6/27/2011

Turnê

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6/17/2011

Coisas infinitas*


Coisas infinitas. Caminhos bifurcados.Botões e camisas amassados, rasgos de lençol.A mão de uma criança que toca um caminhão de mudança.Os desafetos. Aquilo que não quero ver.A neblina que obstrui a visão da placa.A geografia imensa de um lugar ermo: a geografia das tuas sardas.A vontade de fugir. A vontade de nunca acabar.O seu olhar no céu, o seu olhar dentro de mim. A silhueta de uma pessoa diminuindo ao longo da distância.Memória de roda gigante. O primeiro pulo. O primeiro abismo.O mar. As manchas no meu rosto, as marcas na minha mão.O que ficará,o que jamais passará.O filme mais colorido da memória se desfazendo em branco.O monstro mais solitário do meu armário.A maciez de alguma criatura viva. O que era pedra.O que foi pó.O que nunca mais poderá ensolaraR-se.O agora que não quero ontem.A sensação de frio na barria. A vontade demais. A vontade de menos. O meu sonho.O preto em branco. O sono.
Profundo.

Foto: Raquel Stolf

François Muleka & Ryana Gabech - Flávia Luíza/Trêmulo

6/13/2011

O quarto*


Eu gostaria de morar aqui, neste quarto-Igreja. Se ele pudesse me abrigar.Se eu pudesse ser a paisagem de uma janela abandonada. Se eu pudesse ver todas as luzes de um só vitral. Se eu pudesse me esconder, mesmo com todas as portas e janelas abertas.
Se eu pudesse me perder no céu.
Se eu pudesse me encontrar no horizonte.
Talvez fosse tudo mais miragem,
para mim
tudo mais real.

O quarto

O primeiro quarto estava sujo
o cobertor confundia-se a uma toalha
molhada de poesia e no espelho
a última declaração de amor

O segundo quarto não sabia as horas
de pedir desculpas
dizer adeus, amar

O terceiro quarto partiu
levou junto duas caixas de livros
uma caixa de brinquedos
e um saco de memórias

Tudo cabia numa carroceria
velha e empoeirada
bem ao lado
um retrovisor quebrado
para que não pudesse
olhar para trás

O quarto estava triste
os livros entreabertos
os bilhetes rasgados
o coração partido
e um ventilador ligado
para que não pudesse
juntar os pedaços

*Poema de César Felix
Foto de Fernando Angeoletto

6/08/2011

Pedra*


Pedra pensava que era muito pequena perto da árvore do poder. O fogo era dominador, expansivo, livre demais para se segurar. Pedra cantava para os avós ao redor das pedras de calor. O Xamã a chamava: "Cante para nós menina-pedra". Ela pegava o chocalho, vestia as penas, couros claros, brilhantes azuis.Pedra encantava o céu com sua voz, e todas as nuvens sorriam rosas o seu cantar.Ficava tão emocionada que se agachava chorando de alegria pela manifestação da natureza. Sentia todo o universo segurá-la na palma da mão, agasalhando-a.Pedra cresceu entre os cristais dos barcos, a trilha torturosa dos gatos que miavam estridentes;falas que sobravam em todas as esquinas,imagens.Histórias que a palavra não pode contar.
Para Pedra o vento se dobrou e o fogo é uma pequenina chama adulta, as quais não se é mais necessário amedrontar-se.
Pedra registra geografias de afetos, desenha mapas sóbrios sobre vidas turvas.Onde sempre se é difícil amarrar o fio, largar a corda, olhar para si, costurar os trapos, pular o abismo.Dominar o fogo com a palavra.

*Para Pedra Rosa (lê-se Pêdra)
Se ver como todo.O tudo.
E sentir-se essa pequena semente acolhida pela Terra, fruto: Pêdra, pedra.

Dentro e fora de mim


Esvaziar é sempre mais doloroso
que encher-se.

Assim como a morte fora
dói menos
que a morte dentro.

Tema para Ilha quando parto


Com as turbulências das mudanças repentinas, acabei por perder o vídeo da canção. Mas aqui, pelo menos a letra de uma das músicas que compus com Alegre Corrêa, no Rio Vermelho, Ilha dos Guarapuvus em um março de 2011.
Me traduz.

Tema para Ilha quando parto
Alegre Corrâ/Ryana Gabech

Só sei transbordar
me espalhar para todos os lados
me passar

Virar uma Ilha
Sentir saudades
sem ir embora

Plantar Guarapuvus
por todo o oceano

Entre chás e relvas
cheiro de floresta
casa de Alice

peças, legos

cidades marinhas
a me esperar
sereia encantada

cantam tuas vozes brilhos
teus vãos
tuas ruas
vãs

É preciso partir
mas a ponte reluz
traduz no horizonte o meu quintal

Mundo a me passear
desbravar como flechas
todo mal
me partir

te levar
me ancorar