esta música
12/23/2008
Último Andar
esta música
12/18/2008
Samba (para Leandro Fortes)
a flor
do terraço
da vista
visita de aperto
abraço
saudade
te jogas em ondas
fixa, almeja, anda,
faísca
dia-dia
é um medo chamado nostalgia
sai meio a tardinha
volta depois de três dias
um cactus
meu improviso
é a falta do nosso sorriso
o que pode ser de nós?
até um dia
do terraço da vizinha
vem e acena
nossa vida em fotos
cartazes de alegria
até um dia
perdão
o peito arde
mas eu preciso de razão
sinto saudade
do mil e novecentos
dos três e cinquênta
do porre
do passe
do xote
Rodo e passo
é a flor do perdão
no meu terraço
12/12/2008
O sol da linguagem: Hilda Hilst
Hilda Hilst: Nome escrito entre os montes de areia fina, nome de jangadas e canoas do futuro poético. Imagine daqui a dez, vinte anos (quando o mundo a descobrir mesmo), uma frase de Hilda em placas, barcos, jangadas:
"A vida é crua. Faminta como um bico de corvos. E pode ser tão generosa e mítica: arroio,lágrima,olho-d’agua,bebida. A vida é líquida"
Fernando Karl a entrevistou , e essa passagem é linda, não tem como passar reto:
Fernando José Karl – Para terminar, rápido e rasteiro – qual o mistério dos mistérios para você?
Hilda Hilst – Eu penso que seja a paixão, a nostalgia da paixão, que é terrível, mas que, por outro lado, faz você revivescer. Para mim, me apaixonar com pudor era uma coisa maravilhosa. Mas, até mesmo nas minhas fantasias eróticas – e eu estava sempre só quando as tinha – eu ansiava por uma imagem e, vocês sabem, ansiar imagens é infernal. Você não sabe qual imagem vai olhar sua decomposição na velhice.
Eu desejo que quem me olhe seja meu cúmplice, cúmplice de minha sina.
mais em: http://nautikkon.blogspot.com
12/11/2008
Restos de uma enchente
os canos que não foram rebocados
os canos cortados
amputados
em uma parede
sem história
Que desta massa de contrução
nasça uma rosa
que nesta enchente turva
dance uma bailarina vermelha
que as frutas brotem
da terra podre
Mentirinha- para Bento Nascimento
não foi tão difícil assim
se mostrar para o mundo
de mentira em mentira
a verdade veio ao rumo
de frente
com essa sua mania
de não responder com o peito
a palavra soou
uma relação cordeal
que dançava
no nariz do pinócchio
acreditamos
você e eu
que essa história
de deixar para depois
era uma mentira
disfarçada
de covardia
Álbum Vermelho
Os pensamentos voaram e chegaram até a sacada da casa.
Peguei um pensamento-pergunta: "onde estão seus cadernos de poesia?
Ficou ecoando no ar a interrogação.
A verdade é que o tempo foi passando e fui deixando o costume de ter um caderno só de poesia, como antes....Claro que os cadernos "'só de poesia" continham também foto-poemas, capas de filmes, imagens de revista, folhas de laranjeira, e pequenas mudas de jasmim, entre as páginas.
O fato é que com o espaço virtual,tudo virou uma só camada imersiva, que ainda, não possui cheiros nem raízes secas para povoar a página.
Como sou um bicho meio do passado, que queria ter vivido no tempo do rádio, resolvi lapidar meus cadernos de hoje, que parecem mais rasuras do que aquela forma bonita de se pensar poesia, no toque, na terra.
De uns três anos para cá, meus cadernos poéticos estão poluídos com lista de supermecado, contas para pagar, receitas médicas, dias que não posso esquecer, horas que tenho que cumprir, nomes de artistas, endereços de internet, cartazes removidos das paredes da universidade.
Ás vezes olho os grafismos feios no caderno que parecem mais arte rupestre em plenos tempos de evolução tecnológica.
Na correria do tempo, e na luta por mais tempo para criar e para menos racionalizar, muitos exercícios e inspirações da rua, do movimento, em que a caneta e o guardanapo são as única ferramentas, ficaram para trás, em meio às contradições da sociedade moderna: tempo é dinheiro, tempo não volta,
mas fique na fila do nosso Banco.
Na tentativa de lapidar as pérolas nascidas do lápis, do gesto e do papel, recuperei três cadernos do limbo, e farei um olhar "infravermelho"para coisas pré-nascidas e deixadas para trás.
Coisas vermelhas, com um álbum virtual do passado. Já que escrever à mão anda me cansando e esta hospedagem virou meu campo de vôo.
O futuro é feito de lembranças virtuais.
12/08/2008
Bilhete promessa
Meu amor. Acabei não resistindo a vontade de deixar esse bilhete. A geladeira é o primeiro lugar onde sua preciosa mão pousa pela manhã.
Ontem você escondeu as chaves de novo. Quase perco a hora do trabalho. Parece que faz pra implicar comigo.
Prometo procurar você novamente apenas quando estiver com o sorriso de ontem. E com a mesma maçã nos olhos. Prometo pegar na sua mão e não deixar você sentir medo. Vou te abraçar enquanto você dorme,e preparar o café.Quero perguntar com quantas pessoas você falou no dia, quem ajudou, brincou ou cruzou o seu caminho.
Quais foram as cenas entre as horas monótonas do serviço que mais desconcertaram seu programa . Prometo lhe dar flores, e preparar a máquina de lavar.
Estender os lençóis,dar comida para o gato e ligar quando estiver doente.
Prometo pisar de mansinho quando descer a escada para beber água,no amanhecer frio da sua sala sem tapetes.
Prometo preencher a casa de girassóis, e esperar você terminar de falar a frase inteira, o pensamento como um todo.
Sim, prestarei atenção quando você se emocionar para responder alguma pergunta de família.
Quero ver todos os seus álbus de infância.
Prometo suspirar ao ouvir a sua voz.
Mas meu bem, não me ligue pela madrugada
e nem me incomode, esperando devolta
as cores que pintei sua vida
Não chore quando eu for
e não me pergunte
se eu senti saudades
quando voltar
12/06/2008
12/05/2008
12/03/2008
Zeitgeist II
explosão
ser tomada por um acontecimento
uma queima
de arquivo falso
a interrupção de um assalto
a apatia das cadeiras
em ordem
as fileiras e os padrões
a frieza do sobreposto degrau
do mestre
me faz rir
é frieza e didática
a dialética
os seres desumanos querem
emoção
cobrança de notas
papéis quadriculados
por presenças
maquiadas
disfarçadas
quero a força intensa do quebrar
melhor
fazer parte de um lugar
onde as pessoas podem falar
foder
orar e pintar
sem terem de apontar o dedo
para o reflexo
quero essa criaça cor-de-rosa
correndo entre as pernas
de seus pais
e que ela possa conhecer
tudo verdadeiramente
que possa se estender
entre as águas da cachoeira
conhecer o mar
olhar a janela de sol
e poder escolher
se deve ficar ou cumprir
ganhar ou perder
ser frágil
quebradiça e sem vontade
ou
ser bruta
ferro derretido
canina
possuir
ou perder
não ser indicada
quero sair do muro
e não ser
revistada
estapeada, cuspida,
encaixotada em um padrão
quando não fiz isso à ninguém
Não mereço estar de frente
para esta esta tela
por trás dessas imagens
ameaçadoras
um revólver
vendido no mercado
quero explodir no acontecer
e não na mesmisce das
notícias vãs
quero poder saber
se quero
prevenir
ser o que não sei
se sou
pois estou andando
e apenas
quero continuar
11/25/2008
11/19/2008
Zeitgeist
"Veremos
o quão é importante
trazer para a mente humana
a revolução radical
Essa crise
é uma crise de consciência
uma crise que não pode
mais
aceitar as velhas normas
as antigas tradições
E, considerando
o que o mundo é hoje,
com toda a miséria
conflito
brutalidade destrutiva
agressão
o homem ainda é o mesmo de antes.
Ainda é bruto
violento,
agressivo,
acumulador, competitivo
ele construiu
uma sociedade
baseada
nestes termos"
________________________
O que estamos tentando
com toda essa discussão retórica
é ver se não podemos fazer acontecer
uma radical transformação da mente
não aceitar
as coisas como elas são
entendê-las, mergulhar nelas,
examiná-las
use o seu coração, a sua mente
e tudo o que você tem para descobrir
um jeito diferente de viver
mas isso depende de você
e de mais ninguém
porque nisso,
não há professor,
nem aluno,
não há lider,
não há guru,
não há mestre,
não há salvador
você mesmo é o pofessor,
o aluno,
o mestre,
o guru,
o líder,
você é tudo
e...
entender
é transformar
o que há"
Krishnamurti
11/07/2008
11/02/2008
Entre poesia
Só sou eu mesma quando escrevo, logo o mais verdadeiro de mim, a maior essência está ali, naquele embaralhado labiríntico de palavras . Há quem cria. E há quem contempla. Há quem se arrisca a ser poeta, mas poeta mesmo, não consegue viver sem poesia.As vezes as palavras me deixam no meio do caminho.As vezes elas me apontam um. As vezes as palavras me amarram na cadeira e não consigo sair até terminar.E com certeza, esse impulso que move e amaara, vem de uma sentido poético.Só a poesia amarra e liberta. A poesia é livre para fazer de nós o que quiser. Ela está aí. Só basta abrir a porta. Mas não é qualquer um quem pode sair por aí, pocurando as chaves da poesia em si e no outro. É um exercício de contemplar amanheceres, querer ver a sujeira e o apreço.Já ouviu muitos poemas de amor? Que bom, um entre cem poemas de amor são bons. Das obras dos melhores poetas, o que pulsa e vive, o cerne da obra,não fala de amor, fala da vida, da insatisfação, do querer outra realidade.
O tempo do romantismo já passou, e ninguém precisa morrer para escrever poesia. Mas a poesia não pode, nem deve ceder as academias, as grandes instituições. Os poetas, os trovadores, são espelhos do povo, da grande maioria. O livro pode não vender.Mas o disco vende. E o disco tem poesia. A música é poesia com e sem palavra. A poesia é a única nascente onde todas as artes podem se unir. Porque não tem normas. Não tem regras. Quer ser indiferente à realidade? Escreva uma ficção. Invente um personagem. Porque se na poesia você não puder ser o próprio personagem. Nem escreva o poema. Poema é verdadeiro quando é a gente. Quando parte da nossa mísera capacidade de ser alguém que tenta.Que tentar comunicar.Que tenta alguma coisa. Poesia vem da alma. nao tem fórmula, ph, medida, bússola, bula. Não tem. Ela de repente pega de supresa. E a paixão verdadeira é ela mesma. O sexo do poeta é com a poesia, antes de ser com alguém de carne e osso. De repente a poesia quanto a escreviam, enquanto davam á luz um livro, se desproviam de tudo. Bukowski, Mallarmé, Pound, Quintana, Drummond, Hilst, Gullar. Não escreveram poesia por prazer, ela os tirou um pouco da vida, e os colocou no mais profundo mar das sanções, das sinergias, do vazio, do medo. Nenhuma pessoa vive a poesia sem se transformar.
Porque poesia é difícil?Têm pouco público?
Porque quem a escreve tem de doar alguma coisa por ela.Tem que experimentar. Comer a barata?
Viver a barata.
Pensar sentir. Mudar.E quem lê, tem de assistir esse tratado entre o poeta e a poesia, quase sempre ele é conflituoso, verdadeiro e comovente. Ninguém fica ileso. E para viver poema tem de se ter a casca grossa. A gente sempre recusa o que não entende.Não gosta do que não entende. A poesia é tão profunda, que só quem resolveu largar a margem e nadar, pode sentí-la. Um dos primeiros poemas que mais amei ler, não entendi absolutamente nada do que o poeta falava entre as linhas de compostas por palavras e os intervalos entre os brancos dos versos.mas eu gostava.Demorou até alguém me explicar. Nem foi tão bom assim saber, a dúvida era mais interessante.
Poesia é atitude, é querer. É uma ferida com muita vontade de sarar. De modo que atrás de um grande poema, há um grande poeta, uma grande voz, e um eco vibrando para todos os lugares fora da página. Fora do áudio. Fora da imagem. A poesia é o barco do branco eterno que sempre espera o tingir de quem a escreve, e até a cor final de quem lê.É de frente, na frontalidade de uma escultura que se vive poesia, que se escreve poesia. É como andar entre as vidas de todas as coisas. É como estar entre as imagens do filme.
No vulgo espaço entre as vidas,as cenas, abraçando o acontecer,andando entre e sem quebrar os ovos.
10/30/2008
10/20/2008
Presente
era uma janela cinza e branca
uma mão pousava em meu ombro
a luz entre a neblina e o fogo
nós bebíamos
na chícara do passado
que elixir possui
o líquido do passado?
Esta cidade em mim
se cobre de névoa
é branco branco branco
como o luto de um fantasma
sem música
Abre-se o lírio do frio
duas barras de metal
e o grito de uma criança sobrevivente
do meu naufrágio
quem salvará o barco?
Há uma mão em meu ventre
e o presente
dormindo e gemendo
no meu travesseiro
10/18/2008
Charles Bukowski
a história da melancolia
inclui todos nós.
eu, eu escrevo em lençóis sujos
enquanto olho para paredes azuis
e nada.
eu já me acostumei tanto com a melancolia
que
eu a recebo como uma velha
amiga.
eu terei agora15 minutos de aflição
pela ruiva perdida,
eu digo aos deuses.
eu faço isso e me sinto bastante mal
bastante triste
então eu levanto
LIMPO
apesar de que nada
está resolvido.
isso é o que eu ganho por chutar
a religião na bunda.
eu deveria ter chutado a ruiva
na bunda
onde o cérebro e o pão e
a manteiga dela
estão...
mas, não, eu me senti triste
por tudo:
a ruiva perdida foi apenas outro
rompimento em uma vida
de perdas...
eu ouço a bateria no rádio agora
e sorrio.
há alguma coisa errada comigo
alem
da melancolia.
9/25/2008
Suspiro
9/16/2008
9/06/2008
Hilda Hilst
Antes que o mundo acabe, Túlio,
Deita-te e prova
Esse milagre do gosto
Que se fez na minha boca
Enquanto o mundo grita
Belicoso. E ao meu lado
Te fazes árabe, me faço israelita
E nos cobrimos de beijos
E de flores
Antes que o mundo se acabe
Antes que acabe em nós
Nosso desejo.
9/04/2008
No espelho o ar
No espelho dela: três mulheres. Uma de 16 anos. Esta tinha medo cortar o cabelo, engordar e ficar esquecida por algum homem qualquer. Falava com os deuses, carregava amuletos, e descobriu em cima do telhado, a poesia de uma cidade. Esta era apegada ao suor e ao breu. Ficava oras olhando a janela. Não sabia a diferença entre um umbú e uma jabuticaba.
No espelho dela. três mulhes. Uma de vinte e poucos anos. Esta briga com Deus. E chora andando na rua. Nunca arrumou direito o cabelo. E não sabe se devia de fato, o ter. Esta procura um laço de mel. Queria muito, muito mesmo, poder colocar um saco de pão na cabeça. Sem causar alvoroço nenhum. Tem medo do anoitecer sozinha. Se embrulha no medo. E espera quieta tudo se desdobrar por si só. Não gosta de fazer força, e está um pouco cansada, demais. Demais.
No espelho dela. Qual deve ficar?Ou ir?
No espelho dela, muito mais mulheres, ou freiras, ou banais, ou negras, ou brancas, ou secas, ou robustas.
No espelho dela. Parece ser tarde demais.
No espelho dela. Além de todos os reflexos, a dura pena. Continuar. ar.ar.
9/02/2008
O bicho de castigo
eu
gargalhadas estão
contidas entre
meus ganidos
berros e contrários
meu vento
é um redemoinho
onde vão parar os anseios?
estou presa no canto da sala
presa por vozes direcionadas
setas apontando
a janela
e o mundo
mas eu não quero sair daqui.
Não toque
não aproxime
placa
se você pisar
inflamo.
Não é o momento
deixa
eu
o bicho descabelado
que invade as casas
neblina dos cabelos pisados
amarrotados
bicho de pai
e mãe
arrancados da memória
bicho que cheira arranha
eu
porco espinho de praia
mar calmo
na solidão
do ouriço
parece
um castigo
8/26/2008
Dentro da casa
8/22/2008
Itajaí
O homem, o rio e parte.
8/07/2008
8/05/2008
7/22/2008
Trêmulo-composições de Guinha Ramires
7/18/2008
Antes
e rasgando todos os telefones
do passado
desfolhadas escolhas
rostos escritos com giz
você veio ao meu lado
abrindo os portões
lustrando as calçadas
e contando os kilômetros
entre os meus passos de adeus
e um beijo
e se eu quero partir
e colo os frangalhos desta história?
e se de
rente
eu quiser mesmo
ir?
por que você me dá a mão
e segura esse calor
como o solstício
mais esperado da estação ?
você prende meus pés
tapa minha boca
ajeita meu cabelo para uma foto
pego a mala
mas no primeiro passo
pedaço
fica comigo
ou com você?
6/20/2008
Fogo
com o rosto
todo borrado
de nao
mas vim trazendo
uma sacola
com uma constelacao de
mascaras
pressupostos
mentiras contadas ao pe do ouvido
tudo para rir
com voce
ontem eu pisei em dezessete
pocas de lama
desarmei as roupas
brancas
e as brandas tambem
vestido vermelho
de demais amor
muito amor
nasceram crisantemos
negros
nesta minha carta
perdao as palavras
o escorregador
de lagrimas
esta embutido
prateleiras
e prateleiras
colecao de lixo
embaixo da cama
E voce vem com um fosforo
no meu peito
que era
cinza de ontem
e brasa
de hoje
queimo
queimo
queimo
6/03/2008
Desmanche
um dia
agonia explosiva
você no meu passado
tão berço
"Onde andará Fernando Karl?" texto de 2002-quando o poeta-nuvem evaporou-se.Mas dizem que...
5/08/2008
Ícaro e seus balões de cera
4/11/2008
Perseu e o senhor que unge
4/04/2008
Caixa de abelha para Leandro Fortes e Romy Martinez
Caixa de abelha
dentro do guarda roupa
porta de vidro
e notas traçam
o caminho
entre dois
grudo as mãos
esperando você
o seu sorriso
pode abrir
e aparecer
na janela
caixa branca
e amarelada
fotos dos nossos
dias
balões
estourando
de alegria e cor
as abelhas sobrevoam
o quarto
procuram pousar
entre nós
querem nos unir
ao mel
eu vi duas rainhas
andarem no teu corpo
contaram meu segredo
cantaram a orquestra
alinharam as abelhas
a caixa se abriu
e eu não sei se essa música
que toma o quarto
é um enxame
ou a sua voz
saindo da tampa
pairando
suspiros
3/27/2008
joaninhas em silêncio
guardando os seus olhos
faíscas da sua fala
sua roupa
dentro
3/17/2008
Carta dos pingos.
3/10/2008
Em mim *foto: Raquel Stolf
2/18/2008
Pandora e a caixa de cordas
que se abra o violão
e saia a bailarina
e seus pés de asas
que ruflem na caixa
de música
que a madeira do violão
se abra
e vire um barco
no meio do mar
que a dança das luzes
na água
que a dança das folhas
que as formigas carregam
que a dança da sua voz
tornem taciturno todo o caos
por um instante
que a bailarina Pandora
tire da caixa
de cordas
os desatares
a última
réstia de estrela
que a madeira bailarina
do violão
dance no mar
2/11/2008
A Imperatriz das trevas
Até as palavras desaparecerem. E se não existissem palavras? A sua carapuça ia derreter. E se dependesse do seu corpo, como suporte do que você é , o mundo estaria perdido. Além das palavras existe um sentido, o sentido do resto de pó, que você deixa para alguém limpar. Rainha da sujeira, rainha da roupa suja. Venha lavar a marca de sangue das suas palavras. Suas palavras atiram, cospem. Mas na sua carapuça deslavada, você ainda acha que atrás das palavras, pode ficar parecendo a flor mais graciosa e silenciosa do jardim. Até a Imperatriz, sabe varrer onde sujou. Sabe dizer e agir, falar e dar a mão. Para ser rainha, antes é preciso ser escrava, sim. Você seria capaz de dar um beijo em uma criança com lepra?É claro que não. Você é limpa demais. E quando encontra a verdade de palavras lapidadas, um pensamento que cabe ferir alguém com classe, você não hesita em jogar feijão em quem está muito alegre. A alegria que você se frustra em não conseguir ter. Depois você olha o céu, onde de repente você gostaria de plantar sol. Há quem acredite na sua falsa tentativa de ser feliz. É fácil ser leve como a pluma, quando se coloca um caminhão de lama na frente da porta do vizinho. Quem é mais infeliz que eu? Todos devem ser. A terra não pode obedecer só as palavras, dona rainha da colméia. A terra quer ver seu caminhar, a terra quer ver a sua dor e a sua ira, a sua sombra e o seu cais. Não se pode evitar o ruído para se conseguir o silêncio. Só tem mel, quem faz mel, quem dá a mão, quem age. Por trás da suas palavras eu só vejo terra. E por trás da sua cara, eu vejo fel, fel, fel. O fel que liga sua estranha mania de culpar os outros pela sua desgraça. Até as palavras desaparecem. De que valeriam teclas na sua mão, se você não reverencia seu dom, se você reclama , reclama, reclama de terem levado seus anéis. Enquanto de outros, levaram até os dedos. Eu quero ver a Imperatriz das trevas, chorando e pedindo perdão.
2/07/2008
carrosel de milton
1/31/2008
Alas de Giovana
Para Giovana Venturini
O mar e o mel
no meu sorriso
giovana
que dedos você
escolhe para cavar
da terra a esmeralda
em mandala
que povoa o rio
da imaginação?
invisível
onde dormem
as opalas, estrelas
e consteações
da sua voz?
borboletas
portas
alas de feixes
multicoloridos
fractais de luz
a mandala viva
dentro dos olhos
de um menino
com fome
dentro da gota
que beija o rio
a mandala respira
ao lado
a l a
a forma se aproxima
cintila e desenha
firme
o lugar da cor
terra se curva
a quinta
dimensão
sopros entre
turmalinas,
cristais em pó
rondam
entrelaçam
geometricamente
o mundo dança
por dentro
giovana
o mago de suas visões
seus sentidos
entre seus dedos
frágeis e tênues
pincel e cerdas
de cura
cor
cura
cor
a cura do mundo
o mundo dá as mãos
e suspira
giovana
1/29/2008
Ciúme
que de repente
entre a rosa
que você carrega
na mão
e o céu
a solto
por todo
lugar
todo lugar
é aqui que você deseja
realmente
ficar?
Não seria necessário
que você jamais
tivesse sorrido
mas que
eu
na imensa noturna
lagoa do medo
tivesse certeza
de que seu maior
riso
veio do meu abaço
com saudade e sol
Eu queria apagar
todas as fotos
mas não posso apagar
seus prazeres
embora entre nossos
dedos escorra
gozo e água
fogo,
meu íntimo grita
a mesma incerteza:
será da minha boca
ou da boca dela?
será do meu sonho
e do meu falar
que o caminho se abriu
em girassóis e orquídeas?
Ou seria qualquer pele
com cheiro de hortência
olhos de lilás-hortência
que não revestem
apenas
e somente
o meu corpo?
Onde você esconde
sua maor certeza?
é onde eu quero estar
Onde é sua terra?
É nesta que passeamos
em círculos?
é nela?
Noutra
jussara, amarílis,
avenca
menina?
e se eu não puder
dar
aquilo que você mais precisa?
e se aguém o possuir?
Minha placa é de declive
ruína e montanha
embora entre
os nossos suspiros
eu veja a fumaça verde
que costura
nossa minha
esperança em nós
tenho um medo
de não possuir
a vista da colina
que você mais
rememora
o cheiro que mais
marque suas narinas
a pele que você
mais pulsa
suar
meu maior calafrio
é não estar
entre seus eucaliptos
de respiro
embora eu traga
amoras silvestres
que exalam
entre os cabelos
meus pés
são de roda
e buraco
um buraco
de pedra frio,
fundo
e eu tenho um medo imenso
que você queira
mas não consiga
me dar a mão.
1/07/2008
Dente-de-leão
do alto da torre
um dente-de-leão
que ele voe até você
com todas as risadas
que colecionamos
entre a foz
do rio
e o cais
você
dente-de-leão
sempre depois
ruptuosas tempestades
era o único
que se abaixava até o abismo
e me oferecia a mão
joguei as pedras fora
leão
joguei os dentes fora
estou esperando o seu abraço
eu sei que estourei o nosso balão
escárnios e carnes pútridas
que foram aumentando
crescento
na minha alma
até que explodiram
eu juro que tentei não acertar
mas a bala do meu mundo
culminou você
mas estou só
você deixou uma folha
de alcachofra
e uns lápis
gris
como a cor
de nossas capas
e todas as coicidencias
que voam em dentes
para sempre