Se uma estrela
se surpreende inteira
e é a própria constelação
sua voz vem
de duas rochas
que desenham
o redor
de um olho-planície
amedrontado
minhas costas doem
suas dores
as estantes pesam
nossos retratos
o seu medo
do meu dentro
se torna vermelho
sangue
conto as vezes
que estive entre
o seu maior pesadelo
me sopra o vento
torço
para parar
longe da sua faca
não quero ver a dor
e o ódio que você
germina entre as mãos
e o pior,
esse escaravelho
que habita
o meio do seu peito
eu não quis provocar isso
eu que te consertei
os arranhões
que não olhava o presente
mas protegia
em sonho
e suspiro
de gostar
absolutamente
acima de qualquer
agulha
de ter algo para passar
as palmas
e abraçar
em sono
Não preciso mostrar
o corpo para dizer
que doeu
Não preciso ir até
o cume do abismo
e gritar a invasão
e a brutalidade
que se mostrou
entre suas palavras
negras
não preciso chorar
e fingir vidro fino
para mostrar
que cortou
onde você anda escondendo
sua verdade-arma?
estava tudo bem
estava tudo colorido
dentro do meu travesseiro
só esperando
o seu sorriso
12/31/2007
12/09/2007
Areia
Minha avó dizia
que quando ficou
mais velha
ela viu a vida
escorrendo entre
os dedos
feito areia
eu tenho um medo
de deixar ir
parecido com
o dela
não posso segurar
a areia
não posso
deixar de segurar
de tentar segurar
e se há uma
voz no céu
uma voz
que encha d´água
todas as bacias
quero ser a areia
não a mão
quem vai é sempre mais feliz
do que quem
fica
se há uma voz
no céu
que ela segure
um cálice
de vontade
de con ti nu ar
ar
a
a
a
a
r
11/27/2007
nanquim
E se aquele adeus fosse sem dor derramada. Um lágrima que está presa nas minhas retinas. E se você pudesse ter certeza do fim antes mesmo que o presente criasse pernas e começasse a andar. Está tudo retalhado no íntimo, como uma aranha armadeira que tece sua morada como o balanço de um colo de mãe. Parece que a geometria, o calor da terra, e os prismas de cristal, guardam um segredo de nós, parece que está perto demais, e por demais perto sua imagem me satura em grãos. A nossa casa em decomposição. Algum sonho apodreceu em baixo do travesseiro. Seus cheiros absorvem o mesmo momento do atraso, do corte, da finança em escorregador, o caos no jardim, e os lixos espalhados pelo porão de nossas faltas.Eu conto seus suspiros, talvez algum seja o último. A chegada e a partida. Seria esta saída, o último adeus?Eu conto seu último afagar também. Por que você diz adeus, se preencho seu armário de saudade, se pouco do meu perfume ainda envolve seus lençóis, se no teto, ainda há algumas sombras do nosso movimento em meia luz? Por que você diz adeus, se os laços nos puxam pelo pescoço e a nódoa de algumas fissuras ainda preenche o maior lugar do caminho? É um resto que permanece no chão. Uma macha de cor forte vai tornando a aparecer. Primeiro você chega com chagas, e sigo arrancando as vendas da ferida,curo. Depois te peço uma desculpa para desaparecer. E quando o tropeço está escrito tão forte quanto duas mãos em devoção. E se eu vejo a tempestade que se arma no seu olhar. E se eu avanço com medo das suas flechas. Como você pode garantir proeza que é ainda me possuir? Meus pés estão fincados aqui. Você vai correr com as minhas opiniões? Vai pôr pedras na minha esperança que lateja no cinza mórbido que preenche as ruas? E se eu não pudesse dizer nada mesmo vendo todo o precipício. E seu eu quebrasse o espelho do passado e pudesse não olhar para trás. E se u derramasse em nanquim as passagens que levaram meus pés ao sol. E se entre as manchas da minha pegada você ainda pudesse encontrar a chave dessa algema.E se as marcas dos meus pés que saem, borradas em nanquim pudessem voltar a trilha entre nós dois.E se você ainda pudesse me impedir.E se eu pudesse apagar o espaço cada vez maior entre as pegadas do adeus.
11/22/2007
Solução loção- Para Maria Simonetti
Quem me dera
um litro de poção
loção para matar
um sentido
de gozo
fogo
e tortura
um litro
mililitros
e suas migalhas
e seus couros
as últimas peças
que sobraram de você
um caminhão
para o nunca
é o que se resume
o silêncio distanciado
de sorrisos
corpos efêmeros
e voluptuosos
o sopro
o sopro de suas narinas
que percorrem
as costas do nosso
sarcasmo
você ri longe?
você flutua sem mim?
Esta página
solta no espaço
da nossa ousadia
em não aliar
meus dentes pedem você
e eu me emaranho
no pântano
no pântano
a últma solução aquosa
química para desesperados
esquecerem
álcool etílico
que transborda
tesão
tesão que nostalgia
os pés roçando
no cobertor
saudade
saudade
a solução
um litro de poção
loção para matar
um sentido
de gozo
fogo
e tortura
um litro
mililitros
e suas migalhas
e seus couros
as últimas peças
que sobraram de você
um caminhão
para o nunca
é o que se resume
o silêncio distanciado
de sorrisos
corpos efêmeros
e voluptuosos
o sopro
o sopro de suas narinas
que percorrem
as costas do nosso
sarcasmo
você ri longe?
você flutua sem mim?
Esta página
solta no espaço
da nossa ousadia
em não aliar
meus dentes pedem você
e eu me emaranho
no pântano
no pântano
a últma solução aquosa
química para desesperados
esquecerem
álcool etílico
que transborda
tesão
tesão que nostalgia
os pés roçando
no cobertor
saudade
saudade
a solução
10/26/2007
Tatuagem* (A Ricardo)
Esta noite,
jardim de serpentes
que me devoram os pés,
vai gerar o amante.
Ele,
sem nome ou tessitura,
ateará agulhas em brasa
e uma única palavra
sobre meu torso.
Fere-me de asas, sim?
Cega-me.
E em torno de mim
apenas o real,
mar de estanho.
*Micheliny Verunschk
jardim de serpentes
que me devoram os pés,
vai gerar o amante.
Ele,
sem nome ou tessitura,
ateará agulhas em brasa
e uma única palavra
sobre meu torso.
Fere-me de asas, sim?
Cega-me.
E em torno de mim
apenas o real,
mar de estanho.
*Micheliny Verunschk
10/23/2007
Borboleta
E quando dar a vez a um sonho. E tudo se confunde em poder ser inteiro aquele arco-íris sonhado.Fatos correm e afobam-se as labaredas da altivez, desconforto e medo. Um medo traidor de de repente a luz resplandecer. Como ser um pano límpido?Sacolas de lixo rugindo a escravidão da sujeira. Sujeira entre os dedos e as palavras negras. Migalhas de respiro, suspiro e descanso. Unhas de lince, pernas roçantes, e pêlos desconcertados. Cabelos, cabelos, cabelos. Sujeira entre as coisas más e um sentido de carinho pelos objetos.E se de repente tudo pudesse ser mesmo o primeiro impulso. Muitos tapas se dariam. E talvez muitas mortes. Muitos escândalos. E se eu pudesse ouvir toda a verdade? Mas talvez o sonho fosse tão possível quanto o fracasso, mais comum no impulso. O impulso de querer, faz parar o ar da caravela de existir. A caravela pára, lança âncoras e assegura o ser. O primeiro impulso tem a maior força do sonho. O impulso não se desgasta. Passa. Possível. Talvez o sonho fosse mais possível como um pavão que se abre em cores, foco, luz. Mas o que parece só um erro de caminho se fortalece e o monstro da desternura e do orgulho vencido toma maior forma. A forma de um ferro disforme em brasa. Se exposto, queima. E quando mesmo assim a ponte da vida com seu pavão resolve abrir alas?Você vai ser o próximo a seguir o caminho do arco-íris, o arco-íris que certamente você obstinou toda a caminhada? Você criou. Criou o segredo.Você também criou aquela ameba do canto da sala?Aquele ser quase vivo? E quando a conta vira papel e seus cálculos acertaram todos os seus erros. Um erro verídico. Quem está disposto a perdoar? E se você dissesse o íntimo. A verdade mais crua e cruel?E se nunca mais pudesse fingir? E se não quisesse fingir?Falo com muitas vozes.Muitas vozes. Conheço alguma das suas.E se de repente eu pudesse tirar de uma vez por todas essa máscara?
10/17/2007
Turquesa o que não é
E quando de repende todo o azul começa a transbordar. Você começa a derreter em palavras e a imersão de um choro toma uma forma de cor. A cor que alucina e elucida entre meu seu corpo. Eu não queria muitas vezes falar. O medo brota de uma outra vertigem, como o sangue. Começa a correr na veia, mais que uma vontade, mais que um querer de buscar estrela. Sim, eu apanharia mais que uma contelação por nós dois. E estou entre os corais, e estou entre o vento que me toma e a parte muitas vezes que queria descorrer de mim. Já não tremo. Não corro. Nem absolvo a conduta de niguém. O tempo e sua assombrosa carroagem, não passam, voam, acendem, plainam me apalpam. O tempo me provoca como uma bebida que espalha o sangue. o sangue, sangue. Sangue azul neon, sangue lilás, sangue que corre entre o seguro e o desequilíbrio. Eu sou uma sombra que tenta,tenta tremer as bases de uma nuvem. E sou a réstia fina de chuva que se embaraça no céu. Olhe para lá, para o céu além, para o azul derretido que vem inundar.Inundar a perdição de nossos quereres mais bifurcados.
10/10/2007
Nota de Falecimento
Hoje sou essa mulher que chora.Chora.Mulher que despe em água água água todas as coisas. O tremor de todas as coisas. A sua luz que não dormiu acesa no meu colo. Eu esperava que você pudesse me tirar daqui.Minha crosta está aumentando. São planos que deram errado. Quantos você sonhos fracassados você tem colecionado na cama?E no penhasco?
A sua morte repentina. Quem é você que se atirou do 12º andar?Quem te ensinou a não rir das coisas que são longes e pequenas. Quem é você que morreu com um fuzil de dor?Qual das que foram você decidiram tentar voar?
Seu pés percorreram o alambrado. Sua boca correu pontes e atravessou a história de todas as palavras. Seus olhos enxergaram tanto, tanto, que se assustaram. Quem é você que não pode me dar a mão?Muitos pediram para você não tentar. E seus braços que abraçaram galhos, subidas ao cume do deserto abafado em que o todo se alastra. Olhe para mim. Eu preciso dizer que sua risada ausente, muitas vezes me preencheu. Que embora longe, o que é desconhecido também fascina, também carinha, também deseja bem. Seu sorriso me sorria sem saber que eu gostava.E não pude dizer.Você podia voltar para um abraço? Eu ainda choro sua ida.Você começou a brotar asas, antes mesmo que eu dissesse que era um anjo bêbado. Anjos bêbados não tem medos de escadas, de linhas, de cordas bambas. Anjos bêbados procuram o sorriso que o palhaço assustou. Anjos bêbados não tem vergonha de rir, anjos bêbados não tem vergonha de não saber, de estar fora. Anjos bêbados nos encontram pelo corrredor e nos convidam a sonhar na esquina, anjos bêbados nos acompanham em nossos anoiteceres sem luz de fim de túnel. Anjos bêbados nos procuram por detrás da cortina, nos oferecem um copo, nos fortalecem e depois escondem as asas. E quando você foi tentar voar. A sombra dos eu corpo que me apavorou, a sua imagem fica pulsando todo o tempo. Ninguém pode tocar a sua camada mais densa, e você quis pular aquele enorme buraco. E você só queria chegar a ver melhor, e você só queria sentir o vento da lei da gravidade. E você queria se equilibrar na corda, no alambrado, na alma . E você só queria tentar usar as asas que estavam brotando, e de repente você poderia me dar a mão. Os seres pela metade nos acariciam. Eu esprava qu você pudesse me tirar daqui
mas antes de pular esse abismo
deixa eu dizer que estou vendo a sua auréola
cintilar entre os olhos e o óculos
e você só quer mesmo
tentar voar
voar
voar
vo
a
r
para o céu lugar.
A sua morte repentina. Quem é você que se atirou do 12º andar?Quem te ensinou a não rir das coisas que são longes e pequenas. Quem é você que morreu com um fuzil de dor?Qual das que foram você decidiram tentar voar?
Seu pés percorreram o alambrado. Sua boca correu pontes e atravessou a história de todas as palavras. Seus olhos enxergaram tanto, tanto, que se assustaram. Quem é você que não pode me dar a mão?Muitos pediram para você não tentar. E seus braços que abraçaram galhos, subidas ao cume do deserto abafado em que o todo se alastra. Olhe para mim. Eu preciso dizer que sua risada ausente, muitas vezes me preencheu. Que embora longe, o que é desconhecido também fascina, também carinha, também deseja bem. Seu sorriso me sorria sem saber que eu gostava.E não pude dizer.Você podia voltar para um abraço? Eu ainda choro sua ida.Você começou a brotar asas, antes mesmo que eu dissesse que era um anjo bêbado. Anjos bêbados não tem medos de escadas, de linhas, de cordas bambas. Anjos bêbados procuram o sorriso que o palhaço assustou. Anjos bêbados não tem vergonha de rir, anjos bêbados não tem vergonha de não saber, de estar fora. Anjos bêbados nos encontram pelo corrredor e nos convidam a sonhar na esquina, anjos bêbados nos acompanham em nossos anoiteceres sem luz de fim de túnel. Anjos bêbados nos procuram por detrás da cortina, nos oferecem um copo, nos fortalecem e depois escondem as asas. E quando você foi tentar voar. A sombra dos eu corpo que me apavorou, a sua imagem fica pulsando todo o tempo. Ninguém pode tocar a sua camada mais densa, e você quis pular aquele enorme buraco. E você só queria chegar a ver melhor, e você só queria sentir o vento da lei da gravidade. E você queria se equilibrar na corda, no alambrado, na alma . E você só queria tentar usar as asas que estavam brotando, e de repente você poderia me dar a mão. Os seres pela metade nos acariciam. Eu esprava qu você pudesse me tirar daqui
mas antes de pular esse abismo
deixa eu dizer que estou vendo a sua auréola
cintilar entre os olhos e o óculos
e você só quer mesmo
tentar voar
voar
voar
vo
a
r
para o céu lugar.
10/02/2007
O homem e sua casca
E tinha uma casca que envolvia. Era mais grossa que a casca de um ovo de pato. Ele pensava que ninguém percebia. Por isso vivia com a faca na mão. Uma faca que conseguia sujar toda a luminosidade de suas esferas brilhosas, que lantejavam e lantejavam o caminho, quando ele agradecia a vida. Sim, só quando ele agradecia de estar ali, estar ali, simplesmente. A casca as vezes, não deixava se misturar. Esse era o porblema. Aquele enorme deserto ao redor, só fazia com que a faca ficasse mais pontiaguda, mais cheia de fio para cortes profundos. A faca já ia enferrujar, alguns pés de jabuticaba nasceram ao redor. Mas ele não se mobilizava. Achava que a jabuticaba é quem tinha que ir até lá, ser cortada pela faca.De longe, a criatura ouvia os conselhos, tinha vezes que guardava a arma. Mas tinha tanta raiva de si, tinha tanta lama e uma vontade de nao mostrar tão grande sua escuridão que mergulhava no medo e o orgulho por detrás do medo exasperava e se espalhava por todos os cantos, os mais escondidos. Orgulho derramado toma todo o espaço, amedronta e é claro, intimida. Como a faca. Quando resolvia se mexer andava sem as mão no bolso e sem nenhuma oferta para ninguém. Ele achava que ninguém deveria esperar algo dele, ele que era cometa e se pensava menos que uma lagartixa. Mas ao olhar tal belezura e sua casca fina, todo mundo queria arrancar o véu, divulgar a simetria envolvente de seus traços. Mas a criatura mal sabia de sua prisão-casca. Mas a criatura nem sabia se ao arrancar tal pele, não pudesse, por acaso se ofuscar com a luz. A criatura, mesmo imobilizada por aquela segunda pele andava com um olhar insistido de não ter solução para respirar. As vezes pensava em se solucionar, e quando era tomado por isso achava que tinha de mudar de lugar. Mas era preciso mudar o seu lugar consigo, para dentro. Mas logo saía a criatura e sua casca impregnada desbravando novos céus.Em outros lugares, a casca ficava mais fina, o medo diminuia e o orgulho ficava preso apenas a fazer feliz os outros, um orgulho de ser uma criatura boa.As vezes o que estava afundo, resbalava e ele conseguia arrancar a pele e profurar lá dentro de si a faca. Achava que cortando ia ser a solução. E quando se revoltava, colecionava o nome dos ofensores e a cada um, de um jeito, feria de maneira brusca, mudando nomes, violando moradias, escolhendo o melhor discurso que deixasse o outro se sentindo menor que ele. Ele e sua casca de poder.Não dividia os medos. E quando a vida trazia flores, ele cuspia de volta pela janela. Achava que pisar em um presente mataria uma esperança em alguém, esperança essa, que ele no fundo não sabia como alimentar. Recusava os presentes, porque nao conseguia ser feliz ao lado deles, dos presentes, dos presentes. Daqueles presentes que a vida já havia dado, presentes com bocas, presentes com falas, presentes com abraços, presentes com saudade, presentes que sempre viram o homem e sua casca como uma surpresa que chegava por debaixo da porta.
9/28/2007
E quando pensamos em buscar um sorriso mais além. Esta é a resposta. E quando conseguimos. Duas pedras vivas cintilam e cintilam.E torno a repetir as palavras porque ainda elas são naturais como as asas de uma maripoza quando roçam . O repetido é belo.Repito e repito. O grande mistério que envolve os seus dois braços intocáveis para mim. O grande mistério me mantém a te olhar e a te querer ocultamente. Embora eu sonhe tocar os seus pêlos. Embora eu deite em sono, e antes de me sair, fico esperando como será o seu gemido maior. Eu...que a poeira e a traça fazem morada. Há ordenado nesta parede mil cupíns que vibram juntos pelo riso desta morada. A vida vem ocupando um sentido maior. Lavo taça, estendo roupas, e sou tão feliz quanto rolar na areia do verão. E sou tão piso que desejaria ser maria fernanda,ser mano, ser libélula, ser moita, ser vaso de espada de são jorge. Meu desejo preso de nos rir é maior que qualquer medo. Eu queria ser a água que lava os seus olhos. Parece que estou presa, mas quando mais quero ser, quanto mais brinco com o meu buraco, com minha nódoa, minha ferida, mais vôo.
9/25/2007
lugar de mim
Alguns chumaços de luz
preto e branco
é o passado e sua vestimenta
de tortura
a voz vem tecendo
um conselho calmo
vá por ali
embora os pés estejam
esticados
duros e presos
neste chão
é preciso cortar
é a força que controla
a força que torna ofegante
seu respiro
eu esperava sair daqui
você está ao léu
longe de qualquer lugar
que sobre a mim
você não pode alimentar
a minha carne
e no entando me invade
e eu que era tão inteira ali
e eu que parecia penugem
que parecia fantasma
entrando na fresta da porta
um medo de não apagar você
uma dor de ainda estar
ainda ser
com seu andar em molejo
com suas peripáceas
pulos em mim
as armas se dissolvem
e volta
volta volta
a agonia que me pulsa
o seu corpo
o seu suor
sua voz
gasta chorando
um carinho
você dá corda na caixinha
e quando chego perto
vira os olhos
eu queria que
você pudesse me tirar
daqui
ou me levasse com você
o dia invade a obrigação
de estar no ponto
seus colares
estão presos
no meu vestido
mas veja
eu preciso ir
preciso que você
abra a porta
nossas ruas se bifurcam
no vão
e deparo novamente
você não responde
eu grito
você acena do outro lado do continente
está morrendo
está morrendo
eu preciso que você
venha terminar
de matar isso
eu preciso que
esta seja a minha última
palavra de uma morte
que renasce todo dia
em outro lugar
de mim
preto e branco
é o passado e sua vestimenta
de tortura
a voz vem tecendo
um conselho calmo
vá por ali
embora os pés estejam
esticados
duros e presos
neste chão
é preciso cortar
é a força que controla
a força que torna ofegante
seu respiro
eu esperava sair daqui
você está ao léu
longe de qualquer lugar
que sobre a mim
você não pode alimentar
a minha carne
e no entando me invade
e eu que era tão inteira ali
e eu que parecia penugem
que parecia fantasma
entrando na fresta da porta
um medo de não apagar você
uma dor de ainda estar
ainda ser
com seu andar em molejo
com suas peripáceas
pulos em mim
as armas se dissolvem
e volta
volta volta
a agonia que me pulsa
o seu corpo
o seu suor
sua voz
gasta chorando
um carinho
você dá corda na caixinha
e quando chego perto
vira os olhos
eu queria que
você pudesse me tirar
daqui
ou me levasse com você
o dia invade a obrigação
de estar no ponto
seus colares
estão presos
no meu vestido
mas veja
eu preciso ir
preciso que você
abra a porta
nossas ruas se bifurcam
no vão
e deparo novamente
você não responde
eu grito
você acena do outro lado do continente
está morrendo
está morrendo
eu preciso que você
venha terminar
de matar isso
eu preciso que
esta seja a minha última
palavra de uma morte
que renasce todo dia
em outro lugar
de mim
9/11/2007
Sonho
Não. Não pense que eu vou embora. Aquela que está imersa na neblina. Não é agora que eu vou cair. Não pensei que podia chegar aqui. Um mulher com uma perna machucada. Subindo a ladeira escorregadia. A casa. A casa que não se abriga em contagens arranhões e afeições. A casa que não abriga amores em desvantagem nem almas perdidas de um laço. Os bancos tremem. O portão dos seus olhos range.Braços de galhos. Raízes entre os dedos do pé. O repuxo que monta uma ausência nas costas de um indivíduo cabisbaixo. Consolos alcoólicos que derramam a lembrança dos seus dedos quando costurados no meu cabelo.Um objeto pontiagudo que invade a carne. De repente, começa latejar. Uma dor de não ser mais.Não ter mais. Não poder mais. A quentura das suas mãos morango em frêmito na noite. A vontade de ser rio.O rio e o seu privilégio de assistir o nascer e o pôr da lua. A água que ladrilha a casa ao redor, que molha as plantas e reflete as sombras e o sol. Há uma gordura impregnada no meu querer. A casa acolhe as avalanches da noite. O barulho da geladeira é assombroso. Eu escuto os uivos dentro da sua voz branca.E os cômodos em melancolia deixam exalar uma fumaça de ausência. Eu escuto passos, declarações de afeto, e zunes entre revoadas e desavenças. É um registro da parede. É um registro que se desmancha no chão, atravessa as lajes e impregna todo o material de estrutura. Ficam suspiros espalhados de gozo, sons de arrasto, mudanças de trincos cadeados.Você ainda está aqui. Essas migalhas de pão. Sobrou?Já passou?Então não é nada. Nunca foi. Você disse que queria me ver sol, e no entanto foi o primeiro a chegar chovendo nesta campina de uma semeadura sensível demais, fina demais, tola demais. Eu manchei um lago inteiro de choro azul anil. Eu enchi uma bacia inteira de desesperos. São cacos. E cortam. Não rasgue as fotos. Só os restos são eternos. Os restos nunca voam. Ficam ali, impregnando a madeira, grudando forças de ataque e amor, glória e resistência, neutralidade. Entre o telhado e o sótão essa saudade. Que saudade de você. Sua risada avança pela casa atropela as portas e entra de mansinho pelas frestas. Parece um hino da vida. A sua frase mais bem construída, e o seu mais devoto olhar entre as horas que giram ao contrário. Ainda sou essa passagem de barro e pedra.Embora a rua tenha asfaltado você ainda me dá a mão para atravessar. Mostra qual é a flor que nasce do mar. Já passou? Eu manchei uma lagoa inteira de sonhos enganados desde a primeira viagem. Quem vai querer ouvir as histórias sobre o que eu mais perdi?Sobre os atrasos, desistências, frutas que ficaram podres na fruteira do desapetite.Mais um sonho enganado.Já passou?Sempre a ingenuidade.A ingenuidade. A ingenuidade que só cabe entre as cartilagens que geram a pérola.Qual o medo do meu olho atento?Qual é o medo do meu espelho?Se eu fui também aquela que ofereci a mão. O engano. Quando tudo parece atado, laços de força e bronze.Laços de pó. Os sonhos erram, fogem de casa. Demoram para voltar. Fica um lugar sem dança. Um breo de nostalgia se difunde entre os respiros sobrevivos. Os sonhos voltam, vão e voltam. Vivos, maltrapilhos e sedentos arruinando a vontade de torná-los secos.
Imagem *Iberê Camargo
9/08/2007
Guriá, Guriá-Indiara Nicolletti Ramos
(Guria, Guria)
Porque se afastar
ou se perder no caminho
guria,guria
Semear porque a vida
é um grande campo
Onde Ceres ensina
a separar o joio do trigo
A vida, guria
Além de constante derruir
Também é a ilusão do construir
Tudo o que se junta em anos,
Se vai, se vai
Em um sopro
de mãos de conchinha,guria
Guriá, Guriá
Porque ir além de todo o porvir
Além de todo além
Porque se afastar, guria
Caminhar que é a única certeza
A certeza é o estar,
Porque só se sabe
que esta é a sua estrada.
É o teu caminho,
O caminho que para trás você deixa, guria
E estar é o presente
O suspiro dos passos que foram
e o novo passo que inicia
Porque então guria
se perder no caminho
Pois o caminho
já é toda
a tua existência.
Porque se afastar
ou se perder no caminho
guria,guria
Semear porque a vida
é um grande campo
Onde Ceres ensina
a separar o joio do trigo
A vida, guria
Além de constante derruir
Também é a ilusão do construir
Tudo o que se junta em anos,
Se vai, se vai
Em um sopro
de mãos de conchinha,guria
Guriá, Guriá
Porque ir além de todo o porvir
Além de todo além
Porque se afastar, guria
Caminhar que é a única certeza
A certeza é o estar,
Porque só se sabe
que esta é a sua estrada.
É o teu caminho,
O caminho que para trás você deixa, guria
E estar é o presente
O suspiro dos passos que foram
e o novo passo que inicia
Porque então guria
se perder no caminho
Pois o caminho
já é toda
a tua existência.
8/31/2007
branca em neve e seus arranhões
um um pouco desta
estrutura morre um pouco a cada
dia
é negro o paletó que se pendura
a tarde é branca
e úmida
a roupa está grudada
em agonias
afeições
e amarras de fio fino
dói se prender
um pouco de mim
a vela aterrorizante
velou
há ali
entre os desesperos
e o choro do luto
uma mulher
que apodrece
em conceitos e fala
a mulher com um lenço
manchado de desesperança
a mulher em pé
acolhendo o frio
a geada
os pés
gélidos
a mulher que acena
em neve
para uma outra
que se vai
e acorda
a mesma
mesma
estrutura morre um pouco a cada
dia
é negro o paletó que se pendura
a tarde é branca
e úmida
a roupa está grudada
em agonias
afeições
e amarras de fio fino
dói se prender
um pouco de mim
a vela aterrorizante
velou
há ali
entre os desesperos
e o choro do luto
uma mulher
que apodrece
em conceitos e fala
a mulher com um lenço
manchado de desesperança
a mulher em pé
acolhendo o frio
a geada
os pés
gélidos
a mulher que acena
em neve
para uma outra
que se vai
e acorda
a mesma
mesma
8/30/2007
tom
acaba de pousar em meu ventre
um poema
está coçando
procuro o sol do dia
escondido atrás do branco
chuvoso
alguém disse que
o sol
deu as caras
a cortina continua morta
o chão cheio de pêlos
um vestígio assombra
o meu ovido
arrasta-se em granidos
forças opostas
o denso movimento
que acelera entre
nossos corpos
a sua flor salvou o meu quarto
da escuridão
a sua peça
as roupas que te escondem
me trancam
quero falar com
a sua pele
mas a porta é um colar de péroloas
anéis, furtos
preços, tábuas
barras de metal
para te ver
quero seu júblo uivando
meus seios
quero a dança monótona
dos seus dentes
ruidosos
peramulando as minhas noites
procuro
a sua sobra
pelas laterais de um suspiro
e na casa
a casa que habita
a rouquidão de uma ausência
a casa
cheia de guilhotinas
cheia de máquinas
rupturas
e o relógio do tempo
apavorando os cômodos
e o tremor das xícaras
e o fulgor
da campanhia que grita
sua parte em migalhas
juntando os pedaços
ao fundo
na procura pelo raio
se difunde
liquefeito como nossos encontros
em sono
um tom
um poema
está coçando
procuro o sol do dia
escondido atrás do branco
chuvoso
alguém disse que
o sol
deu as caras
a cortina continua morta
o chão cheio de pêlos
um vestígio assombra
o meu ovido
arrasta-se em granidos
forças opostas
o denso movimento
que acelera entre
nossos corpos
a sua flor salvou o meu quarto
da escuridão
a sua peça
as roupas que te escondem
me trancam
quero falar com
a sua pele
mas a porta é um colar de péroloas
anéis, furtos
preços, tábuas
barras de metal
para te ver
quero seu júblo uivando
meus seios
quero a dança monótona
dos seus dentes
ruidosos
peramulando as minhas noites
procuro
a sua sobra
pelas laterais de um suspiro
e na casa
a casa que habita
a rouquidão de uma ausência
a casa
cheia de guilhotinas
cheia de máquinas
rupturas
e o relógio do tempo
apavorando os cômodos
e o tremor das xícaras
e o fulgor
da campanhia que grita
sua parte em migalhas
juntando os pedaços
ao fundo
na procura pelo raio
se difunde
liquefeito como nossos encontros
em sono
um tom
8/27/2007
A flor e a Náusea- Drummond
Preso à minha classe e a algumas roupas
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.
Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvoe dou a poucos uma esperança mínima.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvoe dou a poucos uma esperança mínima.
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
porta do paraíso
tenho uma agonia alinhavada no peito que é ancestral. brinca de ser deus e o diabo.me apavora.quem me vê, desdenha?quero comprar mais que pão.o tamanho do seu olho, me amedronta. esse caminho trilhado, essa bomba vestida de presente. você nunca liga se é tarde demais. fica devanenando as ceitas, oferendas, e me afoita enquanto só penso em bem dormir. essa febre que toma as ruas vestidas de cinza.os trajes pendurados no varal de uma moça que foi abandonada pelo marido.esperas.a sesta de quem precisa curar a gripe e se levantar. off para a janela turbulenta. off para a lâmpada de mais de 100 w. off para a geladeira que impregna a casa de ausências.off para seu conceito abafando o meu etômago.off para suas palavras que são faróis vermelhos piscando a epiderme. tecendo meu arranhão. off para tudo que não for abraço.off para o frio, para um dia a menos de bons momentos.off para os nós, as esperas.espera.espera mais um pouco.
*imagem: J.Beuys
8/23/2007
Henriqueta e Drummond...
A correspondência do afeto de Henriqueta Lisboa e Carlos Drummond que chegou a mim através do Jornal Suplemento diretamente de BH- Minas Gerais copio aqui, para delícias entre os poucos e especias leitores deste Blog:
"O seu livro chegou nos primeiros dias de inverno.Eu estava com uma gripe miúda, mas implacável-que até hoje me persegue. Instalada na minha cadeira de balanço, fui lendo o que você enviou.Além do Devaneio, tive o conforto de conhecer, devagar e detidamente, o balanço de um grande coração. Como pode ele transmitir tranquilamente, para lá, para cá, ente o viver quotidiano e as coisas inefáveis?"
Carta de Henriqueta respondendo e agradecendo a Drummond o envio do livro Cadeira de Balanço.
Outros Trechos de cartas de Henriqueta
"Minha avó costumava acordar a netinha tocando-lhe o rosto com uma folha malva. Você agora me saúda-irmão-com a mesma delicadeza de antigamente."
" Depois de ler e reler Sentimento do Mundo, quero manifestar-lhe a impressão que me causou este livro estranhamente sofrido, intensamente realizado. Não conheço, na poeisa brasileira, livro mais grave do que esse;nem mais sóbrio na sua plenitude artística, nem mais triste, na sua substância anímica. Do absoluto real, e só dele, se alimenta a sua poesia: grave, pois, pela força do elemento humano. Sóbrio pela concentração dessa força nos limites de uma arte impressiva, talhada a golpes firmes e fundos. E triste pela obstinação que o leva a refletir unicamente o lado cruel da existência. Talvez se explique o sentido da sua poesia à evidência de um choque entre cultura e civilização, se é que à primeira se condicion o espírito e à segunda matéria. Como poeta da hora presente ("Mãos dadas"), você raliza, com a sua arte seca e breve, uma espécie de balança em que se equilibram, de um lado, as nostalgias secretas de um mundo apenas entrevisto e logo perdido (" Havia jardins, hava manhãs naquele tempo!") e, de outro, a irretorquível necesidade de viver a vida quotidana, a vida de hoje, com todos os seus apetrechos de emergência"
A última lâmpada
Meu amor. Eu estou me desfazendo. Mantenha-se longe e eu me desviarei no primeiro vento.Montanhas. Você calcou, subiu, desceu, fez o que quis. Não aceitei, mas no primeiro dedo me joguei. Você quer que eu beije seus pés?Você não quer saber nada?Meu amor, o dia está acabando mais uma vez. Mais um dia sem o seu respiro perto. Você já esteve aqui. É com a velocidade e a absurdidade de um sonho, que você me toma. E é tão distante do real e próximo do sonho, que eu simbolizo matematicamente e milimetricamente suas aspirações. Estarei próxima enquanto você dorme.Nada passou.Meu amor, sinto que um pouco de mim já se dilui na sua demora. Vou transborando entre os deus dedos como grãos frios e finos de areia, me esparramo, você pisa, pisa, pisa. Eu juro que plantei mais flores. Mas as suas raízes é que povoam as escadas da casa. É a décima vez que não sei se sigo a placa, ou afoito a sua presença colada entre os dedos do meu medo.A sina prorroga suas entrefaces, eu te assisto na tv. Você passa o brilho dessa estrela fantasmagórica em muitos quereres. Meu amor, a culpa é minha de te querer ainda? Meu amor, mais uma vez, a última luz da noite na mais dolorida janela da vizinhança é a minha. Suas fotos estão a prontidão. Seu elixir reside no meu suor, eu tenho certez. Quanto tempo já durou o seu orgasmo com outro álguém?Meu amor, a única lâmpada que iluminava a cama está se apagando eu estou com muito frio.
8/20/2007
"lista de coisas brancas*coisas que podem ser, que parecem, ou que eram brancas
arroz.açúcar.nuvem.sal.caderno novo.tontura.neve.pérola.céu nublado.sussurro.borracha de apagar.concha.minha geladeira.cabelo branco.vermes.pasta dental.eco.naftalina.dia de sol forte na praia.ovos.morte.tinta de parede.vômito.guarda-pó.cocaína.maionese.roupas de médico e dentista.larva de inseto.dados.pasta d’água.remela.papel.nervo.página.palmito.branco do olho.máscara para pó.quando se esquece de repente.mingau de aveia.dor de cabeça.melão aberto.tempo que não passa.papel toalha.dentro do pequi.sabão de côco.caneta quando falha.vôo.pedriscos de aquário.farinha de trigo.alho.dentro da barata.polpa de fruta-do-conde.franqueza.ossos.quase no fim de alguma coisa.metade da zebra.pelicano.glândula parótida.anseio.sofá.barba.arrepio.miolo de pão branco.sêmen.dentro da semente da fruta.esqueleto.rabo de macaco comodo.guardanapo.couve-flor.insônia.sulfato de bário.cimento branco.iceberg.dentro da maçã.falha.travesseiro.gaivota adulta.urso polar.máquina de lavar roupa.dentro da jabuticaba.magia branca.forno microondas.leveza.roupa delutador de sumo.marfim.entre a polpa da laranja e a casca.cabra-das-neves.flor da figueira-do-inferno.cegueira segundo Saramago.quando a unha cresce.papel higiênico.leite.neblina.dentro do travesseiro de penas.faixa de pedestres.saudade.instante antes do desmaio.saco de leite tipo a, b, c.ovos de siba.legenda de filme.shampoo.varinha de condão.plâncton.cano de esgoto.farinha de mandioca.pólo sul,mosquiteiro.nudez.copo de plástico descartável.interruptor de luz.glândula mamária.cursor.talo de couve-chinesa.desejo.lacre do vidro de requeijão.pólo norte.borboleta.bola de golfe.gás lacrimogêneo.elefante branco.buda.barriga de pingüim.chuvisco de tv fora do ar.flor de heléboro.creme para cabelo.atrás da foto.algodão.paz.secreção nasal.vestido de noiva.pele de quem não toma sol.fumaça de cigarro.sabonete.chocolate branco.ovo de piolho.creme de espinhas.flocos de arroz.talco.bolor de pão.iglu.caspa.flash.nabo.areia de praia.cheque em branco.dente de leite.prédios públicos.leite de magnésia.filhote de urubu.gaze.avião.flor de feijão.coruja-das-neves.dunas.substância gelatinosa de ovos de sublingual.deserto.cal.gato branco.pensar demais.protetor solar.espaço entre as linhas escritas.prato de porcelana.horizonte.requeijão.fantasma.gordura vegetal hidrogenada.lençol de hospital. Coelhos.salada de repolho cru.saponáceo.luz.nosso carro.estrelas.animais albinos.
*parte do trabalho de Raquel Stolf "Lista de Coisas Brancas"
feche os olhos
e me abrace
a cera endureceu
estou tonta
entre os pés
faíscas
entre as unhas
sobras de uma mulher
que escorreu pela cadeira
se remontou
e ao invés de brotar
é fel em terra
é fel que escorre
é fel de grito comprimido.
Viva
a planície de uma janela
limitada
uma reivenção
dos galhos aglutinados
de ruídos
eu estou pó hoje
assentei entre as mobílias
e estou seca
sem passagem para falar
farfalhar
feche os olhos
feche
quero ouvir você rir
estou
no seus olhos fechados
quando me abraço
e me abrace
a cera endureceu
estou tonta
entre os pés
faíscas
entre as unhas
sobras de uma mulher
que escorreu pela cadeira
se remontou
e ao invés de brotar
é fel em terra
é fel que escorre
é fel de grito comprimido.
Viva
a planície de uma janela
limitada
uma reivenção
dos galhos aglutinados
de ruídos
eu estou pó hoje
assentei entre as mobílias
e estou seca
sem passagem para falar
farfalhar
feche os olhos
feche
quero ouvir você rir
estou
no seus olhos fechados
quando me abraço
8/15/2007
Gullar...Gullar...ar..ar
PRIMEIROS ANOS
Para uma vida de merda nasci
em 1930
na rua dos prazeres
Nas tábuas velhas do assoalho
por onde me arrastei
conheci baratas, formigas carregando espadas
caranguejeiras
que nada me ensinaram
exceto o terror
Em frente ao muro negro no quintal
as galinhas ciscavam, o girassol
Gritava asfixiado
longe longe do mar
(longe do amor)
E no entanto o mar jazia perto
detrás de mirantes e palmeiras
embrulhado em seu barulho azul
E as tardes sonoras
rolavam
sobre nossos telhados
sobre nossas vidas .
Do meu quarto
ouvia o século XX
farfalhando nas árvores lá fora.
Depois me suspenderam pela gola
me esfregaram na lama
me chutaram os colhões
e me soltaram zonzo
em plena capital do país
sem ter sequer uma arma na mão.
(Buenos Aires, 1975)
Para uma vida de merda nasci
em 1930
na rua dos prazeres
Nas tábuas velhas do assoalho
por onde me arrastei
conheci baratas, formigas carregando espadas
caranguejeiras
que nada me ensinaram
exceto o terror
Em frente ao muro negro no quintal
as galinhas ciscavam, o girassol
Gritava asfixiado
longe longe do mar
(longe do amor)
E no entanto o mar jazia perto
detrás de mirantes e palmeiras
embrulhado em seu barulho azul
E as tardes sonoras
rolavam
sobre nossos telhados
sobre nossas vidas .
Do meu quarto
ouvia o século XX
farfalhando nas árvores lá fora.
Depois me suspenderam pela gola
me esfregaram na lama
me chutaram os colhões
e me soltaram zonzo
em plena capital do país
sem ter sequer uma arma na mão.
(Buenos Aires, 1975)
8/10/2007
*Um dia no escuro
“Meu amor, estou esperando por você. Quanto tempo dura
um dia no escuro?
Ou uma semana?A fogueira se apagou e eu estou com muito frio.
Deveria me arrastar até lá fora, mas haveria o Sol.
Estou desperdiçando a luz nas pinturas e escrevendo
isso.
Nós morremos. Nós. Morremos.
Morremos ricos de amores e tribos, sabores que
engolimos, corpos nos quais entramos e nadamos como
rios; medos que escondemos como nessa caverna triste.
Quero tudo isso marcado no meu corpo.
Nós somos os verdadeiros países,
não as fronteiras nos mapas, com nomes de homens poderosos.
Eu sei que você virá e me levará
para o palácio dos ventos. É tudo o que eu queria.
Andar nesse lugar com você. Com amigos.
Uma terra sem mapas.A lâmpada se apagou e estou escrevendo na escuridão."
*Carta-parte do roteiro do filme " O paciente Inglês"
Apareça*
Apareça.
Por favor, apareça.
Antes que as migalhas
desta aberração
que vejo no espelho
torne-se mais um esboço
do passado.
Antes que eu nasça
como um vendedor de caldo de cana,
um mestre argentino de tai chi chuan,
um policial, um papagaio,
uma cantora,
um indiano que rouba água.
Antes que o tempo
te traga de novo
sem o aviso de que teu toque
abre caminhos de dor e insapiência.
Surja
na simplicidade
de trinta minutos,
não daqui a três mil anos.
Traga as malas no carro
para ficar
para não me dar
perfume à perfídia
que é dizer
até a próxima
encarnação.
*Enzo Potel
8/07/2007
O quarto- César Félix- uma alegria por aqui!
O primeiro quarto estava sujo
o cobertor confundia-se a uma toalha
molhada de poesia e no espelho
a última declaração de amor
O segundo quarto não sabia as horas
de pedir desculpas
dizer adeus, amar
O terceiro quarto partiu
levou junto duas caixas de livros
uma caixa de brinquedos
e um saco de memórias
Tudo cabia numa carroceria
velha e empoeirada
o cobertor confundia-se a uma toalha
molhada de poesia e no espelho
a última declaração de amor
O segundo quarto não sabia as horas
de pedir desculpas
dizer adeus, amar
O terceiro quarto partiu
levou junto duas caixas de livros
uma caixa de brinquedos
e um saco de memórias
Tudo cabia numa carroceria
velha e empoeirada
bem ao lado...um retrovisor quebrado
para que não pudesse
olhar para trás
O quarto estava triste
os livros entreabertos
os bilhetes rasgados
o coração partido
e um ventilador ligado
para que não pudesse
juntar os pedaços
para que não pudesse
olhar para trás
O quarto estava triste
os livros entreabertos
os bilhetes rasgados
o coração partido
e um ventilador ligado
para que não pudesse
juntar os pedaços
8/04/2007
Documento de saída
“ Insisto na inútil resistência
De sentir seu perfume entre
Os jasmins de plástico, no vaso que enfeita a janela
Abandonada por mudanças
(...Só eu e todo os papéis do mundo sentimos sua falta)”
Mia Vieira
Vou escrever este documento, porque talvez um dia você possa passar os olhos por algo que tenha as minhas palavras implícitas, ou talvez alguém te conte uma história como essa.
Este é um documento de uma morte que brota na fresta de uma porta fechada. Você já ficou abismado, sem saber para onde ir, olhando para sempre a porta, que já esteve escancarada?Esperando a sua chegada? Embora eu pareça um totem de força e alumínio bruto meu íntimo é aquoso e cremoso, eu sou quase inteira pastosa a primeira palavra. Depois desta sua fuga ando debatendo por todas as paredes o por que de você ter aparecido. O por que de eu lembrar ainda com dor os seus traços já sem mim.
A sua fuga desata qualquer nó e qualquer laço. Embora as vezes eu também quisesse ser uma amarra sua, assim talvez você perderia mais tempo tentando me desatar e assim permaneceria mais preso aos meus apreços, mais atento a mim. Mas desde o início nós sempre voávamos como proposta ensolarada para os dois, seria injusto agora eu querer ser um barbante amarrotado para estar próxima de você.
Com o tempo e a esperança plantada no peito de quem você tem vontade, você sai com um cesto cheio. Quem tiver um belo sorriso leva do seu fruto. Você percebe, faz perguntas, e toma nota no seu questionário, qual foi a bela moça que ofereceu um abraço em troca de uma cesta vazia. Você é o rei de fazer mais feliz a qualquer mulher: segurança, taipa, veleiros, suspiros, vinhos, planos de viagem, jangada, paisagens e florestas.
E, no entanto, ao primeiro momento de tremor no barco, você não divide o medo não ata os braços, não se preocupa. E chegam de civilizações opostas, mais mulheres infundas que querem experimentar das suas cestas de oferecimento. Você sede a mais um contrato de prazer, e embora fale gostar de voar, você se diz preso a tudo outro, menos a mim.
Em meio aos maremotos amarelos, você expulsa as outras anciãs fica confuso e se tranca sozinho nas ruínas do que construiu. Novamente, não me dá a mão. Foge, foge como se não tivesse prometido passeios, como se não conhecesse mais o meu corpo, como se não tivesse falado as esperas, como se não tivesse dito epígrafe s de grandes amantes, como se nunca estivesse inteiro ali.Você não falou que estava. Mas o seu silêncio e o seu suspiro em mim me davam a certeza que sim. A sua fuga rompe todas as vertigens prazerosas que nós atingimos entre goles e línguas. Você fez brotar algo neste deserto árido e seco, uma terra que há muito não havia nada, mas você coroou jasmins em uma planície airada entre os meus seios. Conseguiu obter umidade e nutrir a pele.
A sua fuga é como a dor de um filho desaparecido.
Este documento é para que em qualquer lugar que esteja, antes de sair, nunca plante uma constelação nos olhos de quem ainda não conhece a luz
De sentir seu perfume entre
Os jasmins de plástico, no vaso que enfeita a janela
Abandonada por mudanças
(...Só eu e todo os papéis do mundo sentimos sua falta)”
Mia Vieira
Vou escrever este documento, porque talvez um dia você possa passar os olhos por algo que tenha as minhas palavras implícitas, ou talvez alguém te conte uma história como essa.
Este é um documento de uma morte que brota na fresta de uma porta fechada. Você já ficou abismado, sem saber para onde ir, olhando para sempre a porta, que já esteve escancarada?Esperando a sua chegada? Embora eu pareça um totem de força e alumínio bruto meu íntimo é aquoso e cremoso, eu sou quase inteira pastosa a primeira palavra. Depois desta sua fuga ando debatendo por todas as paredes o por que de você ter aparecido. O por que de eu lembrar ainda com dor os seus traços já sem mim.
A sua fuga desata qualquer nó e qualquer laço. Embora as vezes eu também quisesse ser uma amarra sua, assim talvez você perderia mais tempo tentando me desatar e assim permaneceria mais preso aos meus apreços, mais atento a mim. Mas desde o início nós sempre voávamos como proposta ensolarada para os dois, seria injusto agora eu querer ser um barbante amarrotado para estar próxima de você.
Com o tempo e a esperança plantada no peito de quem você tem vontade, você sai com um cesto cheio. Quem tiver um belo sorriso leva do seu fruto. Você percebe, faz perguntas, e toma nota no seu questionário, qual foi a bela moça que ofereceu um abraço em troca de uma cesta vazia. Você é o rei de fazer mais feliz a qualquer mulher: segurança, taipa, veleiros, suspiros, vinhos, planos de viagem, jangada, paisagens e florestas.
E, no entanto, ao primeiro momento de tremor no barco, você não divide o medo não ata os braços, não se preocupa. E chegam de civilizações opostas, mais mulheres infundas que querem experimentar das suas cestas de oferecimento. Você sede a mais um contrato de prazer, e embora fale gostar de voar, você se diz preso a tudo outro, menos a mim.
Em meio aos maremotos amarelos, você expulsa as outras anciãs fica confuso e se tranca sozinho nas ruínas do que construiu. Novamente, não me dá a mão. Foge, foge como se não tivesse prometido passeios, como se não conhecesse mais o meu corpo, como se não tivesse falado as esperas, como se não tivesse dito epígrafe s de grandes amantes, como se nunca estivesse inteiro ali.Você não falou que estava. Mas o seu silêncio e o seu suspiro em mim me davam a certeza que sim. A sua fuga rompe todas as vertigens prazerosas que nós atingimos entre goles e línguas. Você fez brotar algo neste deserto árido e seco, uma terra que há muito não havia nada, mas você coroou jasmins em uma planície airada entre os meus seios. Conseguiu obter umidade e nutrir a pele.
A sua fuga é como a dor de um filho desaparecido.
Este documento é para que em qualquer lugar que esteja, antes de sair, nunca plante uma constelação nos olhos de quem ainda não conhece a luz
8/02/2007
Caderno de Sonhos
Esses dias, aconteceu que eu achei um caderno de poesias que tínhamos quando ainda estava no Ensino Médio. Éramos um quarteto oficial movidos e apaixonados pela palavra poética..Um tanto precoces, eu diria, porque o material tem raiz forte, e eu tenho certeza que este caderno trasformou todos que a ele pertenceram e vice versa..Com a vontade de descobrirmos a poesia que nos habitava, mal sabíamos nós que estavamos em estado de graça acolhendo passagens belísssimas e tão verdadeiras experiencias puras das escolas poéticas que estávamos imersos. Em cima do telhado, escalando morros, rindo de bicicleta pelas cidades vizinhas.
Árcades, sonhadores, bucólicos, profundos, amigos , espelhos e tempo, que no reflexo ainda me leva a mágica aventura de sempre ter amado a palavra..
Salve a poesia, e a sensibilidade de seus meticulosos amantes do mistério que a envolve.
Sonho
(Rodrigo Azeredo)
Queria agora escorregar as encostas
[dos meus pensamentos
Desejaria comer aquelas framboesas rasteiras
Que só tem no décimo quinto sonho da
[noite passada
Queria também sentir o calor de Marte
Ao invés de cozinhar em sua superfície.
Quando estou sonhando posso viajar bastante
mas não sinto nada
não consigo
mesmo querendo
Meu espírito não tem tato
Não tem nada
E eu não posso sentir aquilo que mais
[queria
8/01/2007
Parati*
Era uma cidade insituável e de cores cambiantes aquela, o território que subvertia os sentidos: o dia projetava tons lilases e o prateado dos astros; a noite incendiava a ponte de amarelo solar, a irradiação de um fogo primitivo.
Era a cidade das estrelas próximas: esbarrariam nas torres altas - se estas lá existissem, se tivessem sido erguidas por um monarca excêntrico. Era a terra do vento espaçoso, do ar marítimo adocicado.
Atravessei a ponte e virei o rosto admirando o balé das sombras na calçada. Bamba, lancei meus cabelos como quem atira desajeitadamente uma rede ao mar, transformando meu corpo num manto embebido de letras, de prosa reverberante, da poesia declamada nas praças.
Sorri para uma câmera imaginária que captava de Júpiter, do mar ou da esquina mais próxima, a graça ligeira do meu corpo para eternizá-lo num quadro a ser desvendado pela arqueologia futura.
“Observem a aparente falta de peso dessa figura ancestral”, diriam os homens ulteriores, intrigados com a levitação dos corpos tomados de contentamento pleno.
E eu, no tempo pretérito mais-que-perfeito, airosa e desfragmentada em luz, escutava as perguntas de Davi num idioma incompreensível e alheio à mímica dos olhares perdidos.
“Está tudo bem? Quer ir a algum lugar?”, inquietava-se cuidadoso para, em seguida, dar-se conta de que outro lugar já não havia. Lá fincaríamos a estaca de madeira maciça, símbolo do fim da procura, sinal que legitima a posse da terra desde sempre destinada aos poetas, aos insensatos, aos de parte alguma.
Eu ria e ria. Ria de vinho e de pertencimento. Ria para Bel com sua blusa amarela a repetir a cor dourada da cidade-farol. Ria, enfeitiçada por seus brincos orbitais – duas mandalas feitas de rede de pescador –, embriagando-me de seu desprendimento cigano, de sua sábia alegria sofrida. Contemplava o deslizar de seu encanto para Lúcio, que o aceitava como quem recebe um presente delicado: abrindo os braços, girando o corpo, gargalhando do absurdo da vida, sem nunca comprometer o equilíbrio do chapéu havana, prestes a nos exibir um número de sapateado.
E uma vez mais Davi surpreendia meu olhar volante, meu rosto diluído nos acordes da canção inaudível, meu vulto impregnado do ar liquefeito dos canais. E então eu me condensava em torrente cálida, para lavar a alma e as calçadas, para infiltrar-me no vão das pedras e assim permanecer, eternamente sábia, definitivamente louca, a me alimentar das luzes transitórias, do vento temperado pelas algas e peixes.
*Carla Franco e o seu lindo sorriso.
Era a cidade das estrelas próximas: esbarrariam nas torres altas - se estas lá existissem, se tivessem sido erguidas por um monarca excêntrico. Era a terra do vento espaçoso, do ar marítimo adocicado.
Atravessei a ponte e virei o rosto admirando o balé das sombras na calçada. Bamba, lancei meus cabelos como quem atira desajeitadamente uma rede ao mar, transformando meu corpo num manto embebido de letras, de prosa reverberante, da poesia declamada nas praças.
Sorri para uma câmera imaginária que captava de Júpiter, do mar ou da esquina mais próxima, a graça ligeira do meu corpo para eternizá-lo num quadro a ser desvendado pela arqueologia futura.
“Observem a aparente falta de peso dessa figura ancestral”, diriam os homens ulteriores, intrigados com a levitação dos corpos tomados de contentamento pleno.
E eu, no tempo pretérito mais-que-perfeito, airosa e desfragmentada em luz, escutava as perguntas de Davi num idioma incompreensível e alheio à mímica dos olhares perdidos.
“Está tudo bem? Quer ir a algum lugar?”, inquietava-se cuidadoso para, em seguida, dar-se conta de que outro lugar já não havia. Lá fincaríamos a estaca de madeira maciça, símbolo do fim da procura, sinal que legitima a posse da terra desde sempre destinada aos poetas, aos insensatos, aos de parte alguma.
Eu ria e ria. Ria de vinho e de pertencimento. Ria para Bel com sua blusa amarela a repetir a cor dourada da cidade-farol. Ria, enfeitiçada por seus brincos orbitais – duas mandalas feitas de rede de pescador –, embriagando-me de seu desprendimento cigano, de sua sábia alegria sofrida. Contemplava o deslizar de seu encanto para Lúcio, que o aceitava como quem recebe um presente delicado: abrindo os braços, girando o corpo, gargalhando do absurdo da vida, sem nunca comprometer o equilíbrio do chapéu havana, prestes a nos exibir um número de sapateado.
E uma vez mais Davi surpreendia meu olhar volante, meu rosto diluído nos acordes da canção inaudível, meu vulto impregnado do ar liquefeito dos canais. E então eu me condensava em torrente cálida, para lavar a alma e as calçadas, para infiltrar-me no vão das pedras e assim permanecer, eternamente sábia, definitivamente louca, a me alimentar das luzes transitórias, do vento temperado pelas algas e peixes.
*Carla Franco e o seu lindo sorriso.
7/31/2007
A caixinha preta
Coloquei voce numa caixinha preta. Você fica pulando, querendo abrir a tampa.Eu tapo os olhos de quem quer ver a caixinha, mostro sua foto, estampada na tampa. Mas não abro, porque de repente você fica grande e toma o espaço do meu corpo. Pulsa inteiro. Tranco você.As vezes você dorme e tudo parece música em mim.Você vibra, mesmo quando dorme, mostra que está vivo. As vezes faz ganidos, e eu sei que você fica assim porque tem muitos quereres amputados.As vezes você sai e quer mudar de vida,tenta pular entre a boca do meu estômago e dançar no meio do peito, e o seu riso é tão solto e com tanta vontade do mundo, que eu tenho vontade de te tranferir para outro lugar. Mas a sua ternura escondida e o calor que faz a caixinha em mim, não me deixa alargar a base, você só pode sair quando eu deixo. Mas as vezes você grita e apronta uma peça, eu acabo dando corda na caixinha e você fica rodopiando livre. A sua liberdade me seduz.Fico feliz alguns dias quando você desliza até a garganta e se mostra vivo em mim. A minha fala tem o desenho da sua voz .As vezes você apaga a luz.Um comando aí de dentro que só você sabe.Eu aceito, também gosto do escuro, fico tentando te achar pelo cheiro.Abro a caixinha, e penso que você saiu para passear, mas você volta atado em um cavalo galopando com força, arrancando as fitas e abrindo a caixa,virando a placa, que sempre teve o seu nome escrito em um registro.
O homem que te contém
Ario as panelas. Removo toda a crosta de gordura. Lavo as mãos nessa pia fria, a água pedrifica gélida, me possui. Entre falas femininas o frio se evapora.O homem que te contém me ama. Mas entre suas angústias e medo, o homem que te contém guarda no íntimo dois travesseiros de penas e pregos, um com o seu nome gravado, outro com a imensidão do tempo que tomou uma forma de dor lembrada toda noite, uma herança de séculos que ninguém sabe direito de onde veio. De um não. De uma facada. Mas o homem que te contém nada me fala. É o silêncio completo de suas noções do mundo, de suas angústias e infirmezas que não me exposto,amedronta.Não quero ver suas andanças livres pelas matas, quero saber se você tem medo do escuro e se quando chora, tem vontade de dormir para sempre. Quero saber se como eu, você chega ao cume da montanha e tem vontade de desistir, só para ter outro objetivo a vista. Só para começar do zero.Só para estar indo atras de alguma coisa. Quero saber se você tem vontade de voltar a primeira vez, e se muitas vezes você queria se conformar com algo só para não ser vítima da ansiedade. Se você camaleoa por dentro, se você absorve o zune das crianças com fome que habitam a Angola.Se você escuta canções de ninar, e tem vontade de ver o mundo com o mesmo espanto que uma criança.O homem que te contém, queria voltar para tentar ser outro. O homem que te contém tem vergonha.O homem que te contém conta as suas peripáceas em sonho.O homem que te contém atravessa as janelas do mundo para me possuir.Me apalpa e me coroa fada de um jardim de tritezas que doram superadas a quatro mãos e quatro pés.O homem que te contém não é você. O homem. o homem me mostra espaços entre o céu.O homem que te contém me abraça.
7/24/2007
Extra!Extra...para a vida, notícia atual e curiosa
Entrar no portal Enzo
http://www.contodefacas.blogspot.com/
Mais uma vez sempre cintilando este artista. Com um pouco de vida e muito de peculiaridade e unicidade.Está tudo ali..a um passo de se ver...
http://www.contodefacas.blogspot.com/
Mais uma vez sempre cintilando este artista. Com um pouco de vida e muito de peculiaridade e unicidade.Está tudo ali..a um passo de se ver...
Extra!Extra!
Nesta QUINTA
dia 26/o7
na livraria alternativa Casa Aberta (rua lauro muller, nº83)em Itajaí,
a poetisa Ryana Gabech irá fazer sua performance poética "TRÊMULO: o corpo som do poema"para o encerramento da Oficina da Palavra Cidade-rio.
Contribuição de R$3,oosó pra quem tiver condições.rs..rs....
de brinde de surpresa e presente leva a performance poética de Enzo Potel
"O que nos aconteceu amanhã?"
quem tiver olhos de ver, sentirá.
dia 26/o7
na livraria alternativa Casa Aberta (rua lauro muller, nº83)em Itajaí,
a poetisa Ryana Gabech irá fazer sua performance poética "TRÊMULO: o corpo som do poema"para o encerramento da Oficina da Palavra Cidade-rio.
Contribuição de R$3,oosó pra quem tiver condições.rs..rs....
de brinde de surpresa e presente leva a performance poética de Enzo Potel
"O que nos aconteceu amanhã?"
quem tiver olhos de ver, sentirá.
7/23/2007
7/19/2007
Para a parede do seu quarto
E de repente
tudo a sua frente
vai sedimentando
em um enorme espaço negro
e o que se vê
são suas duas mãos
cheias de marcas
marcas de corpos
entre suor e sal
sementes que desejam brotar
duas lembranças
de suspiro e água
o círculo que movimenta
suas falanges e suas vitórias
o círculo que roda
o tempo
a água que invade
a lavagem dos seus sonhos
a paisagem que habita
entre os seus dedos
quando tocam no chão
perante o cais
perante o abismo
perante a camada de ozônio
o desejo de paz
entre suas duas mãos
o buraco negro
o reluzir
o reluzir
de uma estrela
que escolheu o seu íntimo
e as suas mãos
para habitar o mundo
tudo a sua frente
vai sedimentando
em um enorme espaço negro
e o que se vê
são suas duas mãos
cheias de marcas
marcas de corpos
entre suor e sal
sementes que desejam brotar
duas lembranças
de suspiro e água
o círculo que movimenta
suas falanges e suas vitórias
o círculo que roda
o tempo
a água que invade
a lavagem dos seus sonhos
a paisagem que habita
entre os seus dedos
quando tocam no chão
perante o cais
perante o abismo
perante a camada de ozônio
o desejo de paz
entre suas duas mãos
o buraco negro
o reluzir
o reluzir
de uma estrela
que escolheu o seu íntimo
e as suas mãos
para habitar o mundo
Paraty
Paraty
Um homem imita um gato
uma lesma piedosa
desenha o chão
fica presa nas pedras
janelas com horizontes
de mais janelas
canoas
igrejas e doces
esquinas
grandes aberturas para o ver
azul e amarelo
branco cinza
raspagens
buracos embelezados
e paredes mais firmes que o pilar
portas abertas
palavras manuscritas
que passeiam
silenciosas
entre os objetos
nomes já sabidos
registrados na primeira
e última passagem
balões multicoloridos
crianças
cachorros
trogloditas
umidade
risos soltura
leveza e tropeços
caminhos
uma poça deixada pela
maré
que subiu
duas poças
um espaço
e um banquinho
para sentar
e se deliciar
Um homem imita um gato
uma lesma piedosa
desenha o chão
fica presa nas pedras
janelas com horizontes
de mais janelas
canoas
igrejas e doces
esquinas
grandes aberturas para o ver
azul e amarelo
branco cinza
raspagens
buracos embelezados
e paredes mais firmes que o pilar
portas abertas
palavras manuscritas
que passeiam
silenciosas
entre os objetos
nomes já sabidos
registrados na primeira
e última passagem
balões multicoloridos
crianças
cachorros
trogloditas
umidade
risos soltura
leveza e tropeços
caminhos
uma poça deixada pela
maré
que subiu
duas poças
um espaço
e um banquinho
para sentar
e se deliciar
*foto eu entre as flores que encontrei em Paraty:Lays, Aninha, e a Deise Pacheco que fotografou!Bjos
Já passou
Já passou
e o hálito do seu arrependimento
atordoa
como um sangue de menstruação
velho e fétido
impregnado na calcinha sem troca
e o hálito do seu arrependimento
atordoa
como um sangue de menstruação
velho e fétido
impregnado na calcinha sem troca
Rói o rato
E os ratos da sua casa eram tão gordos que andavam rebolando devagar e sem pressa. Entre já os chumaços de pêlo branco, os vizinhos se perguntavam se era uma rata prenha, um rato velho ou uma raposa bem vivida.
7/07/2007
Seu nome escrito
na porta do quarto
pedras
pedras pedras
até chegar a sua casa
seu quarto
sua cama
sua marca
sem sua presença
barcos presos no cais
a sua alianca brilhante
presa ao dedo
com vontade de romper
na minha direção
seu afago
e o furor do seu corpo
que difuso
ao meu
após
me impediu
de sorrir
você está atadado
o quarto está vazio
mas está cheio de você
pelas paredes
e o seu ar vem assombrando
entre os estrados da cama
me atormentando
me atormentando
você está ancorado
mas não está seguro
você está aliado
mas não tem mais prazer
minha aliança é o barco
já pequeno na lonjura
desancorado
afundou
eu sou um barco
tufão
criei musgos de partidas
que nunca partiram em mim
criei uma crosta de proteção
que no iníco era uma segunda pele
fina e tênue
e levantei o rosto
fingindo ser de louça pálida
mas a a verdade é que seu barco no cais
arranhou as jangadas
e a paisagem livre
que eu dançava solta
você me puxou pro mar
e o verde se alastrou em vermelho
um vermelho que me cegou
me fez perder os passos
confundir os pés
não estou olhando para cima hoje
não, não vou ver lua
só vejo esta crosta
em brancos sujos
se derretendo
me deixando mais uma vez
nua e com frio
só vejo o cais
e o seu barco
preso na âncora
me corroendo de vontade
longe de mim
na porta do quarto
pedras
pedras pedras
até chegar a sua casa
seu quarto
sua cama
sua marca
sem sua presença
barcos presos no cais
a sua alianca brilhante
presa ao dedo
com vontade de romper
na minha direção
seu afago
e o furor do seu corpo
que difuso
ao meu
após
me impediu
de sorrir
você está atadado
o quarto está vazio
mas está cheio de você
pelas paredes
e o seu ar vem assombrando
entre os estrados da cama
me atormentando
me atormentando
você está ancorado
mas não está seguro
você está aliado
mas não tem mais prazer
minha aliança é o barco
já pequeno na lonjura
desancorado
afundou
eu sou um barco
tufão
criei musgos de partidas
que nunca partiram em mim
criei uma crosta de proteção
que no iníco era uma segunda pele
fina e tênue
e levantei o rosto
fingindo ser de louça pálida
mas a a verdade é que seu barco no cais
arranhou as jangadas
e a paisagem livre
que eu dançava solta
você me puxou pro mar
e o verde se alastrou em vermelho
um vermelho que me cegou
me fez perder os passos
confundir os pés
não estou olhando para cima hoje
não, não vou ver lua
só vejo esta crosta
em brancos sujos
se derretendo
me deixando mais uma vez
nua e com frio
só vejo o cais
e o seu barco
preso na âncora
me corroendo de vontade
longe de mim
6/29/2007
Trêmulo
Vozes que ocupam
Todo encanto
Que quer pairar
Vozes que seguem
Falando em silêncio
Ruídos
Ranços
Pratos
Acordos de discórdia
Tratos
Em tentativa vã
De permanecer
O tremor que aflige
No querer segurar
E no precisar soltar
A planície que grita
Uma mensagem
Ao léu
Duas heranças de choros
Inconsolados
Risos que nunca terão
O mesmo som
E a mesma doçura
A bravura que atordoa
O mundo
a pena
A pena do ser sobrevivo
O ruflar de suspiros
As gotas prometidas
E borradas em uma assinatura
Os júbilos
E os fracassos
A auto-amarração
O breque da despedida
As peças sem concerto
A ofegante chegada
gavetas e a prateleiras
Escondidas na memória da estante
As imagens e os batuques
Lanças que atravessaram
Em mim
Quantas vezes o choro
Me apalpou
Quantas mãos que trouxeram
Enigmas
Bússolas
trilhos
e entradas
Tremo para o maior
Tremo para o menor
O que me causa
O que me oscila
O que me arranha
E me suspende
Tremor
O que há pode detrás do ver
O trinco do vidro
Que nunca quebrou
A peça faltante
Tremo em faíscas
Tremo em incertezas
E em certezas
As vozes as vozes ocultas
Que o mundo deserdou
Estão contidas
Nas palavras exprimidas
Da minha mão
Entre uma folha
uns dedos
E a tinta
A tinta que borra meus ideais
Na venda
No morro
Um olho que me mancha
Com amor
E as mãos do senhor
Que conta os pães
As mãos que cometeram uma infâmia
A pedra
A pedra
Que preenche o caminho
Com marcas de sombras
Deixadas pelo sol
O andar ao cume
O descer a lama
O mundo me treme
O menino assustado
Do tráfico
Trêmulo
As vozes das coisas
Que estão ocultas
Ao primeiro toque
E que confessam a fusão
Trêmulo
O medo de querer alcançar
E as pernas bambas
Da chegada
Armas que se fundem
Brilhos que encantam
Para a morte
Balas de luz
Êxtase no escuro
Línguas
Desafios
Canos e granadas
O que você esconde
E o que você mostra
O que você finge
E o que você é
Uma palavra que ama
Uma raiva que perscruta
E atinge com fuzil
Um afago e um corte
Um tapa e um arranhão
Um olho sem vida
Trêmulo
Suas armadilhas
Suas emborcações
Sua justiça e sua injustiça
A partir de si
Vendas que vedam a voz
E a voz treme
Como um bater de palmas
Um aplauso
E um gargalho
Espaço vazio
Uma coleção de borboletas
Mortas
E uma luz que arregaça a janela
Em vibração
A voz corroída e cansada
Que espera no canto de todo
Íntimo
Um canto
canto
Trêmulo
Açúcar e fel
Na mesma receita
Todo encanto
Que quer pairar
Vozes que seguem
Falando em silêncio
Ruídos
Ranços
Pratos
Acordos de discórdia
Tratos
Em tentativa vã
De permanecer
O tremor que aflige
No querer segurar
E no precisar soltar
A planície que grita
Uma mensagem
Ao léu
Duas heranças de choros
Inconsolados
Risos que nunca terão
O mesmo som
E a mesma doçura
A bravura que atordoa
O mundo
a pena
A pena do ser sobrevivo
O ruflar de suspiros
As gotas prometidas
E borradas em uma assinatura
Os júbilos
E os fracassos
A auto-amarração
O breque da despedida
As peças sem concerto
A ofegante chegada
gavetas e a prateleiras
Escondidas na memória da estante
As imagens e os batuques
Lanças que atravessaram
Em mim
Quantas vezes o choro
Me apalpou
Quantas mãos que trouxeram
Enigmas
Bússolas
trilhos
e entradas
Tremo para o maior
Tremo para o menor
O que me causa
O que me oscila
O que me arranha
E me suspende
Tremor
O que há pode detrás do ver
O trinco do vidro
Que nunca quebrou
A peça faltante
Tremo em faíscas
Tremo em incertezas
E em certezas
As vozes as vozes ocultas
Que o mundo deserdou
Estão contidas
Nas palavras exprimidas
Da minha mão
Entre uma folha
uns dedos
E a tinta
A tinta que borra meus ideais
Na venda
No morro
Um olho que me mancha
Com amor
E as mãos do senhor
Que conta os pães
As mãos que cometeram uma infâmia
A pedra
A pedra
Que preenche o caminho
Com marcas de sombras
Deixadas pelo sol
O andar ao cume
O descer a lama
O mundo me treme
O menino assustado
Do tráfico
Trêmulo
As vozes das coisas
Que estão ocultas
Ao primeiro toque
E que confessam a fusão
Trêmulo
O medo de querer alcançar
E as pernas bambas
Da chegada
Armas que se fundem
Brilhos que encantam
Para a morte
Balas de luz
Êxtase no escuro
Línguas
Desafios
Canos e granadas
O que você esconde
E o que você mostra
O que você finge
E o que você é
Uma palavra que ama
Uma raiva que perscruta
E atinge com fuzil
Um afago e um corte
Um tapa e um arranhão
Um olho sem vida
Trêmulo
Suas armadilhas
Suas emborcações
Sua justiça e sua injustiça
A partir de si
Vendas que vedam a voz
E a voz treme
Como um bater de palmas
Um aplauso
E um gargalho
Espaço vazio
Uma coleção de borboletas
Mortas
E uma luz que arregaça a janela
Em vibração
A voz corroída e cansada
Que espera no canto de todo
Íntimo
Um canto
canto
Trêmulo
Açúcar e fel
Na mesma receita
6/27/2007
O vidro de choro verde
Essa chuva verde
teu travesseiro acaba de chorar
chora folhas
molha os tecidos
torce em pingos
verdes pingos
essa fragancia
que quebrou
junto à morte
de uma margarida
em vaso de plástico
uma margarida que
se dissipava no vento
e o frasco do seu choro
transbordou
dos olhos
todas as matas
que escorreram
o verde
que tomaram
a chuva
e alagaram
tingindo a mancha
de uma mata devastada
dentro de ti
foto: Fernando Angeoletto
6/19/2007
Travesseiro de estrela-*
calma estrela
que preenche o seu travesseiro
ao descansar você abandona
as manchas
da parede
procura buracos no teto
para conseguir
dizer
a
deus
nas suas manhãs
o alaranjado preenche
a varanda
e a lareira
o alaranjado iluminado e bruto
das manhãs
as madeiras cheirosas
que seguram a casa
me lembram
o abraço
o abraço entre seus pilares
suas intimidades
mais íngrimes
ficam fogem
das minhas mãos
e eu encosto entre o céu
e espero a estrela sair
do seu travesseiro
e estender no jardim
o sol
*Poema musicado por alegre corrêa
6/11/2007
Reconfissão
Posso ficar um pouco aqui para sempre?Aqui, grudada nesta cadeira com o estômago vazio?Você me perdoaria?Parece que estou presa na cadeira até terminar de pensar. Você me amaria mesmo eu sendo a ferida que mais te arde?Você me perdoaria se eu desse as costas enquanto você fala uma palavra em florescência?Você seria capaz de ver que apesar de te cortar, meu infinito por você é maior?Você aceitaria saber que o que tenho para você, é de rara beleza cristalina e que está atrás de colinas entre arbustos árvores e folhagens, e que eu me aventuro poucas vezes para não perder a essência do sagrado entre nós? Você deixaria eu ir embora sem sentir vontade de voltar?Você entenderia que vivo a transbordar pelos cantos e que explôdo inconsciente?Que não consigo segurar o murro, quando ele me brota?Você pode me aceitar em pedaços?Em sobras de mim?Em cascas de mim?Você me amaria mesmo assim?Você beijaria aquilo que mais renego me fazer parte?Você seguraria minhas duas mãos e tentaria achar e me salvar do precipício?Princípio. Você e seus dedos de faca.Você e essa nuvem regada de tempestade, o seu regador é contínuo, é forte, não cai. Você rega o ferrão. Você alvoroça a primeira carniça livre das amarras. Você prende os pássaros e ata com laços de fita de cetim lilás o bico do passarinho. Você fica olhando o sofrimento e se vangloriando de não ser você o recorte da morte. Você é cheio de escárnio no pensamento. Você brota mau cheiro e enterra a semente no barro seco de uma estrada sem passagem.Você trama, você grita, pede socorro, mas não consegue atender a mudança esmurrando incansavelmente sua porta de entrada. Você foge dos sorrisos mancos.Você não aceita meu sorriso escancarado porque ele é cariado e desinibido.Você quer ver onde estão minhas obturações?Você ainda consegue rir junto ao meu riso doente de expectativas? Eu queria ir sem a culpa de te despedaçar.
Posso também não ir embora. Vou voltar a te confessar isso. Você perdoaria meu silêncio?Você aceitaria minhas raivas espontâneas com o mundo, e minhas pequenas risadas sem limites de expressão?Você está vendo que no meu sorriso sobram cáries?Cáries de discórdia.Você afagaria meu rosto e me ofereceria o peito mesmo eu tendo quebrado seu plano mais promissor?Você me ofereceria um copo d'água e um abraço caloroso mesmo eu sendo condenado ä prisão perpétua?Por um crime hediondo?Eu queria ser clara e límpida como a água de um riacho que corre, corre, sem desespero ou revolta, sem alvoroço de chegada. Mas sou do lodo e do líquido, do delimite entre gasoso e líquido, sou porosa, penugenta e medrosa. Sou sem fim. Você aceitaria minha não certeza?Minha não absoluta certeza?Você aceitaria meu muro de areia movediça?Você ainda me amaria em sua cama, mesmo eu tendo explorado seu último e único centavo?Mesmo eu deixando as dívidas da minha família para você pagar?Você me amaria como no fim de nós dois?Você me perdoaria se eu revelasse que o meu desejo maior só se entrega a você quando estou com os braços presos e os olhos com dúvida?Você passaria os dedos entre minhas pernas mesmo que eu te desmoralizasse no seu bairro inteiro? E diante toda sua Cidade?Você possuiria ainda amor por mim?Você me desejaria se eu cuspisse em suas jóias, arrancasse suas vestimentas e fios de prata e despisse sua ironia a la uísque?Você aceitaria me penetrar olhando em meus olhos mesmo não me querendo para sempre?Você se despiria também de seus deveres e caçaria borboletas comigo, mesmo eu pondo o pé para você tropeçar?Eu matei uma esperança, você ainda me ama?
Você aceitaria que eu vim de um fracasso muito fundo?Daqueles em que se vive o brilho e a fenda.?Desses fracassos que ficam expostos a olho nu, sem remédio aparente. Desses fracassos que ficam esperando a cura. Eu ainda não sarei. Você amaria um enfermo de sentimento?Um enfermo de sentido? Você ainda tem raiva de um próprio passado?Alguém já te bateu em hematomas azulados por dentro? Alguém já te abalou e você ainda dança em cascas de banana o tempo todo? Você também tem um nó de lã gasta e fios embolados como eu? Você me perdoaria se soubesse que quando você me renegou eu te desejei a infelicidade suprema?Sim, eu desejei que você nunca mais fosse feliz. E que quando eu saí da sua vida tinha tanta certeza que não queria mais ver o seu olhar e nem a cor da sua pele, e que hoje eu daria o mundo para passar a mão no seu rosto, mesmo que você já estivesse com os olhos fechados. Eu ainda queria me ver marcada na suas costas. Você ainda me amaria? Você ainda sentiria o mesmo sentido de muitos anos atrás? Mesmo eu sendo este estorvo que ainda almeja o ontem?
Sabe, que muito tempo eu quis a frente, o depois, o futuro e daí eu não soube rir mais do que maldizer. Você me perdoa esse amor que roeu? Essa raiva em blocos que eu te jogava no ar, que eu te pesava as ventanias?Você também errou?Você ainda acha meu pior defeito apenas engraçado?Eu não encanto mais você?Você ainda encanta a mim.Você ainda quer me ver sorrir?Você deseja que eu seja realmente feliz?Você sorri como antes?Com a mesma doçura e pureza? Quem é você?
Posso também não ir embora. Vou voltar a te confessar isso. Você perdoaria meu silêncio?Você aceitaria minhas raivas espontâneas com o mundo, e minhas pequenas risadas sem limites de expressão?Você está vendo que no meu sorriso sobram cáries?Cáries de discórdia.Você afagaria meu rosto e me ofereceria o peito mesmo eu tendo quebrado seu plano mais promissor?Você me ofereceria um copo d'água e um abraço caloroso mesmo eu sendo condenado ä prisão perpétua?Por um crime hediondo?Eu queria ser clara e límpida como a água de um riacho que corre, corre, sem desespero ou revolta, sem alvoroço de chegada. Mas sou do lodo e do líquido, do delimite entre gasoso e líquido, sou porosa, penugenta e medrosa. Sou sem fim. Você aceitaria minha não certeza?Minha não absoluta certeza?Você aceitaria meu muro de areia movediça?Você ainda me amaria em sua cama, mesmo eu tendo explorado seu último e único centavo?Mesmo eu deixando as dívidas da minha família para você pagar?Você me amaria como no fim de nós dois?Você me perdoaria se eu revelasse que o meu desejo maior só se entrega a você quando estou com os braços presos e os olhos com dúvida?Você passaria os dedos entre minhas pernas mesmo que eu te desmoralizasse no seu bairro inteiro? E diante toda sua Cidade?Você possuiria ainda amor por mim?Você me desejaria se eu cuspisse em suas jóias, arrancasse suas vestimentas e fios de prata e despisse sua ironia a la uísque?Você aceitaria me penetrar olhando em meus olhos mesmo não me querendo para sempre?Você se despiria também de seus deveres e caçaria borboletas comigo, mesmo eu pondo o pé para você tropeçar?Eu matei uma esperança, você ainda me ama?
Você aceitaria que eu vim de um fracasso muito fundo?Daqueles em que se vive o brilho e a fenda.?Desses fracassos que ficam expostos a olho nu, sem remédio aparente. Desses fracassos que ficam esperando a cura. Eu ainda não sarei. Você amaria um enfermo de sentimento?Um enfermo de sentido? Você ainda tem raiva de um próprio passado?Alguém já te bateu em hematomas azulados por dentro? Alguém já te abalou e você ainda dança em cascas de banana o tempo todo? Você também tem um nó de lã gasta e fios embolados como eu? Você me perdoaria se soubesse que quando você me renegou eu te desejei a infelicidade suprema?Sim, eu desejei que você nunca mais fosse feliz. E que quando eu saí da sua vida tinha tanta certeza que não queria mais ver o seu olhar e nem a cor da sua pele, e que hoje eu daria o mundo para passar a mão no seu rosto, mesmo que você já estivesse com os olhos fechados. Eu ainda queria me ver marcada na suas costas. Você ainda me amaria? Você ainda sentiria o mesmo sentido de muitos anos atrás? Mesmo eu sendo este estorvo que ainda almeja o ontem?
Sabe, que muito tempo eu quis a frente, o depois, o futuro e daí eu não soube rir mais do que maldizer. Você me perdoa esse amor que roeu? Essa raiva em blocos que eu te jogava no ar, que eu te pesava as ventanias?Você também errou?Você ainda acha meu pior defeito apenas engraçado?Eu não encanto mais você?Você ainda encanta a mim.Você ainda quer me ver sorrir?Você deseja que eu seja realmente feliz?Você sorri como antes?Com a mesma doçura e pureza? Quem é você?
foto: mtfoliveira.blogspot.com
6/06/2007
Longa caminhada por um poema
quero um poema que junte
todos os meus caquinhos
que me desenhe
em pedaços
pedaços que se ausentaram
lascas irregulares
lascas arrancadas
de uma parede
abandonada
quero um poema
que arranhe o sentido
que permaneça
verde em dois
como os olhos mata
amanhecendo em sol
quero um poema que
tenha dentes para sorrir
e caninos para defender
sua esteira de palavras
quero um poema que escorra
nos cabelos
como um banho de lama
açaí e ardor
quero um poema
que fique entre dois corpos
uma só passagem
quero um poema que costure
uma ferida
um poema
que carregue todas as linhas
bordadas em roupas de passagem
roupas que abrigaram o íntimo
e o desconhecido
quero um poema que amacie
o sono
mas que
lembre em penas
a leveza de ainda
dedilhar versos
quero um poema que cante
uma chegada
que assombre a cama do quarto
com tremores vivos
de quem geme o prazer
quero um poema
que piche o horizonte
interno
um poema que grite
no outdoor da avenida principal
eu desejo um poema
que fale o poeta
falando o mundo
pela televisão
em vinhetas coloridas
e banais
quero um poema
em goles bebida barata
e quero um poema com
instruções de uso
para aqueles
que não tem dedos
sutis
para acolher
a poesia
quero um poema
sem dores nos braços
quero um poema com fartura
um poema que não fale
um problema,
mas que descanse os olhos
e a alma
de quem lê
um poema
que fale ao bueiro
e à Imperatriz
que diga a qualquer um
que exista e esteja vivo
vibrando
que fale como um ser vivo
que mostre o sapo morto
e que cheire o chorume das ruas
um poema que traga um suor
e um gozo
um transpiro
e um respiro
e um vôo livre
todos os meus caquinhos
que me desenhe
em pedaços
pedaços que se ausentaram
lascas irregulares
lascas arrancadas
de uma parede
abandonada
quero um poema
que arranhe o sentido
que permaneça
verde em dois
como os olhos mata
amanhecendo em sol
quero um poema que
tenha dentes para sorrir
e caninos para defender
sua esteira de palavras
quero um poema que escorra
nos cabelos
como um banho de lama
açaí e ardor
quero um poema
que fique entre dois corpos
uma só passagem
quero um poema que costure
uma ferida
um poema
que carregue todas as linhas
bordadas em roupas de passagem
roupas que abrigaram o íntimo
e o desconhecido
quero um poema que amacie
o sono
mas que
lembre em penas
a leveza de ainda
dedilhar versos
quero um poema que cante
uma chegada
que assombre a cama do quarto
com tremores vivos
de quem geme o prazer
quero um poema
que piche o horizonte
interno
um poema que grite
no outdoor da avenida principal
eu desejo um poema
que fale o poeta
falando o mundo
pela televisão
em vinhetas coloridas
e banais
quero um poema
em goles bebida barata
e quero um poema com
instruções de uso
para aqueles
que não tem dedos
sutis
para acolher
a poesia
quero um poema
sem dores nos braços
quero um poema com fartura
um poema que não fale
um problema,
mas que descanse os olhos
e a alma
de quem lê
um poema
que fale ao bueiro
e à Imperatriz
que diga a qualquer um
que exista e esteja vivo
vibrando
que fale como um ser vivo
que mostre o sapo morto
e que cheire o chorume das ruas
um poema que traga um suor
e um gozo
um transpiro
e um respiro
e um vôo livre
brinde
em um momento
de prisão
que não hesite em virar
em todas as esquinas
que sobreviva a calçada
e a dor do amor
um poema que ocupe
um lugar concreto
que ocupe uma cadeira
em algum lugar
do mundo
um poema com a certeza
de uma descoberta
e a leveza e liberdade
de um vapor cheiroso
um poema que descasque uma fruta
um poema que amarre as mãos
de quem não é feliz
um poema que faça ver um cego
um poema oração permanente
que não hesite em virar
em todas as esquinas
que sobreviva a calçada
e a dor do amor
um poema que ocupe
um lugar concreto
que ocupe uma cadeira
em algum lugar
do mundo
um poema com a certeza
de uma descoberta
e a leveza e liberdade
de um vapor cheiroso
um poema que descasque uma fruta
um poema que amarre as mãos
de quem não é feliz
um poema que faça ver um cego
um poema oração permanente
sussurada
a cada momento do dia
sem precisar
ajoelhar
um poema sem janelas
e com toda a paisagem
sem maneiras de dizer
e com toda a paisagem
sem maneiras de dizer
sem pudor
ou baton
um poema que corra ao meu
lado
que acompanhe a travessia
em silêncio
um poema sem vergonha
de vestir
e despir
um poema sem afirmação
um poema que conviva
no barulho da chaleira
que converse as águas que
escorrem da louça
um poema borrão do chão
um poema que assente como a poeira
no porta-retrato
com uma pulsão
sacudida
um poema com uma dúvida
que pertuba e desperta
imediatamente
que faça andar a quem está imerso
no parado
ou baton
um poema que corra ao meu
lado
que acompanhe a travessia
em silêncio
um poema sem vergonha
de vestir
e despir
um poema sem afirmação
um poema que conviva
no barulho da chaleira
que converse as águas que
escorrem da louça
um poema borrão do chão
um poema que assente como a poeira
no porta-retrato
com uma pulsão
sacudida
um poema com uma dúvida
que pertuba e desperta
imediatamente
que faça andar a quem está imerso
no parado
que faça rir
a quem quase está
que faça chorar
quem a muito tem amarrado uma vontade
uma confissão oculta
de jorrar todas as pedras
reunidas no meio do corpo
em líquido salgado
torrente que liberta
quero um poema
com uma camada de vento
e brisa
para respirar as ventanas
de quem precisa de mar
nos ouvidos
para aqueles que desejam
se encher
e se esvaziar
quero um poema que aja
como um grão de areia
grudado entre os dedos do pé
permanentes até a terceira saculejada
que coce
afete
trema
um poema chocalho
em notas sujas
e cheias
juntas
um poema-marca
que faça sentido a quem
mexeu
mobilizou
que faça chorar
quem a muito tem amarrado uma vontade
uma confissão oculta
de jorrar todas as pedras
reunidas no meio do corpo
em líquido salgado
torrente que liberta
quero um poema
com uma camada de vento
e brisa
para respirar as ventanas
de quem precisa de mar
nos ouvidos
para aqueles que desejam
se encher
e se esvaziar
quero um poema que aja
como um grão de areia
grudado entre os dedos do pé
permanentes até a terceira saculejada
que coce
afete
trema
um poema chocalho
em notas sujas
e cheias
juntas
um poema-marca
que faça sentido a quem
mexeu
mobilizou
ou cortou
algo em si
um poema que leia
o olhar vedado
de um sonho
que esperou muito
para acontecer
e ainda está
uma poesia que dissolva entre os membros
do corpo
uma poesia que tenha pernas
próprias
uma poesia que dissolva entre os membros
do corpo
uma poesia que tenha pernas
próprias
que ande sempre
que nasce
cresce
reproduz
e reproduz
sempre
que console um desespero
que molhe as retinas gastas
que refresque a pele
e acene com alegria
e asas
todas as
chagas
redemoinhos
e escancaros
presos na memória
presos na memória
um poema que cure
a falta
que aceite a morte
que ensine a vontade
que seduza o paladar
que acalme com duas mãos
quentes
uma grande dor
que traga um copo
de esperança
para quem precisa
permancer
que distribua senhas
infinitas
para os que pedem socorro
para viver
foto sobre o trabalho de Pina Bausch
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