“ Insisto na inútil resistência
De sentir seu perfume entre
Os jasmins de plástico, no vaso que enfeita a janela
Abandonada por mudanças
(...Só eu e todo os papéis do mundo sentimos sua falta)”
Mia Vieira
Vou escrever este documento, porque talvez um dia você possa passar os olhos por algo que tenha as minhas palavras implícitas, ou talvez alguém te conte uma história como essa.
Este é um documento de uma morte que brota na fresta de uma porta fechada. Você já ficou abismado, sem saber para onde ir, olhando para sempre a porta, que já esteve escancarada?Esperando a sua chegada? Embora eu pareça um totem de força e alumínio bruto meu íntimo é aquoso e cremoso, eu sou quase inteira pastosa a primeira palavra. Depois desta sua fuga ando debatendo por todas as paredes o por que de você ter aparecido. O por que de eu lembrar ainda com dor os seus traços já sem mim.
A sua fuga desata qualquer nó e qualquer laço. Embora as vezes eu também quisesse ser uma amarra sua, assim talvez você perderia mais tempo tentando me desatar e assim permaneceria mais preso aos meus apreços, mais atento a mim. Mas desde o início nós sempre voávamos como proposta ensolarada para os dois, seria injusto agora eu querer ser um barbante amarrotado para estar próxima de você.
Com o tempo e a esperança plantada no peito de quem você tem vontade, você sai com um cesto cheio. Quem tiver um belo sorriso leva do seu fruto. Você percebe, faz perguntas, e toma nota no seu questionário, qual foi a bela moça que ofereceu um abraço em troca de uma cesta vazia. Você é o rei de fazer mais feliz a qualquer mulher: segurança, taipa, veleiros, suspiros, vinhos, planos de viagem, jangada, paisagens e florestas.
E, no entanto, ao primeiro momento de tremor no barco, você não divide o medo não ata os braços, não se preocupa. E chegam de civilizações opostas, mais mulheres infundas que querem experimentar das suas cestas de oferecimento. Você sede a mais um contrato de prazer, e embora fale gostar de voar, você se diz preso a tudo outro, menos a mim.
Em meio aos maremotos amarelos, você expulsa as outras anciãs fica confuso e se tranca sozinho nas ruínas do que construiu. Novamente, não me dá a mão. Foge, foge como se não tivesse prometido passeios, como se não conhecesse mais o meu corpo, como se não tivesse falado as esperas, como se não tivesse dito epígrafe s de grandes amantes, como se nunca estivesse inteiro ali.Você não falou que estava. Mas o seu silêncio e o seu suspiro em mim me davam a certeza que sim. A sua fuga rompe todas as vertigens prazerosas que nós atingimos entre goles e línguas. Você fez brotar algo neste deserto árido e seco, uma terra que há muito não havia nada, mas você coroou jasmins em uma planície airada entre os meus seios. Conseguiu obter umidade e nutrir a pele.
A sua fuga é como a dor de um filho desaparecido.
Este documento é para que em qualquer lugar que esteja, antes de sair, nunca plante uma constelação nos olhos de quem ainda não conhece a luz
8/04/2007
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