Os pensamentos voaram e chegaram até a sacada da casa.
Peguei um pensamento-pergunta: "onde estão seus cadernos de poesia?
Ficou ecoando no ar a interrogação.
A verdade é que o tempo foi passando e fui deixando o costume de ter um caderno só de poesia, como antes....Claro que os cadernos "'só de poesia" continham também foto-poemas, capas de filmes, imagens de revista, folhas de laranjeira, e pequenas mudas de jasmim, entre as páginas.
O fato é que com o espaço virtual,tudo virou uma só camada imersiva, que ainda, não possui cheiros nem raízes secas para povoar a página.
Como sou um bicho meio do passado, que queria ter vivido no tempo do rádio, resolvi lapidar meus cadernos de hoje, que parecem mais rasuras do que aquela forma bonita de se pensar poesia, no toque, na terra.
De uns três anos para cá, meus cadernos poéticos estão poluídos com lista de supermecado, contas para pagar, receitas médicas, dias que não posso esquecer, horas que tenho que cumprir, nomes de artistas, endereços de internet, cartazes removidos das paredes da universidade.
Ás vezes olho os grafismos feios no caderno que parecem mais arte rupestre em plenos tempos de evolução tecnológica.
Na correria do tempo, e na luta por mais tempo para criar e para menos racionalizar, muitos exercícios e inspirações da rua, do movimento, em que a caneta e o guardanapo são as única ferramentas, ficaram para trás, em meio às contradições da sociedade moderna: tempo é dinheiro, tempo não volta,
mas fique na fila do nosso Banco.
Na tentativa de lapidar as pérolas nascidas do lápis, do gesto e do papel, recuperei três cadernos do limbo, e farei um olhar "infravermelho"para coisas pré-nascidas e deixadas para trás.
Coisas vermelhas, com um álbum virtual do passado. Já que escrever à mão anda me cansando e esta hospedagem virou meu campo de vôo.
O futuro é feito de lembranças virtuais.