Vozes que ocupam
Todo encanto
Que quer pairar
Vozes que seguem
Falando em silêncio
Ruídos
Ranços
Pratos
Acordos de discórdia
Tratos
Em tentativa vã
De permanecer
O tremor que aflige
No querer segurar
E no precisar soltar
A planície que grita
Uma mensagem
Ao léu
Duas heranças de choros
Inconsolados
Risos que nunca terão
O mesmo som
E a mesma doçura
A bravura que atordoa
O mundo
a pena
A pena do ser sobrevivo
O ruflar de suspiros
As gotas prometidas
E borradas em uma assinatura
Os júbilos
E os fracassos
A auto-amarração
O breque da despedida
As peças sem concerto
A ofegante chegada
gavetas e a prateleiras
Escondidas na memória da estante
As imagens e os batuques
Lanças que atravessaram
Em mim
Quantas vezes o choro
Me apalpou
Quantas mãos que trouxeram
Enigmas
Bússolas
trilhos
e entradas
Tremo para o maior
Tremo para o menor
O que me causa
O que me oscila
O que me arranha
E me suspende
Tremor
O que há pode detrás do ver
O trinco do vidro
Que nunca quebrou
A peça faltante
Tremo em faíscas
Tremo em incertezas
E em certezas
As vozes as vozes ocultas
Que o mundo deserdou
Estão contidas
Nas palavras exprimidas
Da minha mão
Entre uma folha
uns dedos
E a tinta
A tinta que borra meus ideais
Na venda
No morro
Um olho que me mancha
Com amor
E as mãos do senhor
Que conta os pães
As mãos que cometeram uma infâmia
A pedra
A pedra
Que preenche o caminho
Com marcas de sombras
Deixadas pelo sol
O andar ao cume
O descer a lama
O mundo me treme
O menino assustado
Do tráfico
Trêmulo
As vozes das coisas
Que estão ocultas
Ao primeiro toque
E que confessam a fusão
Trêmulo
O medo de querer alcançar
E as pernas bambas
Da chegada
Armas que se fundem
Brilhos que encantam
Para a morte
Balas de luz
Êxtase no escuro
Línguas
Desafios
Canos e granadas
O que você esconde
E o que você mostra
O que você finge
E o que você é
Uma palavra que ama
Uma raiva que perscruta
E atinge com fuzil
Um afago e um corte
Um tapa e um arranhão
Um olho sem vida
Trêmulo
Suas armadilhas
Suas emborcações
Sua justiça e sua injustiça
A partir de si
Vendas que vedam a voz
E a voz treme
Como um bater de palmas
Um aplauso
E um gargalho
Espaço vazio
Uma coleção de borboletas
Mortas
E uma luz que arregaça a janela
Em vibração
A voz corroída e cansada
Que espera no canto de todo
Íntimo
Um canto
canto
Trêmulo
Açúcar e fel
Na mesma receita
6/29/2007
6/27/2007
O vidro de choro verde
Essa chuva verde
teu travesseiro acaba de chorar
chora folhas
molha os tecidos
torce em pingos
verdes pingos
essa fragancia
que quebrou
junto à morte
de uma margarida
em vaso de plástico
uma margarida que
se dissipava no vento
e o frasco do seu choro
transbordou
dos olhos
todas as matas
que escorreram
o verde
que tomaram
a chuva
e alagaram
tingindo a mancha
de uma mata devastada
dentro de ti
foto: Fernando Angeoletto
6/19/2007
Travesseiro de estrela-*
calma estrela
que preenche o seu travesseiro
ao descansar você abandona
as manchas
da parede
procura buracos no teto
para conseguir
dizer
a
deus
nas suas manhãs
o alaranjado preenche
a varanda
e a lareira
o alaranjado iluminado e bruto
das manhãs
as madeiras cheirosas
que seguram a casa
me lembram
o abraço
o abraço entre seus pilares
suas intimidades
mais íngrimes
ficam fogem
das minhas mãos
e eu encosto entre o céu
e espero a estrela sair
do seu travesseiro
e estender no jardim
o sol
*Poema musicado por alegre corrêa
6/11/2007
Reconfissão
Posso ficar um pouco aqui para sempre?Aqui, grudada nesta cadeira com o estômago vazio?Você me perdoaria?Parece que estou presa na cadeira até terminar de pensar. Você me amaria mesmo eu sendo a ferida que mais te arde?Você me perdoaria se eu desse as costas enquanto você fala uma palavra em florescência?Você seria capaz de ver que apesar de te cortar, meu infinito por você é maior?Você aceitaria saber que o que tenho para você, é de rara beleza cristalina e que está atrás de colinas entre arbustos árvores e folhagens, e que eu me aventuro poucas vezes para não perder a essência do sagrado entre nós? Você deixaria eu ir embora sem sentir vontade de voltar?Você entenderia que vivo a transbordar pelos cantos e que explôdo inconsciente?Que não consigo segurar o murro, quando ele me brota?Você pode me aceitar em pedaços?Em sobras de mim?Em cascas de mim?Você me amaria mesmo assim?Você beijaria aquilo que mais renego me fazer parte?Você seguraria minhas duas mãos e tentaria achar e me salvar do precipício?Princípio. Você e seus dedos de faca.Você e essa nuvem regada de tempestade, o seu regador é contínuo, é forte, não cai. Você rega o ferrão. Você alvoroça a primeira carniça livre das amarras. Você prende os pássaros e ata com laços de fita de cetim lilás o bico do passarinho. Você fica olhando o sofrimento e se vangloriando de não ser você o recorte da morte. Você é cheio de escárnio no pensamento. Você brota mau cheiro e enterra a semente no barro seco de uma estrada sem passagem.Você trama, você grita, pede socorro, mas não consegue atender a mudança esmurrando incansavelmente sua porta de entrada. Você foge dos sorrisos mancos.Você não aceita meu sorriso escancarado porque ele é cariado e desinibido.Você quer ver onde estão minhas obturações?Você ainda consegue rir junto ao meu riso doente de expectativas? Eu queria ir sem a culpa de te despedaçar.
Posso também não ir embora. Vou voltar a te confessar isso. Você perdoaria meu silêncio?Você aceitaria minhas raivas espontâneas com o mundo, e minhas pequenas risadas sem limites de expressão?Você está vendo que no meu sorriso sobram cáries?Cáries de discórdia.Você afagaria meu rosto e me ofereceria o peito mesmo eu tendo quebrado seu plano mais promissor?Você me ofereceria um copo d'água e um abraço caloroso mesmo eu sendo condenado ä prisão perpétua?Por um crime hediondo?Eu queria ser clara e límpida como a água de um riacho que corre, corre, sem desespero ou revolta, sem alvoroço de chegada. Mas sou do lodo e do líquido, do delimite entre gasoso e líquido, sou porosa, penugenta e medrosa. Sou sem fim. Você aceitaria minha não certeza?Minha não absoluta certeza?Você aceitaria meu muro de areia movediça?Você ainda me amaria em sua cama, mesmo eu tendo explorado seu último e único centavo?Mesmo eu deixando as dívidas da minha família para você pagar?Você me amaria como no fim de nós dois?Você me perdoaria se eu revelasse que o meu desejo maior só se entrega a você quando estou com os braços presos e os olhos com dúvida?Você passaria os dedos entre minhas pernas mesmo que eu te desmoralizasse no seu bairro inteiro? E diante toda sua Cidade?Você possuiria ainda amor por mim?Você me desejaria se eu cuspisse em suas jóias, arrancasse suas vestimentas e fios de prata e despisse sua ironia a la uísque?Você aceitaria me penetrar olhando em meus olhos mesmo não me querendo para sempre?Você se despiria também de seus deveres e caçaria borboletas comigo, mesmo eu pondo o pé para você tropeçar?Eu matei uma esperança, você ainda me ama?
Você aceitaria que eu vim de um fracasso muito fundo?Daqueles em que se vive o brilho e a fenda.?Desses fracassos que ficam expostos a olho nu, sem remédio aparente. Desses fracassos que ficam esperando a cura. Eu ainda não sarei. Você amaria um enfermo de sentimento?Um enfermo de sentido? Você ainda tem raiva de um próprio passado?Alguém já te bateu em hematomas azulados por dentro? Alguém já te abalou e você ainda dança em cascas de banana o tempo todo? Você também tem um nó de lã gasta e fios embolados como eu? Você me perdoaria se soubesse que quando você me renegou eu te desejei a infelicidade suprema?Sim, eu desejei que você nunca mais fosse feliz. E que quando eu saí da sua vida tinha tanta certeza que não queria mais ver o seu olhar e nem a cor da sua pele, e que hoje eu daria o mundo para passar a mão no seu rosto, mesmo que você já estivesse com os olhos fechados. Eu ainda queria me ver marcada na suas costas. Você ainda me amaria? Você ainda sentiria o mesmo sentido de muitos anos atrás? Mesmo eu sendo este estorvo que ainda almeja o ontem?
Sabe, que muito tempo eu quis a frente, o depois, o futuro e daí eu não soube rir mais do que maldizer. Você me perdoa esse amor que roeu? Essa raiva em blocos que eu te jogava no ar, que eu te pesava as ventanias?Você também errou?Você ainda acha meu pior defeito apenas engraçado?Eu não encanto mais você?Você ainda encanta a mim.Você ainda quer me ver sorrir?Você deseja que eu seja realmente feliz?Você sorri como antes?Com a mesma doçura e pureza? Quem é você?
Posso também não ir embora. Vou voltar a te confessar isso. Você perdoaria meu silêncio?Você aceitaria minhas raivas espontâneas com o mundo, e minhas pequenas risadas sem limites de expressão?Você está vendo que no meu sorriso sobram cáries?Cáries de discórdia.Você afagaria meu rosto e me ofereceria o peito mesmo eu tendo quebrado seu plano mais promissor?Você me ofereceria um copo d'água e um abraço caloroso mesmo eu sendo condenado ä prisão perpétua?Por um crime hediondo?Eu queria ser clara e límpida como a água de um riacho que corre, corre, sem desespero ou revolta, sem alvoroço de chegada. Mas sou do lodo e do líquido, do delimite entre gasoso e líquido, sou porosa, penugenta e medrosa. Sou sem fim. Você aceitaria minha não certeza?Minha não absoluta certeza?Você aceitaria meu muro de areia movediça?Você ainda me amaria em sua cama, mesmo eu tendo explorado seu último e único centavo?Mesmo eu deixando as dívidas da minha família para você pagar?Você me amaria como no fim de nós dois?Você me perdoaria se eu revelasse que o meu desejo maior só se entrega a você quando estou com os braços presos e os olhos com dúvida?Você passaria os dedos entre minhas pernas mesmo que eu te desmoralizasse no seu bairro inteiro? E diante toda sua Cidade?Você possuiria ainda amor por mim?Você me desejaria se eu cuspisse em suas jóias, arrancasse suas vestimentas e fios de prata e despisse sua ironia a la uísque?Você aceitaria me penetrar olhando em meus olhos mesmo não me querendo para sempre?Você se despiria também de seus deveres e caçaria borboletas comigo, mesmo eu pondo o pé para você tropeçar?Eu matei uma esperança, você ainda me ama?
Você aceitaria que eu vim de um fracasso muito fundo?Daqueles em que se vive o brilho e a fenda.?Desses fracassos que ficam expostos a olho nu, sem remédio aparente. Desses fracassos que ficam esperando a cura. Eu ainda não sarei. Você amaria um enfermo de sentimento?Um enfermo de sentido? Você ainda tem raiva de um próprio passado?Alguém já te bateu em hematomas azulados por dentro? Alguém já te abalou e você ainda dança em cascas de banana o tempo todo? Você também tem um nó de lã gasta e fios embolados como eu? Você me perdoaria se soubesse que quando você me renegou eu te desejei a infelicidade suprema?Sim, eu desejei que você nunca mais fosse feliz. E que quando eu saí da sua vida tinha tanta certeza que não queria mais ver o seu olhar e nem a cor da sua pele, e que hoje eu daria o mundo para passar a mão no seu rosto, mesmo que você já estivesse com os olhos fechados. Eu ainda queria me ver marcada na suas costas. Você ainda me amaria? Você ainda sentiria o mesmo sentido de muitos anos atrás? Mesmo eu sendo este estorvo que ainda almeja o ontem?
Sabe, que muito tempo eu quis a frente, o depois, o futuro e daí eu não soube rir mais do que maldizer. Você me perdoa esse amor que roeu? Essa raiva em blocos que eu te jogava no ar, que eu te pesava as ventanias?Você também errou?Você ainda acha meu pior defeito apenas engraçado?Eu não encanto mais você?Você ainda encanta a mim.Você ainda quer me ver sorrir?Você deseja que eu seja realmente feliz?Você sorri como antes?Com a mesma doçura e pureza? Quem é você?
foto: mtfoliveira.blogspot.com
6/06/2007
Longa caminhada por um poema
quero um poema que junte
todos os meus caquinhos
que me desenhe
em pedaços
pedaços que se ausentaram
lascas irregulares
lascas arrancadas
de uma parede
abandonada
quero um poema
que arranhe o sentido
que permaneça
verde em dois
como os olhos mata
amanhecendo em sol
quero um poema que
tenha dentes para sorrir
e caninos para defender
sua esteira de palavras
quero um poema que escorra
nos cabelos
como um banho de lama
açaí e ardor
quero um poema
que fique entre dois corpos
uma só passagem
quero um poema que costure
uma ferida
um poema
que carregue todas as linhas
bordadas em roupas de passagem
roupas que abrigaram o íntimo
e o desconhecido
quero um poema que amacie
o sono
mas que
lembre em penas
a leveza de ainda
dedilhar versos
quero um poema que cante
uma chegada
que assombre a cama do quarto
com tremores vivos
de quem geme o prazer
quero um poema
que piche o horizonte
interno
um poema que grite
no outdoor da avenida principal
eu desejo um poema
que fale o poeta
falando o mundo
pela televisão
em vinhetas coloridas
e banais
quero um poema
em goles bebida barata
e quero um poema com
instruções de uso
para aqueles
que não tem dedos
sutis
para acolher
a poesia
quero um poema
sem dores nos braços
quero um poema com fartura
um poema que não fale
um problema,
mas que descanse os olhos
e a alma
de quem lê
um poema
que fale ao bueiro
e à Imperatriz
que diga a qualquer um
que exista e esteja vivo
vibrando
que fale como um ser vivo
que mostre o sapo morto
e que cheire o chorume das ruas
um poema que traga um suor
e um gozo
um transpiro
e um respiro
e um vôo livre
todos os meus caquinhos
que me desenhe
em pedaços
pedaços que se ausentaram
lascas irregulares
lascas arrancadas
de uma parede
abandonada
quero um poema
que arranhe o sentido
que permaneça
verde em dois
como os olhos mata
amanhecendo em sol
quero um poema que
tenha dentes para sorrir
e caninos para defender
sua esteira de palavras
quero um poema que escorra
nos cabelos
como um banho de lama
açaí e ardor
quero um poema
que fique entre dois corpos
uma só passagem
quero um poema que costure
uma ferida
um poema
que carregue todas as linhas
bordadas em roupas de passagem
roupas que abrigaram o íntimo
e o desconhecido
quero um poema que amacie
o sono
mas que
lembre em penas
a leveza de ainda
dedilhar versos
quero um poema que cante
uma chegada
que assombre a cama do quarto
com tremores vivos
de quem geme o prazer
quero um poema
que piche o horizonte
interno
um poema que grite
no outdoor da avenida principal
eu desejo um poema
que fale o poeta
falando o mundo
pela televisão
em vinhetas coloridas
e banais
quero um poema
em goles bebida barata
e quero um poema com
instruções de uso
para aqueles
que não tem dedos
sutis
para acolher
a poesia
quero um poema
sem dores nos braços
quero um poema com fartura
um poema que não fale
um problema,
mas que descanse os olhos
e a alma
de quem lê
um poema
que fale ao bueiro
e à Imperatriz
que diga a qualquer um
que exista e esteja vivo
vibrando
que fale como um ser vivo
que mostre o sapo morto
e que cheire o chorume das ruas
um poema que traga um suor
e um gozo
um transpiro
e um respiro
e um vôo livre
brinde
em um momento
de prisão
que não hesite em virar
em todas as esquinas
que sobreviva a calçada
e a dor do amor
um poema que ocupe
um lugar concreto
que ocupe uma cadeira
em algum lugar
do mundo
um poema com a certeza
de uma descoberta
e a leveza e liberdade
de um vapor cheiroso
um poema que descasque uma fruta
um poema que amarre as mãos
de quem não é feliz
um poema que faça ver um cego
um poema oração permanente
que não hesite em virar
em todas as esquinas
que sobreviva a calçada
e a dor do amor
um poema que ocupe
um lugar concreto
que ocupe uma cadeira
em algum lugar
do mundo
um poema com a certeza
de uma descoberta
e a leveza e liberdade
de um vapor cheiroso
um poema que descasque uma fruta
um poema que amarre as mãos
de quem não é feliz
um poema que faça ver um cego
um poema oração permanente
sussurada
a cada momento do dia
sem precisar
ajoelhar
um poema sem janelas
e com toda a paisagem
sem maneiras de dizer
e com toda a paisagem
sem maneiras de dizer
sem pudor
ou baton
um poema que corra ao meu
lado
que acompanhe a travessia
em silêncio
um poema sem vergonha
de vestir
e despir
um poema sem afirmação
um poema que conviva
no barulho da chaleira
que converse as águas que
escorrem da louça
um poema borrão do chão
um poema que assente como a poeira
no porta-retrato
com uma pulsão
sacudida
um poema com uma dúvida
que pertuba e desperta
imediatamente
que faça andar a quem está imerso
no parado
ou baton
um poema que corra ao meu
lado
que acompanhe a travessia
em silêncio
um poema sem vergonha
de vestir
e despir
um poema sem afirmação
um poema que conviva
no barulho da chaleira
que converse as águas que
escorrem da louça
um poema borrão do chão
um poema que assente como a poeira
no porta-retrato
com uma pulsão
sacudida
um poema com uma dúvida
que pertuba e desperta
imediatamente
que faça andar a quem está imerso
no parado
que faça rir
a quem quase está
que faça chorar
quem a muito tem amarrado uma vontade
uma confissão oculta
de jorrar todas as pedras
reunidas no meio do corpo
em líquido salgado
torrente que liberta
quero um poema
com uma camada de vento
e brisa
para respirar as ventanas
de quem precisa de mar
nos ouvidos
para aqueles que desejam
se encher
e se esvaziar
quero um poema que aja
como um grão de areia
grudado entre os dedos do pé
permanentes até a terceira saculejada
que coce
afete
trema
um poema chocalho
em notas sujas
e cheias
juntas
um poema-marca
que faça sentido a quem
mexeu
mobilizou
que faça chorar
quem a muito tem amarrado uma vontade
uma confissão oculta
de jorrar todas as pedras
reunidas no meio do corpo
em líquido salgado
torrente que liberta
quero um poema
com uma camada de vento
e brisa
para respirar as ventanas
de quem precisa de mar
nos ouvidos
para aqueles que desejam
se encher
e se esvaziar
quero um poema que aja
como um grão de areia
grudado entre os dedos do pé
permanentes até a terceira saculejada
que coce
afete
trema
um poema chocalho
em notas sujas
e cheias
juntas
um poema-marca
que faça sentido a quem
mexeu
mobilizou
ou cortou
algo em si
um poema que leia
o olhar vedado
de um sonho
que esperou muito
para acontecer
e ainda está
uma poesia que dissolva entre os membros
do corpo
uma poesia que tenha pernas
próprias
uma poesia que dissolva entre os membros
do corpo
uma poesia que tenha pernas
próprias
que ande sempre
que nasce
cresce
reproduz
e reproduz
sempre
que console um desespero
que molhe as retinas gastas
que refresque a pele
e acene com alegria
e asas
todas as
chagas
redemoinhos
e escancaros
presos na memória
presos na memória
um poema que cure
a falta
que aceite a morte
que ensine a vontade
que seduza o paladar
que acalme com duas mãos
quentes
uma grande dor
que traga um copo
de esperança
para quem precisa
permancer
que distribua senhas
infinitas
para os que pedem socorro
para viver
foto sobre o trabalho de Pina Bausch
Nos corredores do CEART, Canabarro me contou....
"A arte é uma puta velha
ela te explora
até o máximo
até seu último centavo
mas o prazer que ela
te traz
é tão intenso e tão bom
que você fica viciado nela
o resto da vida"
Afonso Benetti
Ps-Tive que parar e anotar até o nome da figura....rs..rs..Porque nem só de dores-palavras se faz um blog...Com riso, alegria e café.Finalmente alguém me respondeu o que eu mais queria saber sobre arte (no momento).
foto Marina Abramovic
em Balkan Erotic Epic
Muro- de Enzo Potel
Parede de pedra, alvenaria, adobe, taipa ou tijolos que serve para vedar ou proteger qualquer recinto, grande ou pequeno, povoado ou não povoado, a fim de não ser assaltado
ou devastado.
O muro de Luccano, Itália, foi construído para proteger vila de mesmo nome, situada no alto de uma colina íngreme. Ambos, vila e muro, foram destruídos por tremores de terra em 1694.
O muro do Diabo, paliçada construída na Alemanha pelos romanos, foi elevado e guarnecido de torres pelo imperador Probo. Alguns restos ainda subsistem para a alegria das crianças na região da Baviera.
O muro feitiço de Rothbar não impediu que o príncipe o pulasse e conhecesse sua amada em O Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky.
A muralha de Sesóstris, no Egito Antigo, era frequentemente visitada por tempestades de areia, o que exigia manutenção especial. Em seus duzentos anos de vida foi mais atacada por vassouras do que por espadas inimigas.
Todo muro é uma mentira.
Todo muro é uma coleção de pedras no caminho, para propagar que houve aprendizado.
E teu olhar também era de muro. E quando abria a porta e me via, estava lá escrito:
“eu não preciso mais de você”.
E este muro frieza expelia ar glacial de palavras rasas, e sobrancelhas cobriam arrogância e rictus de escárnio. E eu parado, contemplando a inexata e última construção da paixão: esse estado de perda travestido de bom senso, em que um vingador de si mesmo tenta esconder com pedras
um jasmim.
ou devastado.
O muro de Luccano, Itália, foi construído para proteger vila de mesmo nome, situada no alto de uma colina íngreme. Ambos, vila e muro, foram destruídos por tremores de terra em 1694.
O muro do Diabo, paliçada construída na Alemanha pelos romanos, foi elevado e guarnecido de torres pelo imperador Probo. Alguns restos ainda subsistem para a alegria das crianças na região da Baviera.
O muro feitiço de Rothbar não impediu que o príncipe o pulasse e conhecesse sua amada em O Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky.
A muralha de Sesóstris, no Egito Antigo, era frequentemente visitada por tempestades de areia, o que exigia manutenção especial. Em seus duzentos anos de vida foi mais atacada por vassouras do que por espadas inimigas.
Todo muro é uma mentira.
Todo muro é uma coleção de pedras no caminho, para propagar que houve aprendizado.
E teu olhar também era de muro. E quando abria a porta e me via, estava lá escrito:
“eu não preciso mais de você”.
E este muro frieza expelia ar glacial de palavras rasas, e sobrancelhas cobriam arrogância e rictus de escárnio. E eu parado, contemplando a inexata e última construção da paixão: esse estado de perda travestido de bom senso, em que um vingador de si mesmo tenta esconder com pedras
um jasmim.
foto:
Isadora Duncan e Pina Bausch
Se deixar tocar-Um texto sobre um sentido muito íntimo
Quando nasci Deus pegou uma linha e fez um laço, no meio do meu peito. Às vezes Ele aperta o nó.Às vezes Ele afrouxa minhas costas, enche o meu balão.Eu flutuo. Às vezes, e quase sempre, quando alguém puxa a linha, eu evaporo. Eu gosto do que eu sinto. Se eu te sinto bem, vou ser bem.Se eu te mal, meu espírito te expurga. Às vezes eu não gosto de ser assim, às vezes eu não tenho escolha. Por que isso, quem tem que responder é o criador e a criatura juntos, e não só um, ou só outro. É pela linha, pelo fio que já foi dito "nem um fio de cabelo cairá da tua cabeça, sem que Ele permita", então, ele tem um olhar sobre mim, e pode me ver no íntimo.Ele com visão integral, pode me afirmar. Os outros, podem só dizer. Então eu vou deixar Ele me mostrar. Se a minha linha arrebenta bem na sua vez, lá no meio de mim, algo reage.E eu não quero comprimir. Posso amenizar, mas não comrpimir. O que eu aprendi é ser. E conseguir isso é o cume da montanha.Eu já escolhi ser.Olhar o lodo, o denso e acariciar aquela parte. Aqui, diante desta terra eu posso sentir em meu coração alinhavado: apenas seja.Seja este fio que te amarra, que às vezes solta a ponta na escrita, solta a costura entre as tintas e as duas mãos.Quase sempre, venho pedindo à Ele que tire a linha. Por que as vezes a linha tem um peso, o peso de uma Cruz. Ora, eu não posso não sentir?Não posso desligar o sentido?Por que sentir dói?Às vezes, quando vem alguém com uma agulha e quer atar a linha, costurar, eu recuo. E ataco! Porque a agulha não foi feita para espetar, nem pra mexer na ferida. Quando ela vem, ela destina-se a costurar. Ou será que eu aprendi errado?Eu não espeto ninguém, se espeto, eu penso,"que Ele sempre esteja ao meu lado, para eu ser compreendida exatamente como sinto".Muitas vezes eu espeto, mas se eu sei o que houve, meu coração aperta, e eu tenho que ceder a linha.Se eu não sei, foi porque não consegui adivinhar, nem ler os sinais.Mas apenas "dos que sabem, o que sabem, vos será cobrado" Quase todo o meu sentido é " em nome Dê". Porque já disse das flores a mais bela: "fé, é fazer em nome Dê"Às vezes, Ele me dá o mérito de um sorriso avulso, pois eu peço muitos sorrisos.Eu peço também muita compreensão, porque com uma linha tão fina e estreita no meio do meu centro, não posso arriscar puxar o fio muito bruscamente, é delicado demais ter um coração alinhavado. E é preciso não alimentar redes.Quando tá muito apertado o sentido, a linha arranha, e eu peço muita força, porque as vezes parece que essa linha tão fina e estreita pode cortar a pele, aprofundar o corte. Daí eu suspiro, e ajoelho.Assim o nó dói menos.A linha que linha meu centro, é fragmento, é ruptura. A linha é bem fina e o meu centro às vezes não se deixa tocar.
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