6/29/2007

Trêmulo

Vozes que ocupam
Todo encanto
Que quer pairar

Vozes que seguem
Falando em silêncio
Ruídos
Ranços
Pratos
Acordos de discórdia
Tratos
Em tentativa vã
De permanecer

O tremor que aflige
No querer segurar
E no precisar soltar

A planície que grita
Uma mensagem
Ao léu

Duas heranças de choros
Inconsolados
Risos que nunca terão
O mesmo som
E a mesma doçura
A bravura que atordoa
O mundo
a pena
A pena do ser sobrevivo

O ruflar de suspiros
As gotas prometidas
E borradas em uma assinatura

Os júbilos
E os fracassos
A auto-amarração
O breque da despedida
As peças sem concerto
A ofegante chegada

gavetas e a prateleiras
Escondidas na memória da estante

As imagens e os batuques
Lanças que atravessaram
Em mim

Quantas vezes o choro
Me apalpou
Quantas mãos que trouxeram
Enigmas
Bússolas
trilhos
e entradas

Tremo para o maior
Tremo para o menor
O que me causa
O que me oscila
O que me arranha
E me suspende

Tremor

O que há pode detrás do ver

O trinco do vidro
Que nunca quebrou

A peça faltante

Tremo em faíscas
Tremo em incertezas
E em certezas

As vozes as vozes ocultas
Que o mundo deserdou
Estão contidas
Nas palavras exprimidas
Da minha mão
Entre uma folha
uns dedos
E a tinta

A tinta que borra meus ideais

Na venda
No morro
Um olho que me mancha
Com amor
E as mãos do senhor
Que conta os pães

As mãos que cometeram uma infâmia

A pedra
A pedra
Que preenche o caminho
Com marcas de sombras
Deixadas pelo sol

O andar ao cume
O descer a lama
O mundo me treme


O menino assustado
Do tráfico

Trêmulo

As vozes das coisas
Que estão ocultas
Ao primeiro toque

E que confessam a fusão
Trêmulo

O medo de querer alcançar
E as pernas bambas
Da chegada

Armas que se fundem
Brilhos que encantam
Para a morte

Balas de luz
Êxtase no escuro
Línguas
Desafios
Canos e granadas

O que você esconde
E o que você mostra
O que você finge
E o que você é

Uma palavra que ama
Uma raiva que perscruta
E atinge com fuzil

Um afago e um corte

Um tapa e um arranhão
Um olho sem vida

Trêmulo

Suas armadilhas
Suas emborcações

Sua justiça e sua injustiça
A partir de si

Vendas que vedam a voz
E a voz treme

Como um bater de palmas
Um aplauso
E um gargalho

Espaço vazio

Uma coleção de borboletas
Mortas
E uma luz que arregaça a janela
Em vibração

A voz corroída e cansada

Que espera no canto de todo
Íntimo

Um canto
canto

Trêmulo

Açúcar e fel
Na mesma receita

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