A correspondência do afeto de Henriqueta Lisboa e Carlos Drummond que chegou a mim através do Jornal Suplemento diretamente de BH- Minas Gerais copio aqui, para delícias entre os poucos e especias leitores deste Blog:
"O seu livro chegou nos primeiros dias de inverno.Eu estava com uma gripe miúda, mas implacável-que até hoje me persegue. Instalada na minha cadeira de balanço, fui lendo o que você enviou.Além do Devaneio, tive o conforto de conhecer, devagar e detidamente, o balanço de um grande coração. Como pode ele transmitir tranquilamente, para lá, para cá, ente o viver quotidiano e as coisas inefáveis?"
Carta de Henriqueta respondendo e agradecendo a Drummond o envio do livro Cadeira de Balanço.
Outros Trechos de cartas de Henriqueta
"Minha avó costumava acordar a netinha tocando-lhe o rosto com uma folha malva. Você agora me saúda-irmão-com a mesma delicadeza de antigamente."
" Depois de ler e reler Sentimento do Mundo, quero manifestar-lhe a impressão que me causou este livro estranhamente sofrido, intensamente realizado. Não conheço, na poeisa brasileira, livro mais grave do que esse;nem mais sóbrio na sua plenitude artística, nem mais triste, na sua substância anímica. Do absoluto real, e só dele, se alimenta a sua poesia: grave, pois, pela força do elemento humano. Sóbrio pela concentração dessa força nos limites de uma arte impressiva, talhada a golpes firmes e fundos. E triste pela obstinação que o leva a refletir unicamente o lado cruel da existência. Talvez se explique o sentido da sua poesia à evidência de um choque entre cultura e civilização, se é que à primeira se condicion o espírito e à segunda matéria. Como poeta da hora presente ("Mãos dadas"), você raliza, com a sua arte seca e breve, uma espécie de balança em que se equilibram, de um lado, as nostalgias secretas de um mundo apenas entrevisto e logo perdido (" Havia jardins, hava manhãs naquele tempo!") e, de outro, a irretorquível necesidade de viver a vida quotidana, a vida de hoje, com todos os seus apetrechos de emergência"
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