas rugas-mapas, sua firmeza branca. Que há além do caminho mais alto do último galho?

15 comentários:

Anônimo disse...

eu estou chegando à certeza de que você vai amar o único livro da Woolf que não consigo ler. o livro que mais pediu dela. As Ondas.
tenho uma tradução portuguesa aqui no computador, que é assustadoramente linda.
vou passar os olhos de dez em dez páginas e deixar algo aqui. com prazer!

Anônimo disse...

e assim: o livro acompanha seis vidas, que vez ou outra se encontram nesta mesma casa de praia. Da infância à velhice. Fluxos de consciência em prosa poética dos mesmos personagens, só que o tempo passa: começam crianças, com uma frase só. terminam com solilóquios longos na velhice...

Anônimo disse...

"- Bom - disse Bernard -, vamos partir à aventura. Há uma
casa branca entre as árvores. Está mesmo lá no fundo. Vamo-nos
afundar como dois nadadores, tocando o solo com as pontas dos
pés. Vamo-nos afundar através do ar esverdeado das folhas,
Susan."

Anônimo disse...

"- Se ao menos conseguisse acreditar - disse Rhoda -, que
serei capaz de envelhecer em busca de algo e em constante
metamorfose, então libertar-me-ia do medo que sinto: nada
existe para sempre. Um determinado momento não conduz
forçosamente a outro. A porta abre-se e o tigre salta. Vocês
não me viram entrar. Fiz questão de passar por entre as
cadeiras para evitar o horror do salto. Tenho medo de todos
vocês."

Anônimo disse...

"As únicas coisas que
compreendo são gritos de amor, ódio, raiva e dor - disse Susan -. Toda esta conversa é como despir uma velha cujo vestido parecia fazer
parte dela, mas agora, à medida que falamos, a criatura vai
revelando uma pele avermelhada, as ancas encarquilhadas, e os
peitos descaídos."

"Os filhos
dar-me-ão continuidade; as suas dores de dentes, os seus
choros, as suas idas e vindas da escola serão como as ondas do
mar que se estende a meus pés."

Anônimo disse...

"Assim, esta noite não queria estar sentado junto a apenas
uma pessoa, mas sim a cinquenta."

Anônimo disse...

"- Desconhecido, com ou sem segredos, nada disso importa -
disse Rhoda. - O certo é que ele é como uma pedra que se
afunda num lago habitado por pequenos peixes. Tal como estes,
também nós, que antes tínhamos andado a deambular de um lado
para o outro, nos aproximamos rapidamente quando o vemos
chegar. Tal como os pequenos peixes, conscientes da presença
de uma enorme pedra, vamos nadando e ondulando com toda a
alegria. Somos invadidos por uma sensação de conforto.
Corre-nos ouro no sangue."

Anônimo disse...

"Duvido que Ticiano tenha alguma vez sentido este ratinho a
roer. Os pintores levam uma vida de absorção metódica,
adicionando pinceladas. Não são como os poetas - bodes
expiatórios; não estão acorrentados a rochas. Daí o silêncio,
a sensação do sublime. Mesmo assim, aquele vermelho deve
ter-lhe queimado a garganta."

pág 117 (assuntos de TCC, favor me contactar no email enzopotel@yahoo.com.br)

Anônimo disse...

"O rosto humano é hediondo. As coisas estão como eu gosto.
Quero que a violência e a publicidade deslizem pelas ruas como
pedras durante uma avalanche."

Anônimo disse...

"- Tudo parece estar vivo - disse Louis. - Esta noite não
consigo ouvir a morte em parte alguma."

Anônimo disse...

"E foi assim, nem sempre da mesma forma ou seguindo uma ordem
precisa, que a minha cobertura de cera se foi derretendo, gota
a gota."

Anônimo disse...

"Pensei: "Há uma criatura inútil a rir no sótão", e este
pequeno exemplo serve para mostrar o modo incompleto como
mergulhamos nas nossas próprias experiências. No limite de
toda a agonia senta-se um qualquer sujeito que observa e
aponta; que murmura coisas, exactamente do mesmo modo como me
murmurou uma frase naquela manhã de Verão, na casa onde o
milho chega até à janela."

Anônimo disse...

para terminar:

"Apesar de tudo, o rei Guilherme continuava a ser irreal, com
uma coroa feita de lata. Mas nós - encostados aos tijolos, aos
ramos, nós os seis, sobressaindo de entre milhões de seres
humanos, ardíamos em triunfo, saindo da abundância comedida do
passado e do futuro. O momento era tudo, o momento bastava.
Foi então que o Neville e a Jinny, a Susan e eu, semelhantes a
uma onda que se quebra, nos separámos, nos rendemos - à folha
seguinte."

Nina disse...

Lindo. Das coisas que já li sobre meu Pai, meu Orixá Iroko, essa é sem dúvida a mais linda e provavelmente a mais sincera...Não tenho palavras ainda, por que me tocou de forma que suas palavras me remeteram a não-palavras ou palavras que não existem.
Agradecida pelas palavras.
Que Iroko, lhe abençõe!

Anônimo disse...

Caminho boa distância
É um estirão que me resta
Do cotiteiro são copas
Dos galhos, os ventos, em festa
Com teu olhar de floresta

Tedéu
Belém - Pará